19 abril, 2007

José Luís Peixoto




Cemitério de pianos

“Minto até te dizer que te minto”, ainda não li e não conheço ainda a faceta irónica e humorista de José Luís Peixoto, aliás, li muito pouco dele… leio por vezes o seu artigo no Jornal das artes e letras … o primeiro livro dele, amplamente divulgado, e agora o “Cemitério de Pianos”. No entanto o nome dele fica sempre retido na minha memória. Poucos mas bons!
Este jovem escritor ganhou o prémio Saramago com o romance ”Nenhum olhar”, o tal livro que li. Nessa obra todos percebemos, que surgiu no meio literário um homem, ainda rapaz, que irá ser um escritor com letra grande.

E de facto!
A capa desse livro penso que é desenhada por Paula Rego, e tem tudo a ver.
Eu confesso, não aprecio um pequeno grande pormenor da pintura de Paula Rego, … é aquela coisa de desenhar as mulheres sempre com um rosto de retardadas mentais… tirando isso, acho que ela é fenomenal a representar as diversas realidades do mundo, a miséria, os dramas humanos, muito especificamente os dramas mais ligados às vivências das mulheres – numa outra ocasião falarei disso.
E porque eu entendo que tem tudo a ver? Porque considero que José Luís Peixoto será a Paula Rego das palavras. Ainda é jovem, mas disputará brevemente, lugares cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, de igual para igual com Lobo Antunes e outros. Em todo o trabalho criativo é necessário o amadurecimento, para consolidar uma tendência, um estilo, um lugar de destaque, em que os leitores cada vez esperarão mais e mais.
Lobo Antunes tem 60 e tal anos, o José Luís deve ter perto de 30, ainda tem muito que nos oferecer.
O que me agrada no José Luís? Quando o leio fico perturbada. A forma como ele descreve certas misérias da vida real, é tão profunda, e desprovida de certo modo, de qualquer embelezamento visual, chega a ser um pouco surreal, mas mexe muito connosco. Retrata as fragilidades, as fraquezas humanas e ao mesmo tempo, consegue construir simbolismos que cada um de nós descodifica por analogia com as vivências pessoais. As suas palavras por vezes são cruéis, frias, fortes, densas, e no entanto são simples.
O que ele escreve provoca-me angústia, mau-estar, exactamente como muitas obras de Paula Rego.
José Luís Peixoto tem um grande talento para a escrita, e a prová-lo está a estrutura que ele inventou para contar a estória dos pianos: requer alguma atenção, pois o papel de narrador é partilhado alternadamente entre pai e filho, desempenhado em tempos diferentes ou não, mas com continuidade na leitura, numa sobreposição paralela, do real com o sobrenatural de alguém que vive a mesma estória, tecida numa série de fios que são as relações humanas e familiares. Agrada-me este jogo inventado pela escrita, que poucos escritores o conseguem fazer de forma brilhante. Qualquer romancista consegue contar uma estória; inventar uma estrutura invulgar, que suporte e apoie toda a estória, por forma a torná-la unica e inesquecível é o que poderá distinguir um grande escritor. Este passou a ser importante na minha vida. Não sou pessoa de ler e reler a mesma coisa, assim esgotarei toda a obra e depois resta-me aguardar pacientemente o próximo livro.

2 comentários:

Anónimo disse...

José Luis Peixoto. Chegou-me por aconselhamento teu. Por um acaso, estava mesmo ao meu lado, pronto a ser consumido. Confesso que vou na pág.50, num total de 90, portanto fácil de digerir. O livro desvenda-nos, como dizes, caminhos de humor e da ironia, este "Minto Até Ao Dizer Que Minto". Trata-se de um escritor diletante que cria um jogo literário em que a ficção se mistura com a autobiografia e a mentira se disfarça sob a capa da verdade. O enredo em prosa passa-se em Lisboa, em Agosto, povoada apenas por turistas.
Disponho tempo suficiente para ler dois livros em sintonia e, é o que estou a fazer. Este fim-de-semana penso concluir um deles. Um dos dois. Estou ansioso pela troca, amiga Anabela.
Gostei que zelasses pela divulgação do teu livro. É novidade. A escrita é fluente, visa o quotidiano real das pessoas, fugindo para o "intelectual" que consegue, em minha modesta opinião.
Com imenso respeito e consideração a ti, minha cúmplice das leituras e dos seus encantos e novidades
Beijos respeitadores
pena

Anónimo disse...

Tambem leio o JL Peixoto no jornal das letras. Acho que na ultima edição, tinha um texto bem insólito.
Mª João