18 janeiro, 2017

Decidi-me

Decidi-me
                Inicialmente, pensei não escrever a respeito, já que Soares não reúne todos os meus parâmetros para o considerar um herói; surgem-me na memória outros mais qualificados, o que não quer dizer que não tenha sido uma personalidade portuguesa de grande destaque e um anti-fascista que merece o meu respeito. Após ter observado o muito do que se publicou nos meios de comunicação social e especialmente nas redes sociais, decidi-me.  
                Capas de revista, 1ªas páginas dos jornais, exibiram as fotografias de Soares, preferencialmente de várias décadas atrás. Os programas televisivos dedicados ao futebol, que lotam as noites de segunda-feira, e que me fazem doer a paciência, foram adiados ou resumidos, pois falar de Mário Soares teve prioridade nos primeiros dias após a sua morte, suponho preparada. No facebook cada um publicou ou partilhou algo sobre o tema, bitaites, escrita escorreita, likes e deslikes,…           li muita grosseria e muito elogio exagerado, palavras que oscilaram entre os extremos, a paixão inflamada e o ódio requentado -  intervenções politicamente correctas, depoimentos estilo cobardolas, senhoras a desfazerem-se em lágrimas como se tivessem grande intimidade com o nosso ex-presidente da república, flores em grinalda e uma cerimónia nos Jerónimos bem concebida, sóbria e de bom gosto. Não percebi a charrete puxada a cavalos, no século XXI...
                Alguns aproveitaram para exibir ódios antigos, exteriorizando insultos e má educação, sem qualquer tipo de filtro, dando visibilidade a muita ignorância, ressentimento e deselegância. Tiveram todos os dias de vida de Mário Sores para vomitarem os seus ódios, dispensáveis na sua morte e nos momentos de luto dos que lhe são próximos.
                Li também elogios rasgados e inesperados, vindos de adversários políticos. Apreciei.
Percebi que a maioria dos portugueses colou a democracia a esta personalidade, principalmente a grande família socialista. Chamam-lhe Pai da Democracia, esquecendo-se que houve muitos pais e muitas mães igualmente importantes, alguns caídos no Tarrafal.
                A morte de Soares abriu novamente as mesmas feridas que ainda, ou nunca serão saradas, sobre a descolonização. Aquela ideia que a nossa sociedade conseguiu, com inteligência e com tolerância, integrar os regressados do ultramar, possui também muitas fracturas, muita dor, muitos dramas, que alguns ignoram e outros querem esquecer, disfarçados pelo tempo, que corre rápido, bálsamo da vida e das consciências, grande aliado do esquecimento. No processo de descolonização inevitável, as pessoas foram esquecidas, tanto os portugueses nascidos deste lado, como do outro, mesmo os socialistas que também os havia… há ainda muita história para desbravar e registar, muitos silêncios que teimam em queimar a dignidade humana, muitos dissabores que prevalecem e alguma dignidade a resgatar.
                … e muitos esquecem que o europeísta que tanto admiram, meteu várias vezes o socialismo e o humanismo na gaveta. Nunca foi fácil agradar à direita e à esquerda, a gregos e a troianos e o fio da navalha brilhou diversas vezes.
                Confirmei mais uma vez, que os regressados das ex-colónias nunca lhe perdoarão a infeliz resposta à pergunta sobre o processo de descolonização:
                - O que se há-de fazer a esses brancos?
                - ATIRÁ-LOS AOS TUBARÕES! (resposta atribuída a Mário Soares)
                Nunca se provou a veracidade desta afirmação e também, quanto eu sei, o próprio nunca a desmentiu, apesar que não imagino Mário Soares a autorizar tamanha barbaridade.
                Talvez Soares tivesse sido herói, se não tivesse co-existido com várias outras personalidades, grandes lutadores anti-fascistas e amantes da liberdade,… alguém comparou os funerais de Cunhal e de Soares. Pois!!!! Este último parece que teve tudo, menos gente. Cada um que conclua.

                Muitos portugueses tiveram sapos para comer e eu comi o meu, direitinho sem hesitar. Mesmo com os tubarões lá no passado do mar alto… respirei fundo, fechei os olhos, apertei o nariz e engoli…  depois tomei um kompensan! Mal por mal…

Publicado em NVR  !8/01/2017

03 janeiro, 2017

O PARAÍSO

Como será o paraíso?
A maioria dos pintores imaginam-no e representam-no à semelhança da natureza do planeta Terra... o mundos animal, vegetal e mineral em consonância equilibrada. 
Para observar, reflectir e partilhar.

 Rubens
 Anónimo
 David Miller
 Chagall
 Firebolide
 El Bosco
 Peter Wenze
Gauguin
 Miguel Ângelo
Fátima Jorge
Tintoretto
Juan Sanchez