14 março, 2024

Albert Einstein


 Albert Einstein 

Nos anos 60/70 vi pela primeira vez uma foto de Albert Einstein… essa, exactamente, que o leitor imagina, aquela da língua de fora. Pareceu-me um velho doido a fazer uma careta debochada, e despertou-me curiosidade para tentar ler alguma coisa acerca do cientista, que eu pensava ser um senhor vestindo fato com gravata, super-focado na sua Teoria da Relatividade.

A foto não foi obtida no seu laboratório, foi tirada no dia 14 de Março de 1951, quando saía de uma festa realizada num clube privado frequentado por ex-alunos, professores e pesquisadores da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, no 72.º aniversário do físico.

Parece que Einstein já estava cansado de ser alvo de vários fotógrafos, e ao retirar-se, o fotógrafo Arthur Sasse tentou registar um último sorriso do físico que fez uma das caretas mais famosas da História, enquadrando um bigode branco e cabelos da mesma cor e desalinhados.

Einstein que tinha uma personalidade multifacetada e com sentido de humor, gostou do registo, pediu várias cópias da foto à agência de notícias, para oferecer aos amigos, assinadas pelo próprio. Einstein morreu após quatro anos. Uma das fotos foi leiloada em 2017 por 125 mil dólares. As fotos viraram cartões postais e posters para decorar as paredes dos quartos dos jovens, lado a lado com as imagens icónicas das estrelas pop, Mick Jagger, Jimi Hendrix e Madona, numa mistura geracional sem grande sentido, apenas com a irreverência em comum.

  • A vida de Einstein foi muito mais complexa do que por vezes imaginamos. Ao celebrar a data do seu aniversário, partilho aqui algumas curiosidades:
  • Só começou a falar aos 3 anos.
  • Apesar dos pais se preocuparem com as suas capacidades cognitivas, Einstein escreveu o seu primeiro artigo científico aos 15 ou 16 anos.
  • Era bom aluno a Física e mediano a Matemática, algo que não se entende muito bem.
  • Licenciou-se e durante 10 anos não conseguiu arranjar trabalho na sua área e foi trabalhar num escritório, como examinador de patentes.
  • O filósofo francês Henri Bergson foi um dos seus grandes inimigos.
  • Quando ganhou um Nobel, em 1921, não foi premiado pela Teoria da Relatividade, mas pelos seus serviços relacionados com a Física Teórica.
  • Quando Adolf Hitler subiu ao poder, Albert Einstein, que era judeu e vivia em Berlim, ficou desempregado; receando a perseguição nazista, fugiu para os Estados Unidos e nunca regressou à Alemanha.
  •  Einstein chegou a ter dupla nacionalidade.
  • Em criança detestava as aulas de violino, porém, em adulto, de madrugada, tocava violino com frequência, enquanto pensava nas suas teorias. O seu violino chamava-se Lina.
  • Era pacifista, porém, os seus estudos sobre matéria e energia foram utilizados pelo governo americano para criação da bomba atómica.
  •  Refletiu muito sobre os temas de educação, dando vários conselhos sobre como se deve educar os jovens. Contra o ensino estruturado na memorização, considerava a curiosidade e a imaginação muito mais úteis na formação académica.
  • Em 1952 foi convidado para ser presidente de Israel, e recusou.
  •  Considerava que a monogamia não era natural.
  •  O cérebro de Albert Einstein foi roubado por um patologista que participou da sua autópsia.
Publicado em NVR, 13/03/2024
 

08 março, 2024

ESTRELA NOVAIS



 Na minha breve passagem pelo TUP, teatro Universitário do Porto, onde não aqueci lugar, no final da década de 70, porque de facto desagrada-me a ansiedade implícita na representação, conheci Estrela de Novais da Seiva Trupe. Um pouco mais velha do que nós (grupo do TUP), já tinha um grande destaque entre os amantes da arte de representar. Era uma jovem discreta, lindíssima com um sorriso maravilhoso. Possuía uma beleza extraordinária, com luz própria da juventude, e inesquecível. Nessa época eu achava que ela era a mulher mais bela do mundo artístico da cidade do Porto, segura e determinada. Quando subia ao palco, tornava-se poderosa, com uma colocação de voz fabulosa. Sempre a acompanhei pela comunicação social e penso que nunca mais me cruzei com ela, depois da década de 80. Mais tarde apareceu nas novelas, já madura, mas ainda denunciando a sua voz coloquial, que a destacava em cima do palco.

Hoje estou triste com o seu desaparecimento. Adeus Estrela.

Descer ao ponto mais baixo da dignidade


 

06 março, 2024

ROCK DA LIBERDADE


 LETRA: António Pedro de Vasconcelos

https://www.youtube.com/watch?v=KtjZNllPBzo

Era mãe, esposa e dona-de-casa

          

            Era mãe, esposa e dona-de-casa 

Era mãe, esposa, dona-de-casa e mais nada. Obedecia e anulava-se num compromisso sem sentido, com a vida e com os outros.

Mãe doce e bondosa, sobre a qual cabia toda a responsabilidade do mundo na educação dos filhos; esposa dedicada, propriedade do marido, fêmea sempre disponível para este, sempre, sempre submissa e dominada, entre marido e mulher não metas a colher… com sorte não era agredida e sempre se colocava no nível inferior, se possível sem opinião e invisível; dona-de-casa, dona entre aspas, porque realizava todas as tarefas de casa para bem servir o marido e os filhos, na verdade, não era dona de nada, nem do seu próprio nariz, porque se o marido a agredisse, havia sempre uma justa causa a favor dele.

Este era o retrato da maioria das mulheres antes do 25 de Abril. A mulher ficava sempre num plano inferior na sociedade e na família.

Se os filhos fossem problemáticos, a culpa era da mãe, se os filhos fossem inteligentes, puxavam ao pai.

A mulher vivia oprimida e com uma atitude de absoluto conformismo, porque a alternativa era ficar solteira, a trabalhar para os pais ou para um irmão, contribuindo para a sua fortuna. Fazer formação e trabalhar, eram situações muito condicionadas e exploradoras da condição feminina. Era difícil ser autónoma e independente, porque as leis não a protegiam, nem a consideravam. Não constituir família era estar à margem da sociedade que tinha como modelo “Deus, Pátria e família”, lema do Estado Novo.

            A mulher não tinha direito de voto, a mulher não tinha possibilidade de exercer nenhum cargo político. As raparigas tinham acesso limitado à educação e a certas profissões.

Para parecer que se contrariava a discriminação das mulheres, exaltava-se a função da mulher casada: o governo doméstico, no meio dos tachos e das panelas, mas a autoridade pertencia inequivocamente ao homem, denominado chefe de família.

O divórcio era proibido, todas as crianças nascidas de uma nova relação, posterior ao casamento, eram consideradas ilegítimas. A mulher ou dava à criança, filha de outro, o nome do “marido” ou recorriam aos próprios pais para registarem os seus filhos, para lhes dar nome. Era completamente inviável dar o seu nome e o do marido/companheiro actual gerando situações confrangedoras e humilhantes sobretudo para a mulher.

Às mulheres era vedado o acesso a algumas profissões, até se dizia à boca solta, as profissões para os homens e as profissões para as mulheres. A engenharia era para os homens, as letras eram para as mulheres, como se o raciocínio fosse privilégio dos homens. Todas as profissões que exigiam grandes responsabilidades eram para os homens. A magistratura, a diplomacia e a política são apenas alguns dos exemplos de sectores profissionais a que a mulher não podia aceder. Perante as mesmas profissões a mulher era sempre discriminada ao nível salarial e de promoção profissional.

As profissões que exigiam ausência da mulher por algum tempo junto da família, hospedeiras de bordo e enfermeiras, eram vedadas às mulheres casadas. As mulheres casadas não podiam mexer no património do casal e não podiam viajar para o estrangeiro sem ter autorização escrita do marido. As professoras tinham que pedir autorização ao Estado para casar, exibindo prova de que o possível marido, teria um ordenado superior ao delas. No mundo laboral, o marido poderia impedir que a sua esposa trabalhasse e exigir o despedimento desta.

Os namoros tinham que ser autorizados pelo pai das raparigas. Educação sexual não existia, falar sobre sexo era proibido ou feito às escondidas, uma rapariga não chegar virgem ao casamento era o desastre total e uma desonra, um rapaz chegar virgem ao casamento seria motivo de gozo e falta de masculinidade.

O corpo escondia-se e desconhecia-se, inserido numa falsa moral moldada sempre contra a mulher.

Em tudo descrito, havia excepções devido à permissividade de alguns homens ou cumplicidade e companheirismo, por parte de outros na luta pela igualdade.

Como nota final e considerando o Dia Internacional da Mulher em ano em que se comemora os 50 anos pós-abril, refiro a obra “Novas cartas portuguesas” publicada em 1972 pelas escritoras portuguesas Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa e imediatamente confiscada pela censura. As autoras ficaram conhecidas internacionalmente como “as três Marias” e esta obra revelou ao mundo a existência de situações de grande discriminação em Portugal, relacionadas com a repressão da ditadura, a cumplicidade da Igreja, e a condição da mulher (casamento, maternidade, sexualidade feminina).

Era mãe, esposa e dona-de-casa, era tudo isso e mais nada. Obedecia e calava.

Em 1975, depois da revolução, os direitos das mulheres ficaram consagrados na Constituição da República. A luta continua.

Fotografia – Eduardo Gageiro

Publicado em NVR, 06/03/2024



02 março, 2024

ANTECIPANDO

 URH Hotel Spa Zen Balagares




Avenida de los Balagares, 34, 33400 Overo, Espanha


29 fevereiro, 2024

28 fevereiro, 2024

ANITA E O ANO BISSEXTO

 


Anita e o ano bissexto

 

Estamos em ano bissexto. Este mês tem 29 dias, mais um para trabalhar.

O ano bissexto serve com frequência para fazer humor, porque quem nasce neste dia, só terá o seu verdadeiro aniversário a cada 4 anos, o que fica económico para a família e amigos, e é decepcionante para o aniversariante, que só recebe presentes de 4 em 4 anos. Depois de certa idade, quando o cabelo grisalha, uns já têm bigode chinês, pés de galinha e código de barras, todos gostaríamos de ter nascido no 29 de Fevereiro, porque nos daria a certeza legítima, comprovada pelo CC, que não envelhecemos tão rápido.

A contagem do tempo é uma necessidade, para cada um de nós e para a sociedade, porém, é uma necessidade unívoca, o tempo está-se a marimbar para nós, nunca para e é-lhe indiferente a contagem e os anos bissextos.

O GRANDE ARQUITECTO deveria estar naqueles dias do tanto faz, cansado de criar tanta coisa, concebeu o tempo sem fornecer manual de instruções, e depois esticou-se no sofá celestial a apontar o dedo para o infinito, pose parecida com a retratada por Miguel Ângelo.

Os anjinhos papudos questionaram-no:

- G. A. o tempo está criado, desde que foi criado o universo e agora? Como se organiza algo invisível e tão volátil?

- Tudo eu?! Tudo eu?! Bastou-me criá-lo, agora entendam-se, deixo ao critério dos humanos. Sou atemporal, não me vou ralar com isso, agora vou descansar, pois já terminei o meu acto de Criação. Quem se sentir incomodado que o organize.

            - Então como se vai desenhar a barra cronológica da vida do Homem? Como saberemos se os relógios da vida batem certo? Onde colocaremos a Revolução Francesa, o nascimento do Messias ou o Homem do Neolítico? Os Humanos vão baralhar tudo, solicitamos pelo menos um desenho IKEA (Ignorância Kombatida com Esquema da Aprendizagem).

- Problema vosso…fui!

Para Adão e Eva, foi simples, houve apenas 2 tempos: Antes da maçâ e depois da maçã – um sistema binário do tempo.

Depois, foi correr atrás de soluções. Sumérios, Egípcios, Chineses, Maias, Judeus, Muçulmanos e Romanos, todos eles tentaram resolver o problema porque muitos chegavam tarde ao trabalho, a idade dos filhos era pouco rigorosa, gerando problemas para saber quanto deveriam entrar para os infantários, o tempo de festejar os equinócios batia sempre errado, e até era complicado agendar os dias certos para começar e terminar as guerras. Uma chatice! ainda não havia net e todos desconheciam que todos andavam à procura do mesmo: a organização do tempo. Fizeram-se milhares de contas, teses de mestrado, doutoramentos, ajudados pelos ciclos da noite e do dia, da luz solar e da vela e sempre referenciados pela Lua, que também parecia brincar com eles, ora gorda, ora magra, ora invisível.

Nós, neste lado do mundo, levámos com o calendário inventado pelos Romanos; não foi fácil, depois de milhares de contas, sobravam sempre 6 horas em cada ano, para grande frustração destes. Copiavam anfiteatros gregos, inventavam coliseus, pontes e aquedutos, mas eram incapazes de resolver o calendário, devido a umas míseras 6 horas. Repetiram-se contas, e as 6 horas continuavam, e não dava jeito nenhum criar um dia com apenas seis horas, porque isso significaria baralhar o Sol e a Lua, o sono das crianças e os horários dos hipermercados.

O Calendário criado em Roma no século VI foi aprovado 10 séculos depois – não nos podemos queixar da demora da aprovação do local do novo aeroporto de Lisboa. Levaram 10 séculos para resolver as 6 horas a mais.

No século XVI, o Papa Gregório XIII (Ugo Boncompagni), conhecido como bom mediador de conflitos, deu um murro na mesa e disse:

- Alto e para o baile, vamos resolver definitivamente o problema das 6 horas, já estou farto disto!

Reuniram-se os especialistas mais descomplicados da cabeça e nasceu finalmente o primeiro “Compendium”, contendo a proposta dos anos bissextos, que constava na ideia simples de juntar as 6 horas acumuladas em 4 anos, ao fim de 4 anos, adicionando mais um dia no calendário, resultando nesta conta dificílima, 6  horas x 4 anos = 24 horas – enigma resolvido que passou a denominar-se por Calendário Gregoriano, hoje utilizado em quase todo o mundo.

Para os que ainda não entenderam como saber se o ano é bissexto, façam a seguinte divisão: escrevam o ano como dividendo, as 6 horas no divisor, os 4 anos no quociente, e depois é fazer as contas, se der resto zero, significa que é ano bissexto, se não der, não é:

- Não percebeste as contas? Estudásses!

Publicado em NVR, 28|02|2024