30 agosto, 2022

Escada de Libraires

 


Escada monumental e delicada localizada no transepto da Catedral de Notre Dame de Rouen. Conhecida pela "escada de Libraires", porque dava acesso à biblioteca.

Linda e delicada, executada em duas fases que são visíveis - 1479 e 1788.


27 agosto, 2022

Felizmente o mundo é grande

 


Imagina um neurótico sempre mal disposto, sempre com uma azia mental crónica…

Imagina um neurótico sempre a gritar, porque nunca aprendeu a falar baixo, nem a respeitar os outros, muito menos a valorizar.

Minha kamba imagina um neurótico sempre a neuróticar como se o mundo todo lhe fosse desabar em cima sem lhe pedir licença…

Fazer o quê?

Já não aguentas ouvir, nem olhar, já nem o queres ver pintado de ouro. Já panicas e queres ir embora por esse mundo fora para fugir aquele descontrole tóxico, várias vezes avisado e intimado. Já não vives o interesse, muito menos a admiração, o respeito e a tolerância esgotam-se

Quando já se te exagera na sobrecarga, vestes o silêncio da cabeça aos pés, soltas a liberdade e vais por outro caminho, criando condições para a tua sanidade mental. Para fora do teu quintal, o mundo está cheio de caminhos menos gritantes, com menos neuroses e mais assertivos contigo e com os outros. Felizmente o mundo é grande.

In Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado – Anabela Quelhas 


26 agosto, 2022

Deslizar no teu olhar

 


Decidi deslizar no teu olhar. Cidade de muito olhares urbanos, com asfalto e terra vermelha, que dá vontade de deslizar. Peço emprestado carrinho de rolamentos lá nas Ingombotas para ninguém me xingue se deveria ser assim ou assado. Há sempre um assado, em terra de churrasco, que vira maka no calor da discussão. Visto os calções brancos, calço os meus quedes, solto o cabelo ao vento que me chega do lado da Corimba e coloco os óculos fumé. Escolho o sítio do teu olhar onde vou iniciar esta aventura. Já nem oiço a voz dos outros kandengues:

- Força Jopilinha, tu consegues.

Mal paro no teu olhar já estou seduzida e enfeitiçada para te deslizar e te guardar o resto da vida.

In Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado – Anabela Quelhas

24 agosto, 2022

Mercúrio e Ceres


 Escultura alegórica da frontaria do Mercado do Bolhão.

O Mercado do Bolhão é um dos mercados mais emblemáticos da cidade do Porto.
O seu edifício é de arquitetura neoclássica.

Este pormenor escultórico é um frontão com  brasão ladeado por esculturas de pedra – esculturas clássicas de Mercúrio e Ceres, divindades que simbolizam o comércio e a agricultura.

22 agosto, 2022

20 agosto, 2022

O elefante


 Te disseram que o elefante, depois da baleia, é o animal mais pesado do mundo. Mamífero grande, o verdadeiro rei da selva que come apenas ervas, ramos e raízes.

Te imaginas no balancé fazendo a experiência, vais colocando do outro lado, o elefante, depois o porco, a galinha, e o balancé não mexe, acrescentas o cabrito, a vaca e o arbusto do fundo do quintal e o balancé fica igual, inclinado para o teu lado.

Descalças os sapatos, desvestes o casaco e os anéis, para te aliviar o peso.

Sofres de distância, desconsegues despir a tristeza alojada no teu coração e a solidão que dorme no teu olhar... e o elefante lá na parte de cima do balancé aguardando-te.

In Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado – Anabela Quelhas

18 agosto, 2022

O tempo é uma roda gigante


 O tempo é uma roda gigante que nunca passa no mesmo lugar.

Para voltar para trás só mesmo embarcando na memória e na imaginação que são outros carrosséis da vida, mas que já dá para sair da “girafa” e andar cambaleante no sentido contrário. Oiço à distância os meus amigos dizendo, cuidado vais cair e bater com a cabeça e o chão sempre ondulante me convida à queda. Enquanto isso não acontece lembro da minha adolescência, dos banhos na Ilha vestindo o biquini cortado nas jeans coçadas, das matinés no cinema Império, do prego no Bar América e o meu sono embalado no som do kisanji. Lembro-me de ti, mesmo sabendo que não existias na minha vida, sempre estiveste lá, me convidando para dançar um slowzão do Percy Sledge. Me lembro de ser feliz. Olhava dentro de mim e sentia que o tempo passava com a velocidade certa. Dava tempo para brincar, para estudar, ler os livros de cowboys, de xingar os outros e rir no fim como se todos os dias fossem aquele hoje plantado em terra vermelha.

in Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado - Anabela Quelhas

17 agosto, 2022

Botero, Armanda Passos e Ada Breedveld

 

Botero, Armanda Passos e Ada Breedveld

 

Nós, mulheres estamos sempre super-preocupadas com os quilos a mais, a celulite e badanas dos braços, que se tornam mais visíveis no Verão e a cada ano que passa… andamos sempre a fazer restrições alimentares, olhando para a balança regularmente… inventamos e reinventamos dietas, para começar amanhã ou na segunda-feira, e não resistimos à tentação de uma boa mousse de chocolate… praguejamos contra os pasteleiros e contra as “gajas” magras que dizem que comem o que querem,… percebemos todos os dias que a nossa roupa encolhe dentro do armário, e tentamos disfarçar com roupa ergonomica, que faz crer que somos mais magras, e já vestimos o tamanho S quando éramos adolescentes… receamos não agradar por causa da barriga de avental e todos os elementos que cedem à força da gravidade…

Reparem, nem todos pensam igual e quem representa com maior realismo e exuberância o corpo da mulher, os artistas plásticos, raramente a desenha esquelética com 45 quilos de fome.

Há uma linha de “gordura é formosura” na pintura, que já está para lá dos anjinhos barrocos rechonchudinhos e convivem lado a lado, nestes últimos anos, com o estereótipo da mulher magra e elegante, que nos faz quase cortar os pulsos.

A obesidade é retratada com rigor e graça por Fernando Botero (colombiano nascido em 1932), inspirado sem dúvida no Renascimento, contraria toda a estética do século XX, com as suas gordinhas conhecidas mundialmente, ousando até recriar a Mona Lisa, senhora retratada por Leonardo e que não se excederia nas guloseimas. Botero sempre que era questionado pela sua opção pelas gordas, respondia “Eu não pinto pessoas gordas!” entendendo-se assim que seria uma opção estética que lhe agradava e onde investia, conforme Modigliani as pintava magras e Picasso, decompostas. O Boterismo (um nome a fixar, quando nos atirarem com a revista Vogue e com Kendall Jenner) arredonda a forma em gordura, tamanho e refegos e está exibido nos melhores museus do mundo.

Na mesma linha, considero Armanda Passos (1944-1921), a nossa pintora duriense, convertia as suas gordas 5XL em mulheres de grande candura e delicadeza, e a pintora holandesa que descobri recentemente, Ada Breedveld (1944), escolhe exactamente o caminho das rechonchudas, por considerar que representam o desfrutar das coisas boas da vida. 


Tanto Botero como Ada tornam visível nas pinturas um lado naif que não identifico em Armanda Passos, que nada fazia ao acaso.

Proponho este exercício em pleno Verão, acabe com a gordofobia e aprecie o feminino sem estereótipo de forma e volume, porque é muito mais interessante a beleza interior de cada um, que não se exprime pela forma, mas sim pelo conteúdo.   

Os padrões da estética como se percebe vão-se alterando conforme a moda, e esta é tão efémera que muda de seis em seis meses. Amem os seus corpos, independente da forma deles e permitam-se apreciar um bom gelado de chocolate para combater estas horas de calor infernal. E afinal o que distingue uma linha recta de uma curva? A linha curva é muito mais dinâmica e flexível, menos monótona no seu traçado, e no máximo do desespero a recta, no final das contas, é uma curva também. Lembre-se que toda a linha recta sempre tem inveja da linha curva porque a vida não se faz de rectas, mas de curvas. 

Publicado em NVR em 17/08/2022

16 agosto, 2022

Retrato


 Bratislava 2017

Alte de Iludir


 Arte de iludir

Bratislava

Eslováquia

15 agosto, 2022

10 agosto, 2022

TURISMO ESPACIAL, NÃO OBRIGADA

 TURISMO ESPACIAL, NÃO OBRIGADA

Nós terráqueos temos tantos problemas cuja solução depende de investimentos a aplicar e o que fazemos? Aplaudimos o Turismo Espacial, todos orgulhosos porque finalmente temos um português integrado nesse turismo. Somos mesmo bacocos, jornalistas inclusive!

Vejam isto:

         Em 2018, todos os voos de aeronaves contribuíram com cerca de 918 milhões de toneladas de CO2, enquanto os foguetões emitiram cerca de 22 780 toneladas de CO2, ou seja, 0,0025% de toda a indústria aérea. Não parece mau, visto assim superficialmente, porém é necessário mudar de perspectiva na respectiva análise. Os 918 milhões de toneladas de CO2 alimentaram durante um ano, todos os voos, imprescindíveis para as trocas comerciais e migração das populações, que se reflectem na sobrevivência e no bem-estar da população mundial. Nós somos cerca de 7,3 mil milhões de habitantes que gastaram 918 milhões de toneladas de CO2 – ora façam contas.

         Podemos divagar sobre a especificidade de todas estas viagens, que mexem com todas as áreas da vida na Terra – economia, ciência, política, social, lazer, etc. etc.

         Quem faz turismo espacial? Humanos excepcionalmente ricos, sem qualquer objectivo científico, que se prendem com a própria experiência, para verem o planeta terra do espaço e a ausência de gravidade. Ahh, levaram uma plantinha com eles para ver como resistia à falta de gravidade e claro o nosso português foi testado com Vomidrine, contra o enjoo e a náusea (brincadeira, nem isso). Voltando aos números e fazendo bem contas sobre o custo e o benefício, talvez surja preocupação sobre as 22 780 toneladas de CO2.

         A informação que nos chega é desorganizada e dispare, e eu não estou lá para aferir: “O lançamento de um foguetão produz cerca de 200 a 300 toneladas de dióxido de carbono, devido à queima dos combustíveis, e pode ter implicações graves na proteção da camada de ozono”.

Em 2020, foram realizadas 114 tentativas de lançamento orbital no mundo, segundo a Nasa, o que equivale a uma média de mais de 100 mil voos diários no setor da aviação comercial. Mesmo que o número de lançamentos não aumente significativamente, os seus efeitos negativos causarão impacto.” “quatro turistas num voo espacial serão entre 50 e 100 vezes mais do que uma a três toneladas por passageiro num voo de longa duração”.

https://visao.sapo.pt/visao_verde/2021-07-24-como-a-corrida-ao-espaco-pode-ser-muito-prejudicial-para-o-ambiente/

         “Cada viagem ao espaço emite 75 toneladas de carbono, um valor que a maioria das pessoas numa vida inteira não atinge.” (pplware)

“um único passageiro emite mais poluição em poucos minutos do que 1/8 da população mundial irão produzir em toda as suas vidas”. (Luke Savage).

         Cada fonte de informação indica valores distintos, podendo concluir-se que isto anda sem controle, o que revela uma problemática ainda pior. Quando a escala passa a toneladas e a milhões, deixamos de ter a percepção racional para avaliar, tudo é possível e provavelmente aceitável, sabemos lá!

         Cada um faz o que quer ao seu dinheiro, mas isto tangencia a imoralidade por não se pensar nos outros. US$ 6,6 bilhões, segundo a ONU, acabaria com a fome no mundo.

         Querem emoções fortes, querem ver o planeta terra reforcem os drunfs e até conseguem ver o sistema solar inteiro e é mais barato, menos poluente, menos arriscado, e com o resto do dinheiro, resolvam a fome do nosso planeta.

         Querem emoções ainda mais fortes, vão limpar os oceanos, vão ao dentista e não usem anestesia e poderão ver galáxias.

Depois andamos a dar destaque ao ano das cidades mais verdes, promovido pelo Parlamento Europeu… e obriguem-me a mudar de viatura, para adquirir um híbrido!

Publicado em NVR em 10/08/2022



07 agosto, 2022

Apenas temo a própria vida

 

Na vida

Apenas temo a própria vida.

Faça tudo direitinho

faça loucuras,

travessuras

e ela passa.

Insisto em dar-lhe cor,

com diálogos francos e verdadeiros.

e ela vai sem olhar para trás.

Nem sempre estamos de acordo

e o meu desagrado

manifesta-se no meu sobrolho carregado

e ela oferece-me a sua indiferença.

Apenas temo a própria vida

que pode transformar o voo de uma borboleta

numa tempestade,

o salto de um felino,

num terramoto,

um sorriso, num beijo eterno.

AQ


VALE DO LOIRE, BRETANHA E NORMANDIA

 07/13 de agosto de 2022

1º DIA · PORTO OU LISBOA (AVIÃO) – ORLY – ROUEN

Comparência no aeroporto escolhido para embarque em voo com destino a Orly. Chegada e partida em direção a Rouen.

Visita ao centro histórico da capital da Alta Normandia, com destaque para a Catedral, as casas debruadas a madeira, a rua do Grande Relógio e a Praça do Velho Mercado, local de martírio de Santa Joana d’Arc. Jantar. Alojamento no Hotel Mercure Rouen Centre Cathédrale 4*




2º DIA · ROUEN – ABADIA DE JUMIÈGES – HONFLEUR – CAEN

Saída para visita às ruínas da Abadia de Saint-Pierre de Jumièges, um grandioso exemplo da arquitetura românica na Normandia, abandonado entre os séculos XVIII e XIX, dando origem às ruínas que hoje podemos observar. Saída para Honfleur, pequena cidade marítima, com ruas pitorescas e casas antigas, que conserva o seu porto de pesca.

Continuação para Caen e visita panorâmica à capital da Baixa Normandia. Jantar. Alojamento no Novotel Caen Côte de Nacre 4*.



3º DIA · CAEN – PRAIAS DO DESEMBARQUE – ARROMANCHES – BAYEUX – CAEN

Partida para a zona das Praias do Desembarque até ao Cemitério Americano. Passagem pela costa onde desembarcaram grande parte das tropas aliadas em Juno Beach e Gold Beach. Paragem em Arromanches, onde se pode observar os restos do porto artificial criado pelas tropas que fizeram parte do desembarque do “Dia D”. Visita ao Museu do Desembarque. Continuação para Bayeux. Visita ao Museu da Tapeçaria, onde se encontra a famosa Tapeçaria de Bayeux, com quase mil anos de existência e classificada pela UNESCO como Memória do Mundo. Regresso a Caen.

Jantar. Alojamento.

4º DIA · CAEN – MONTE SAINT-MICHEL – SAINT MALO

Saída para o Monte Saint-Michel. Visita à “Maravilha do Ocidente”, local de rara beleza, Património da Humanidade da UNESCO. Com as suas íngremes e pitorescas ruelas e Abadia, é um monumento único, cuja conceção não pode ser comparada à de nenhum outro mosteiro. Almoço. Continuação para Saint Malo. Visita à cidade dos corsários, com destaque para os exteriores do Castelo, Catedral de Saint-Vicent e Muralhas. Alojamento no Hotel Mercure SaintMalo Balmoral 4*.



5º DIA · SAINT MALO – DINAN – NANTES

Partida para Dinan, cidade medieval localizada junto ao estuário do Rio Rance, cercada pelas maiores e mais antigas muralhas da Bretanha. Visita com destaque para os exteriores do Castelo, Basílica de S. Salvador e casas antigas. Continuação para Nantes. Visita com destaque para a Catedral de S. Pedro e S. Paulo (exterior), concluída em 1893 e notável pelos seus portais góticos. Aqui está sepultado Francisco II, último duque da Bretanha. Passagem ainda pelo Castelo dos Duques da Bretanha, que alberga atualmente o Museu da História de Nantes (exterior). Jantar. Alojamento no Novotel Nantes Centre Bord de Loire 4*.





6º DIA · NANTES – VILLANDRY – CHAMBORD – BLOIS

Saída para visita interior ao Castelo de Villandry, exemplo perfeito da arquitetura do séc. XVI e o último palácio renascentista construído na região. Nos inícios do séc. XX, os jardins foram reconstituídos segundo a sua forma inicial por Joachim Carvallo, mantendo-se ainda sob a supervisão do seu neto. Partida para Chambord e visita ao Real Château de Chambord, um dos castelos mais conhecidos do mundo, devido à sua arquitetura no estilo renascentista francês. Continuação para Blois. Panorâmica à cidade, nas margens do Rio Loire, com destaque para o seu Castelo (exterior). Após o jantar, saída para assistir a um espetáculo de som e luz no Royal Château de Blois, durante o qual poderá imergir na história deste castelo através de um turbilhão de imagens a 360° de figuras emblemáticas do seu passado. Alojamento no Mercure Tours Centre 4* em Tours.



7º DIA · BLOIS – CHENONCEAU – AMBOISE – ORLY

(AVIÃO) – PORTO OU LISBOA

Continuação para Chenonceau. Visita ao Castelo também conhecido como “Castelo das Sete Damas” por ter a sua história associada a sete mulheres de personalidade forte, duas das quais rainhas de França. Partida para Amboise, em pleno Vale do Loire. Destaque para o ambiente medieval e para o seu Castelo (exterior). Transfer ao aeroporto para embarque em voo com destino a Portugal, via Lisboa. Fim da viagem.

05 agosto, 2022

04 agosto, 2022

ANTECIPANDO

ANTECIPANDO, Saint Michel

 

03 agosto, 2022

A PEDOFILIA E A IGREJA

 


A pedofilia e a igreja

A pedofilia e a Igreja é assunto que pouca gente fala, é assunto pantanoso e cinzento, que vive numa inércia de pasmar, apenas porque a Igreja está atafulhada de casos, que não assume, não denuncia e nem castiga.

Onde começa o crime e onde termina o desconhecimento dos chefes religiosos?

Acreditam que basta o Papa pedir desculpas pelos excessos cometidos em nome de Deus? A pedofilia é para mim o crime mais horrendo, mas quando a coisa aperta, o melhor é calar, não dizer nada até esquecer.

“A Igreja Católica passa a enquadrar o crime de abuso sexual de menores no Código de Direito Canónico no capítulo dos "delitos contra a vida, a dignidade e a liberdade do homem”. A mudança está inscrita num texto do Papa Francisco publicado esta terça-feira. A pedofilia, mas também o abuso de adultos vulneráveis, posse ou divulgação de pornografia são agora penalizados pela lei fundamental Católica.” Euronews 1/06/2021.

Só agora? Já estamos no século XXI. São séculos e séculos de situações dúbias camufladas, de vítimas, de crianças traumatizadas e de uma Igreja poderosa a cavalgar na alma daquelas crianças desgraçadas, como se não fosse nada com ela.

Para mim a pedofilia já é intolerável e nojenta, praticada seja por quem for, mas quando os padres entram na história é trinta vezes pior. Por muitas e diversas razões que passo a enunciar:

1 – Porque os molestadores não são rudes, nem toscos e sabem muito bem o que fazem.

2 – Deformam, minam e corroem por dentro o conceito religioso que tanto apregoam e que moldam as suas vidas, aproveitando a distração do tal Deus omnipotente e omnipresente e a indiferença (nem sei como qualificar) de toda a instituição. Pregam uma coisa e fazem outra.

3 – As vítimas, normalmente, não têm escapatória, porque muitas vezes são entregues pelas famílias, aos abusadores, e estes transformam cobardemente a confiança em terror e em abuso sobre crianças e jovens indefesos, que irão padecer toda a vida, destas horas, dias ou anos degradantes, muitas vezes sem coragem para denunciar, temendo ser castigadas não só pelo abusador, mas também por Deus.

4 – Finalmente a inércia de toda a estrutura da Igreja, que “protege” o abusador em vez de agir activamente para detectar casos, condená-los severamente, expulsá-los da vida religiosa e proteger as vítimas. Estes abusadores continuarão a molestar crianças e a utilizar o poder de utilizar a palavra de Deus, como se fossem servos virtuosos. Isso é intolerável para os bons católicos, que acreditam e praticam o bem – não merecem isto.

Agora temos mais um caso, que se supõe encoberto ou ignorado pelo patriarcado. A ser verdade é algo muito grave, olhado pela lucidez que habita na maioria das pessoas. O nosso Presidente vem, precipitadamente, a terreiro, afiançar a sua confiança nos patriarcas D. Policarpo e D. Manuel Clemente.

Assunto sujo e repugnante que nada tem a ver se os padres podem ou não casar, tem a ver com a mente sórdida de quem pratica, estes ainda por cima, cobardemente agem sempre sob o “chapéu” protector da Igreja, para os ilibar e proteger.

A comunicação social afirma que há sete padres que já se encontram a ser investigados pela Polícia Judiciária. Isto será a ponta do icebergue, porque a maioria das vítimas, não denuncia, prefere viver com essa mágoa e não se expor, porque o tempo de investigar, as provas e os interrogatórios, são factores de grande desgaste, demorados, que cada vez mais afundam e ampliam a dor na alma fragilizada de cada um. Segundo a comissão independente criada este ano para investigar abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa, já vão em 388 denúncias confirmadas. Que vergonha!

A comunicação social informa que a acção do padre em causa continuou, até há pouco tempo, ligado a uma associação que acolhe famílias, crianças, jovens e idosos. Terei lido bem? Isto faz algum sentido? Será verdade? Por onde andam a lucidez, a assertividade e a ponderação da Igreja? É assim que se castiga um criminoso? Reza 10 padre nossos e arrepende-te? Fico indignada! Durante a Inquisição a Igreja sabia castigar quem não devia e agora? Porque o abusado não quer dar a cara fica tudo em “águas de bacalhau”?

A propósito por onde anda o famoso padre Frederico?

Publicado em NVR 3/08/2022

01 agosto, 2022

EVOCAÇÃO

 


Nesta comemoração, o meu pensamento voou até às pessoas que já cá não estão e que faria todo o sentido, estarem. Primeiro os meus pais, Ermelinda e Jacinto….os meus tios e tias, Albertina e Manuel Joaquim, Matilde e Agostinho, Marieta, Felisberta e Alberto (irmãos da minha mãe), Celeste e Lino, Esmeraldina e José, Benvinda e Manuel, Rosália (irmãos do meu pai) e a minha avó Felizbela. Imaginei como estariam felizes se pudessem estar presentes, contando as suas vivências de antigamente. Lembrei-me dos meus primos Hermínio e Lino, parece que foram viajar e ainda não voltaram. Ainda não encaixei muito bem a ausência e a saudade que tenho deles. Pensei neles todos. Pensei na minha avô Etelvina, já velhinha tal como a conheci, descendente da família Boal. Pensei no meu ex-sogro Augusto e como ele tinha razão na análise de certas situações. Pensei no tio Felicindo e na tia Abertina e nas suas saídas cheias de humor… Pensei nos tios avós que ainda conheci quando era pequena. Pensei no tio Lino que viveu no Brasil e no seu Valvelho, nos meus padrinhos Joaquim Augusto e Piedade. Lembrei-me da tia Bárbara. Pensei nos meus vizinhos Isildo, América, Celina e Manuel, Dionísia e Domingos, Maria Isabel, Joaquim Rodrigues, Joaquim da Rabeca, Silvino e Otília e Assunção. Lembrei de toda aquela gente que viveu após Abril na casa da D. Flávia e D. Nazaré. Lembrei-me das noites de verão passadas no maçadoiro a tentar ver o satélite lançado no espaço, no meio de muita estória brejeira. Lembrei-me de tanta gente ausente! Lembrei-me de mim a correr pelas ruas empurrando um arco ou a brincar às escondidas, com as meninas da minha idade, com a corrida sempre em dia. Lembrei-me de D. Marília, minha catequista, antiga proprietária da casa onde se fez a encenação da entrega da carta do povoamento. Revisitei o exterior da casa dos Boais, e fui nomeando quem viveu lá… aquela casa tinha uma exuberância rural e hoje resta vazia. Pensei em todos aqueles que conheci e que viviam no largo do Boal e proximidades. Sentava-me nos degraus da Capela de Santa Maria Madalena e observava o pulsar de uma aldeia, acompanhada pelo sino da igreja, que hoje já não toca, nem o relógio mostra as horas...

Recordei nomes um pouco distantes, mas que fazem parte da minha identidade, o senhor Caiador velho, o sr Fernando da Victória, sr José da Rita e a mãe, o senhor Claudino, o sr Vieira e d. Cecília, a D. Camila e o sr. Serafim, a d. Orlanda, d. Emília do "Lobo" , o mendigo Francisco, o sr. "Pardal", d. Isaura e o seu irmão Maximiano, o sapateiro José Rolo e a sua esposa que já não lembro o nome, a sra Carminda, o meu primo Toneco (António Palheiros) e a d. Conceição, o sr Alberto Constantino, a d. Arminda Conde, o sr Idílio, a d. Silvina Boal, o sr "Leiras", o sr. Zé Aires e d. Inocência, o sr Miguel do quelho, sr. Albano Tendeiro e d. Isaura,   a menina Augustinha, a menina Conceição que nos vestia os saiais, o sr Camilo e d. Olívia... a Celina... a mãe da D. Rosalina que só conhecia por Maria e  alcunha (vizinha da minha avó), d. Joana "do balsa", d. Eloá, d. Maria Luisa e a filha d. Etelvina, sr António Caiador e d. Celeste, sr. António Correia e d. Otília, d. Ana "do ferreiro", d. Julieta e sr. António Maires, sr Pelotas e d. Áurea, sra Naíde e sr "Manila, d. Ana e sr Carlos da Rabeca, sr Taveira e d. Aninhas, sr António "sapateiro" e d. Celeste, d. Laura "do Lourenço", d. Zefa, Tia Belmira Garfejo e Tio Daniel Silva, e tantos outros que já não lembro o seu nome- a memória não estica mais.

Realizei estes voos enquanto almoçava rodeada da gente boa de Justes, gente feliz por esta comemoração. Certamente outras pessoas terão feito o mesmo. Foram muitas emoções em simultâneo.

Quantas pessoas caberão nestes 800 anos? Vários milhares, mas somos nós a festejar.

JUSTES - agradecimentos


 Hoje dia 1 de agosto de 2022, o verdadeiro dia do centenário, quero deixar aqui uma nota de agradecimento a todos que durante dois dias trabalharam afincadamente para que a grande festa centenária, se convertesse num verdadeiro festão. Para mim superou as minhas expetativas e não estive presente em todos os momentos devido ao excessivo calor, que  afecta o meu bem-estar. Tudo perfeito, estou grata a todos. Muita gente, mas mesmo muita gente trabalhou para isto fosse possível. Adorei que tivessem entregado a carta de povoamento ao senhor Mário, figura que muito admiro e estimo - o mestre pedreiro de Justes. Apreciei o gesto do meu colega Benjamim, que após muitos dias de trabalho naquelas letras gigantescos, ainda teve a amabilidade e a paciência de silenciosamente servir à mesa. A minha prima Otília que esteve na cozinha a organizar e a confeccionar o delicioso almoço. Um agradecimento especial ao meu primo e grande amigo Abel, obreiro meticuloso em tudo o que faz, por isso gosto tanto do seu trabalho. 

JUSTES TEM FUTURO!

Gratidão a todos.