10 agosto, 2022

TURISMO ESPACIAL, NÃO OBRIGADA

 TURISMO ESPACIAL, NÃO OBRIGADA

Nós terráqueos temos tantos problemas cuja solução depende de investimentos a aplicar e o que fazemos? Aplaudimos o Turismo Espacial, todos orgulhosos porque finalmente temos um português integrado nesse turismo. Somos mesmo bacocos, jornalistas inclusive!

Vejam isto:

         Em 2018, todos os voos de aeronaves contribuíram com cerca de 918 milhões de toneladas de CO2, enquanto os foguetões emitiram cerca de 22 780 toneladas de CO2, ou seja, 0,0025% de toda a indústria aérea. Não parece mau, visto assim superficialmente, porém é necessário mudar de perspectiva na respectiva análise. Os 918 milhões de toneladas de CO2 alimentaram durante um ano, todos os voos, imprescindíveis para as trocas comerciais e migração das populações, que se reflectem na sobrevivência e no bem-estar da população mundial. Nós somos cerca de 7,3 mil milhões de habitantes que gastaram 918 milhões de toneladas de CO2 – ora façam contas.

         Podemos divagar sobre a especificidade de todas estas viagens, que mexem com todas as áreas da vida na Terra – economia, ciência, política, social, lazer, etc. etc.

         Quem faz turismo espacial? Humanos excepcionalmente ricos, sem qualquer objectivo científico, que se prendem com a própria experiência, para verem o planeta terra do espaço e a ausência de gravidade. Ahh, levaram uma plantinha com eles para ver como resistia à falta de gravidade e claro o nosso português foi testado com Vomidrine, contra o enjoo e a náusea (brincadeira, nem isso). Voltando aos números e fazendo bem contas sobre o custo e o benefício, talvez surja preocupação sobre as 22 780 toneladas de CO2.

         A informação que nos chega é desorganizada e dispare, e eu não estou lá para aferir: “O lançamento de um foguetão produz cerca de 200 a 300 toneladas de dióxido de carbono, devido à queima dos combustíveis, e pode ter implicações graves na proteção da camada de ozono”.

Em 2020, foram realizadas 114 tentativas de lançamento orbital no mundo, segundo a Nasa, o que equivale a uma média de mais de 100 mil voos diários no setor da aviação comercial. Mesmo que o número de lançamentos não aumente significativamente, os seus efeitos negativos causarão impacto.” “quatro turistas num voo espacial serão entre 50 e 100 vezes mais do que uma a três toneladas por passageiro num voo de longa duração”.

https://visao.sapo.pt/visao_verde/2021-07-24-como-a-corrida-ao-espaco-pode-ser-muito-prejudicial-para-o-ambiente/

         “Cada viagem ao espaço emite 75 toneladas de carbono, um valor que a maioria das pessoas numa vida inteira não atinge.” (pplware)

“um único passageiro emite mais poluição em poucos minutos do que 1/8 da população mundial irão produzir em toda as suas vidas”. (Luke Savage).

         Cada fonte de informação indica valores distintos, podendo concluir-se que isto anda sem controle, o que revela uma problemática ainda pior. Quando a escala passa a toneladas e a milhões, deixamos de ter a percepção racional para avaliar, tudo é possível e provavelmente aceitável, sabemos lá!

         Cada um faz o que quer ao seu dinheiro, mas isto tangencia a imoralidade por não se pensar nos outros. US$ 6,6 bilhões, segundo a ONU, acabaria com a fome no mundo.

         Querem emoções fortes, querem ver o planeta terra reforcem os drunfs e até conseguem ver o sistema solar inteiro e é mais barato, menos poluente, menos arriscado, e com o resto do dinheiro, resolvam a fome do nosso planeta.

         Querem emoções ainda mais fortes, vão limpar os oceanos, vão ao dentista e não usem anestesia e poderão ver galáxias.

Depois andamos a dar destaque ao ano das cidades mais verdes, promovido pelo Parlamento Europeu… e obriguem-me a mudar de viatura, para adquirir um híbrido!

Publicado em NVR em 10/08/2022



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