30 abril, 2007

Moderninho


Meu nome era David, mas soava muito antiquado. Então eu reduzi para DVD.

29 abril, 2007

AGBAR, três













Uns chamam-lhe charuto, outros, supositório, phallus, foguete, pileca, míssil, el pene, skyline, mastodonte, géiser, e quem a projectou foi Jean Nouvel, arquitecto francês e não faço a minima ideia do nome que lhe deu no seu estirador.
É sem duvida um ponto de referência, na orientação urbana, indicando a entrada sudeste da famosa Diagonal, na confluência da avenida Meridiana e a via das Cortes Catalanas, zona anteriormente degradada, e em homenagem as montanhas de Montserrat e à arquitectura de Gaudi. Assinala um dos principais nós de Barcelona.

A aproximação a Barcelona, de avião durante a noite, parece ser espectacular, com aquele “pirolito” vermelho e azul.

Estive junto dela, para a entender, para a avaliar, para sentir a sua verdadeira escala a perder de vista, observando-a da cota zero, rumo ao céu, confirmando as regras da perspectiva rigorosa. As pessoas circulam serenamente junto á torre, sentindo-se completamente integrada na rede urbana. Nada de planos intermédios, grandes espaços, desníveis que sempre afastam o utente ou que se prestem a falsas interpretações.

Quem entra e sai do centro comercial, Diagonal Mar, está sempre junto dele, obrigatóriamente.

Andei por ali, nas áreas circundantes, a constatar o seu impacto, na Plaza de les Glories Catalanes e descobri outro edifício bem perto, capaz de dialogar com Agbar, na sua modernidade, mas inspirado num modelo grego – O Teatro Nacional da Catalunha.
Eh pá gostei do teatro!!!!!... também!
Diário de viagem, IV/2007

Diário de viagem, IV/ 2007

28 abril, 2007

AGBAR, dois



Quando visitei Barcelona pela primeira vez, encantei-me com duas torres localizadas, salvo erro junto à diagonal noroeste, que nunca mais tive o prazer de rever.

Desta vez, foi a torre de Agbar(Águas de Barcelona).

A torre de escritórios e serviços mede cerca de 145 m de altura, com 4.400 janelas, tem forma de ogiva e destaca-se do perfil horizontal da maioria da cidade. É a torre que todos nós vemos diariamente no canal televisivo "People and Arts".

A torre Agbar enche de orgulho os catalães!

As torres coloridas da Sagrada Família, encontraram uma concorrente profana, que já se tornou emblemática, tanto na sua simplicidade, como nos seus efeitos camalaeónicos proporcionados pelos arquitectos da luz e da cor, consoante as horas do dia, da noite e os dias da semana. É a referência do século 21, para nós que já estamos um pouco saturados das obras da família sagrada, intencionalmente intermináveis, e que, paradoxalmente, já convivem com obras de restauro, no mesmo espaço.

A sua textura é formada por duas “membranas” de revestimento: uma interior, formada por alumínio em tons de terra, azul, verde e cinzentos, e outra exterior constituída por 59 619 folhas de vidro transparente. O interessante desta torre, é o sistema de ventilação que funciona entre essas duas “membranas”e que permite a redução da temperatura interior do edifício.
(cont)

27 abril, 2007

AGBAR, um










Não gosto de viver em torres, arranha céus, mas dá-me um certo gozo desenhá-las. São as contradições de um profissional da arquitectura!
Viver lá, implica sofrer as fobias dos elevadores, das escadas, das saídas de emergência, implica cruzar com centenas de vizinhos que se desconhecem, implica viver na vertical, sanduichado em ruídos mal isolados que nos assaltam durante a noite e o dia, sem ligações directas ao exterior, blá, blá, blá… mas desenhar uma torre, é um exercício mental muito motivante. É como conceber um frasco de perfume! … com delicadeza, dedicação, sensibilidade, utilizando a manipulação e a sabedoria dum joalheiro.

É um exercício complicado também, pois existem imensas condicionantes que têm de ser ultrapassadas para além da estrutura e da forma arquitectónica.
Depois de criada a forma global imaginada pelo arquitecto, passa-se à fase, que eu chamo muita vez de, “relojoeiro” , que envolve o desenvolvimento de uma estrutura organizacional que satisfaça imensos parâmetros: acessibilidades, segurança, rede de agua e esgotos, rede eléctrica, aquecimento, arrefecimento, ventilações, iluminação natural.
Todo este puzzle, deverá ser criativo e estar em constante referenciação com a ideia original, com as funções principais do edifício e se possível vincar, assentuar ainda mais, toda a intencionalidade da solução arquitectónica. Ter sempre presente o essencial, mas nunca esquecer o secundário, o pormenor, viajar constantemente entre diversas escalas e diferentes problemáticas, não esquecendo nunca o utente, e optando sempre pelas soluções mais simples, desligando continuamente os descomplicómetros e desenvolvendo uma elasticidade mental, que acaba por dar imenso prazer.
(cont)

26 abril, 2007

PENICHE


Assisti, ontem, a parte do programa da SIC, com Saldanha Sanches, ex PC e ex MRPP, num regresso comentado na primeira pessoa, à prisão de Peniche.
Confirmou o rigor e a disciplina, que os militantes do PC conseguiam imprimir na sua permanência nas cadeias do antigo regime.
Achei interessante a análise que fez a certos pormenores que fazem a diferença numa cela: Uma mesa e uma simples cadeira!
Dar a possibilidade a um preso político de ler e escrever, mesmo que, de forma controlada e vigiada, é uma fuga constante para a liberdade em relação ao preso, e é o tal elemento que denuncia a fraqueza de um regime político ditatorial, confirmando que o insustentável da situação.
Considero que este foi o ponto alto da reportagem.
Que pena nas escolas raramente se falar disto, exactamente no espaço onde abundam as mesas e as cadeiras!

25 abril, 2007

Dia da Liberdade


É um exemplo de valentia e grandeza na Revolução dos Cravos. Salgueiro Maia, soldado português, comandou as forças que avançaram sobre Lisboa no 25 de Abril de 1974. Pôs fim à ditadura militar e forçou a rendição de Marcello Caetano. Foi aclamado em apoteose. Salgueiro Maia impediu uma devastação desnecessária e deu aos Portugueses um novo amanhecer. Personifica o herói dos tempos modernos.

23 abril, 2007

dia mundial do livro










DIA MUNDIAL DO LIVRO
(dizem que é hoje...estava convencida que seria no final de março)
Os primeiros livros que eu li.... agora é que vejo...... tadinha da minha cândida cabecinha!!!!! Hoje até que estou mais ou menos... podia estar bem pior!!!!

22 abril, 2007

Gosto de +

Fotografia: Jim Hoffman

21 abril, 2007

20 abril, 2007

Solidão



Solidão

Tenho no oco
das minhas mãos,
o vazio do mundo
em que respiro.
Nadas
e ainda menos
cores;
linhas de vida
sonhadas
mais que
verdadeiros amores.
Imagino
que no vazio cabe tudo.
Até Venus
a estrela da madrugada
e outros doces pensares.
Sera caso para abraçar
as palmas das mãos
para que o milagre
se concretize ?
Acendo uma vela
e deixo no vazio
a vela arder.
Quem sabe!
Tudo pode acontecer.
A cera corre
e no queimar da pele
das mãos que a recebem
com carinho,
lembra que o vazio
também doi.

Carlos Tronco
Mondeville
25/08/06

19 abril, 2007

José Luís Peixoto




Cemitério de pianos

“Minto até te dizer que te minto”, ainda não li e não conheço ainda a faceta irónica e humorista de José Luís Peixoto, aliás, li muito pouco dele… leio por vezes o seu artigo no Jornal das artes e letras … o primeiro livro dele, amplamente divulgado, e agora o “Cemitério de Pianos”. No entanto o nome dele fica sempre retido na minha memória. Poucos mas bons!
Este jovem escritor ganhou o prémio Saramago com o romance ”Nenhum olhar”, o tal livro que li. Nessa obra todos percebemos, que surgiu no meio literário um homem, ainda rapaz, que irá ser um escritor com letra grande.

E de facto!
A capa desse livro penso que é desenhada por Paula Rego, e tem tudo a ver.
Eu confesso, não aprecio um pequeno grande pormenor da pintura de Paula Rego, … é aquela coisa de desenhar as mulheres sempre com um rosto de retardadas mentais… tirando isso, acho que ela é fenomenal a representar as diversas realidades do mundo, a miséria, os dramas humanos, muito especificamente os dramas mais ligados às vivências das mulheres – numa outra ocasião falarei disso.
E porque eu entendo que tem tudo a ver? Porque considero que José Luís Peixoto será a Paula Rego das palavras. Ainda é jovem, mas disputará brevemente, lugares cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, de igual para igual com Lobo Antunes e outros. Em todo o trabalho criativo é necessário o amadurecimento, para consolidar uma tendência, um estilo, um lugar de destaque, em que os leitores cada vez esperarão mais e mais.
Lobo Antunes tem 60 e tal anos, o José Luís deve ter perto de 30, ainda tem muito que nos oferecer.
O que me agrada no José Luís? Quando o leio fico perturbada. A forma como ele descreve certas misérias da vida real, é tão profunda, e desprovida de certo modo, de qualquer embelezamento visual, chega a ser um pouco surreal, mas mexe muito connosco. Retrata as fragilidades, as fraquezas humanas e ao mesmo tempo, consegue construir simbolismos que cada um de nós descodifica por analogia com as vivências pessoais. As suas palavras por vezes são cruéis, frias, fortes, densas, e no entanto são simples.
O que ele escreve provoca-me angústia, mau-estar, exactamente como muitas obras de Paula Rego.
José Luís Peixoto tem um grande talento para a escrita, e a prová-lo está a estrutura que ele inventou para contar a estória dos pianos: requer alguma atenção, pois o papel de narrador é partilhado alternadamente entre pai e filho, desempenhado em tempos diferentes ou não, mas com continuidade na leitura, numa sobreposição paralela, do real com o sobrenatural de alguém que vive a mesma estória, tecida numa série de fios que são as relações humanas e familiares. Agrada-me este jogo inventado pela escrita, que poucos escritores o conseguem fazer de forma brilhante. Qualquer romancista consegue contar uma estória; inventar uma estrutura invulgar, que suporte e apoie toda a estória, por forma a torná-la unica e inesquecível é o que poderá distinguir um grande escritor. Este passou a ser importante na minha vida. Não sou pessoa de ler e reler a mesma coisa, assim esgotarei toda a obra e depois resta-me aguardar pacientemente o próximo livro.

17 abril, 2007

Figueras (conclusão)

Pouco tempo nos detivemos nas pinturas estereoscópicas, para a mim a parte mais interessante da obra genial de Dali, dado não haver condições para o fazer: é necessário tempo e calma para efectuar o exercício do olhar.
Promessas feitas, de mais tarde, orientar esse exercício com material que fui arquivando ao longo dos anos.

Diverti-me com as posturas adoptadas por cada visitante, tentando visualizar essas pinturas… o próprio Dali, se socorria de um espelho prismático, para aqueles que não conseguem colocar o olhar para trás da figura observada. Dali aborrecia-se ficando triste e decepcionado consigo mesmo, quando os amigos não conseguiam descortinar aquilo que ele tinha intenção de representar.
Penso que a maioria dos visitantes avaliou aquelas pinturas como mais um trabalho escultórico, deste pintor experimental, sem visualizar exactamente o que Dali pretendia, a 3ª dimensão.

Como sempre, dispus de algum tempo para observar os visitantes - mania minha, de ficar a apreciar a interacção que se produz entre a obra de arte e os receptores, ler o olhar que se defronta com obras clássicas utilizadas de forma obsessiva no surrealismo, imaginar o que cada um imagina, sentir as surpresa incontidas perante o bizarro e a imprevisibilidade.

Saímos, contornamos o resto do edifício, pois eu procurava as minhas lembranças de menina.


Tomei conhecimento da existência de Dali, era ainda menina de duas tranças, através de um documentário que passou no cinema Império, em Luanda, mesmo no final da década de 60.
Tratava-se de um pequeno registo em cinema, sobre um evento qualquer, que Dali promovia em relação à sua própria imagem, expondo a sua genialidade de forma despudorada, excêntrica, provocadora e escandalosa, no mar mediterrâneo, provavelmente na sua casa em Portlligat, na Costa Brava.
Nem sei bem, como esse filme passou através da censura do regime fascista!!!
Nunca encontrei ninguém que ainda se lembre desse registo.
Não me lembro de grandes pormenores… mas sei que nesse momento, virei voyer, no sentido estético do termo.

O homem dos bigodes extensos, todo vestido de branco, que nascia na tela a partir de um grande ovo, impressionou-me de forma invulgar. Ficaram-me gravadas na memória a forma como ele pintava e bem, no meu entender infantil, espaços reais, mas ao mesmo tempo… eu ainda não sabia o que era surrealismo, o que era o metafísico, mas as imagens passaram a habitar a minha mente em crescimento… as muletas, os relógios, as deformações, as gavetas, as bexigas, moscas, os corpos em suspensão, girafas em chamas, os ovos, os ângulos de visão em contrapicado… tudo isto se apresentou para mim, como uma porta lúdica, aberta à descoberta, que tento utiliza-la ao longo dos anos.
A pintura “O sono” viria a reencontra-la passados dois ou 3 anos, como capa de um álbum de musica.

Uma parte do edifício tem a platibanda com ovos gigantes fazendo lembrar ameias de um castelo. São a imagem de marca do museu Dali.
Os ovos, são simbolos da fertilidade, talvez associados a fertilidade/genialidade do percurso de Dali. Há ali qualquer coisa que se aproxima ao kitsch, de forma intencional.

Lá fiz eu a tal associação às minhas imagens de há décadas atrás, que habitam a minha mente em contracto permanente, procurando explicações e referências, que substancializem as formas recordadas …
Os ovos aparecem também na praça de Touros de Barcelona… Dali nem tinha grandes ligações ao mundo tauromático, pintou apenas uma tela com esse tema…. Deve haver uma explicação… talvez relacionada com as suas recordações visuais, intra-uterinas, que afirmava possuir.

Ainda não encontrei a respostas a todas as minhas interrogações de criança!


“Dali, ame-o ou deixe-o”, foi esta a frase do centenário do seu nascimento, eu continuarei a amá-lo, para o entender.

Voltarei sempre!

Diário de viagem, IV de 2007

16 abril, 2007

Figueras (cont)


Há fotos de Dali junto ao Cadillac, com a sua famosa bengala apontando para uma bailarina de Barcelona que posava em fato de banho junto à gorda “Ester”, seguindo um qualquer ritual exotérico.

Tudo dentro deste museu é um pouco anárquico. Sente-se liberdade e movimento constante, e
Dali deve estar a espreitar lá acima, com os seus bigodes cheios de laca, distraindo as moscas, imaginando outras obras, a partir da sua obra, como ele tantas vezes fazia.

Há um percurso pré-determinado apenas para os visitantes terem a certeza que irão ver todos os espaços, mas não há nenhuma sequência lógica, uma organização cronológica. Os visitantes são muitos, uns seguem o percurso referido, outros não, há um turbilhão de pessoas a entrar e sair de todas vãos que o edifício contém.

As obras expostas permanecem nos lugares que o pintor estabeleceu, as obras mais conhecidas, não estão aqui, e sim espalhados pelos museus do mundo, excepto Labirinto e Toureiro alucinógeno. As esculturas, os objectos, os esboços são o que mais me agradaram, transparecendo o espírito ensaísta que havia em Dali, a constante procura pelas leis da física e pelos estádios da mente.
Acreditaria, ele, verdadeiramente em Deus?

Oiço os meus companheiros a dizer, que é impossível reter tanta informação de uma só vez.
Sorrio. Apanharam uma congestão Daliniana!


Vimos o Túmulo de Dali. Desconhecia que também estaria dentro do museu.
(cont)

Diário de viagem, IV/2007

15 abril, 2007

Figueras



Cheguei a Figueras por volta das onze da manhã, no renfe…. A partir do Passeo de Gracea, Barcelona.
Aprovei para passar pelas brasas, à semelhança dos meus companheiros de viagem, depois de vários dias com muitos pedantes.
Já tinha feito uma visita virtual ao Teatro Museo de Dali, mas nunca me tinha perdido por aquelas paragens. Pelo caminho ia a imaginar a surpresa que os meus companheiros iriam ter, pois iam completamente desprevenidos. Só sabiam da minha insistência nesta visita, explicando-lhes apenas que era um museu invulgar, e que nada me faria desistir dessa deslocação de cento e tal km, nem frio, nem chuva...
A partir da estação, fizemos 10 minutos a pé até lá chegar.

O que são dez minutos?
Uma verdadeira ninharia para quem tem engolido quilómetros.

Aproximamo-nos através do casario, pelo lado menos exuberante do velho teatro de Figueras, onde viveu Dali, nos últimos anos da sua vida, já sem a pressão megalómana de Gala.
Na entrada, todos estranharam: poder entrar com câmara de vídeo e fotográfica, sendo permitido fotografar sem flash, e não limitarem o número de visitantes.
Nós chegamos relativamente cedo, mas o comboio trouxe muita gente. Passados uns minutos o museu estava cheio de gente e o fluxo de visitantes foi aumentando. A fila para adquirir as entradas começou a ficar cada vez mais longa.

Deparamos logo a seguir à entrada com um pátio extraordinário, onde repousa o cadicallac de Dali, com uma estátua feminina, de gigantescas formas redondas, aplicada na parte da frente do automóvel, e com um barco invertido e suspenso a diversos metros de altura, que supostamente deixa cair água – Táxi Chuvoso.

Verificaram logo ali, que não estavam no interior de um museu qualquer, onde tudo é medianamente previsível e estereotipado.
Este museu já foi denominado por, caverna de Dali Babá, pois é um espaço cheio de surpresas, tratado pelo próprio Dali, e que não se limitou a ter a função de museu, este espaço foi sítio de inúmeras experiências exuberantes, que Dali fazia questão de promover e divulgar, escandalizando um pouco a sociedade e a própria comunicação social da época.
Há fotos de Dali junto ao Cadillac, com a sua famosa bengala apontando para uma bailarina de Barcelona que posava em fato de banho junto à gorda “Ester”, seguindo um qualquer ritual exotérico.
O pátio, penso que corresponderia à sala de espectáculos do antigo teatro, Dali procedeu a algumas alterações nas zonas mais afectadas pelos bombardeamentos da guerra civil espanhola.

(cont.) Diário de Viagem, IV de 2007

12 abril, 2007

CUMPLICIDADE

Técnica: guache

11 abril, 2007

Quem me leva os meus fantasmas?

Bom, muito bom!
Não se esperaria outra coisa, sem ser excelente!

É o grito íntimo de um homem, o grito de uma cidade, do país, é o grito do mundo.
Quem me leva os meus fantasmas?
A canção nasce de uma viagem nocturna pelas ruas do Porto, e atravessa todas as fronteiras.
É a história de um sem-abrigo, de um operário que vai ser despedido, de uma criança assassinada na Faixa de Gaza.
É a história da miséria interior, de cada pessoa e de todos.
É as notícias dos jornais, que estão cheios de canções.
É o grito do mundo.
É a pergunta que todos fazem.




Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam,
E eu via que o céu me nascia dos dedos
Ea Ursa Maior eram ferros acessos.
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos, em sonhos gigantes.
E a cidade vazia, da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?
Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
em que os homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala, nem a falha no muro.
E alguém me gritava, com voz de profeta.
Que o caminho se faz, entre o alvo e a seta.
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?
De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?
Pedro Abrunhosa

10 abril, 2007

Barcelona sempre!

Tudo correu bem.
Estarás a perguntar porque me mandei para Barcelona por uns dias… talvez me imaginásses lá por Salou ou no estádio Camp Nou.
Nada disso.
As minhas viagens são uma autêntica SECA, para a maioria das pessoas!!!
São muito deficitárias em diversão, planeadas antecipadamente por mim, são quase totalmente dirigidas para a vertente cultural/arquitectónica, sobrando ao fim do dia, pouco tempo e pouca disposição para ir a bares, futebol e discotecas. Algumas pessoas dizem-me que as minhas visitas pelas cidades, parecem raids. O que quererão dizer com isto?
Só sei que às seis da tarde, os pés pesam toneladas, o cérebro encontra-se congestionado de tanta informação, e a goela intoxicada de água! Nessa parte do dia só se pensa numa boa refeição e repousar o esqueleto.
Faço centenas de fotografias, faço registos escritos ao fim do dia, traço percursos, estabeleço prioridades, ando com plantas penduradas ao pescoço, não me detenho em situações secundárias, não há almoço para ninguém, acorda-se cedo e deita-se cedo, … enfim uma Seca como te disse.
Não são viagens para apreciar paisagens naturais, nem para fazer piqueniques.. não são passeios de miradouros. Nunca são viagens de lazer, de repouso ou relaxantes. São viagens urbanas, de grande stress, impróprias para fumadores, utilizadores do sofá da sala e de banhos demorados. É a tal sede de infinito que vou tentando saciar de vez em quando, desta vez, regressando mais uma vez a Barcelona.
Acredita que até selecciono quem vai comigo, para não haver problemas, pois posso-me tornar uma pessoa de feitio difícil. Digo-te já, nunca te seleccionaria. Ao fim do primeiro dia entrarias em crise profunda, com os teus pulmões a estourar de cansaço! Verdade!
Porque Barcelona? Porque é uma cidade onde tudo acontece ao nível cultural, além de ter orientações do Colégio de Arquitectos da Catalunha, que é uma ajuda preciosa para quem quer estar por dentro de la movida arquitectónica. Eu amo essa cidade! Gosto daquela gente, que no seu discurso referem “ el país, el reino”, mas raramente articulam a palavra “Espanha”; são especialmente simpáticos para com os portugueses, sentindo uma pontinha de inveja pela nossa independência… (mal eles sabem como é!!!!)
Imagina que, na 2ª feira, dia em que a maioria dos museus estão fechados, para não desperdiçar meio dia, dirigi-me a um posto de turismo, para me certificar se o Centro de Arte Contemporânea estaria aberto. Passaram-me para as mãos três folhas A4, onde estavam listados os museus que estavam abertos na 2ª feira. Pediram-me desculpas por a cidade de Barcelona só ter 23 museus abertos nesse dia da semana. Está tudo dito!
Tive azar, choveu. As fotos não ficaram brilhantes, servem apenas de registo duma permanência inquieta. Prometo que abrirei um álbum no arkimagem.
(Pena, a converseta estendeu-se e acho que vou publicar no estir@dor, directamente, amanhã)

09 abril, 2007

Ovos e coelhos, coelhos e ovos... grande confusão!

Há muitos,muitos anos, aprendi os conhecimentos de uma disciplina que dava pelo lindo nome de zoologia, que me ensinou uma série de conceitos, que ao longo dos anos se foram firmando como errados.

Aprendi as ordens, as classes dos animais, o seu sistema reprodutivo, o sistema respiratório, o sistema digestivo… sei lá aquela cena das cinturas ora, escapulares, ora pélvicas, e para quê?
Cinturas?
… nunca ouvi ninguém a dizer… “gaja boa como o milho com uma cintura escapular!!!!”
Não!!!!
Dizem: “gaja boa como o milho, com cintura de vespa!”.

Aprendi a distinguir os ovíparos, dos vivíparos e dos ovivíparos.

Ingénua!!!
... julgava eu que os mamíferos seriam todos vivíparos, e que a ordem das coisas se manteria inalterável por milénios… mas enganei-me… pelo menos nos últimos anos com os avanços da engenharia genética, nem tudo o que parece, é.

Lá vai o tempo em que um cão era um cão, um gato era um gato e um canário era, sim senhor uma ave de cor amarela. Salvo raras excepções… tal como o camelo, a mula, os galinha, o truta (exactamente “o truta”), a piranha, o pato bravo e poucos mais, todos os animais eram o que eram, salvaguardados por Noé, comprovados pelo sua genealogia e posteriormente pelo seu código genético.
Só que agora não é bem assim.

Pelo menos durante a época Pascal, os coelhos nascem a partir de ovos.

Inquestionável!!!!

O embrião destes coelhos desenvolve-se dentro do ovo, que se situa no exterior da progenitora.

È assim ou não?

O símbolo da Páscoa, deixou de ser o Cristo pregado na cruz, ou a ressuscitação do mesmo; os ovos e os coelhos invadiram definitivamente a semana santa do mundo dos cristãos.

Já nem me questiono sobre quem nasceu primeiro, se foi o ovo, se foi o coelho, pois isso já seria pura filosofia.
Mas que o coelho virou ovíparo, lá isso virou! Venha de lá o Professor Quintanilha explicar o como e o porque, a estas mentes ignorantes onde eu me incluo!
Vejamos:

Hipótese 1:
A junção dos gâmetas femininos com os masculinos coelhais, na época da primavera, originam zigotos estranhos um pouco achocolatados, que se desenvolvem no exterior, assumindo aspectos e cores originais, normalmente envolvidos por películas estanhadas coloridas.

Hipótese 2
Na mesma época, na junção dos gâmetas galinhais, fartos da monotonia do dia a dia de galinheiro, resolvem inovar, e em vez de desenvolver penas, desenvolvem pêlos como revestimento, e adoram roer cenouras.

Hummmmm estranha genética esta!