30 março, 2013

Viver só



Quando  me confronto com os espaços do sim, do não e do talvez, digo sempre que nasci ´sozinha e morrerei sozinha. Eu e os outros também, obviamente. Ninguém fica fora desta certeza.
Entre um e outro momento, temo-nos mais ou menos preenchidos e tentamos ser felizes – a realidade da vida..
Há uma frase que não sei quem escreveu mas muito acertada.
“A melhor maneira de ser feliz com alguém é aprender a ser feliz sozinho. Daí a companhia  ser uma questão de escolha e não de necessidade. “
Ser-se sozinho ou ser-se solitário, onde começa um, onde termina o outro? O que distingue estes dois estados: o só e o solitário? … e a solitude????
Enquanto a solidão pode evidenciar dor, a solitude é um prazer. Entre os dois o estar só ou ser só indicam situações distintas.
Quando estamos sós confrontamo-nos connosco mesmo, com os desejos com os medos, com as frustrações e com os sucessos. Temos de nos ouvir, de dialogar de nós para nós e por vezes temos medo desse confronto, pois ressuscitamos fantasmas, mas é um medo que pode ser libertador.
 Fernando Pessoa dizia:
"Se te é impossível viver só, nasceste escravo”.
“Melhor só que mal acompanhado” – diz o povo.
O que fazer? Nunca há situações perfeitas e quem diz que as tem, mente!.
Solução:  ter criatividade para gerir o equilíbrio entre essas duas necessidades.
Não é fácil!
In “Ensaios de escritas, um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas

28 março, 2013

11 março, 2013

FRANCISCO MOITA FLORES



À minha amiga
Anabela
Com um beijinho
11.03.2013
Ass: Francisco Moita Flores

            Este foi o autógrafo que Moita Flores escreveu no livro que adquiri “A opereta dos vadios”, hoje após o encontro realizado na Biblioteca Municipal de Vila Real, promovido pela Rede de Bibliotecas de Vila Real, no âmbito da Semana da Leitura 2013. Este encontro foi organizado pela Editora Leya e pela professora bibliotecária do Agrupamento de Morgado Mateus, Maria Manuel Carvalhais em articulação com a Biblioteca Municipal de Vila Real e restantes bibliotecas da RBVR (Rede de Bibliotecas de Vila Real), com o objetivo de dar a conhecer aos alunos presentes os escritores portugueses contemporâneos.
            As apresentações foram realizadas por Isabel Machado, representando a Biblioteca Municipal de Vila Real, José Maria Magalhães, diretor do Agrupamento Diogo Cão e António Carvalho presidente da CAP do Agrupamento Morgado de Mateus, tendo este último dissertado sobre o tema da Semana da Leitura, “O Mar”, referindo algumas atividades a concretizar ao longo desta semana para dar à leitura, o destaque que obrigatoriamente merece.
            De seguida Moita Flores começou por apresentar o seu percurso de vida, que ouvi atentamente, e deixei-me levar pelo seu tom pausado e sóbrio com que expôs a sua biografia, até que despertei pensando como era tudo tão interessante e como o seu discurso fluente e fácil era profundo, sentido e cheio de conteúdo, com alguns apontamentos de humor subtil, e comecei a tomar notas na minha pequena agenda, que partilharei aqui neste meu modesto registo.
            Falou do conflito entre o sonho de atingir a imortalidade e a morte, sendo esta o que nós temos como certo, apesar de desconhecermos o dia, o ano e a hora em que vai acontecer. Sublinhou a sua ligação aos livros, como objeto físico, com cheiro, com textura, com forma e volume, onde se pode sublinhar, anotar, dobrar, abrir, e que a internet apesar de ser um ótimo meio de comunicação/informação, falta-lhe o corpo, o abraço, o carinho, o sorriso e o beijo, que só existem na vida real. Evidenciou que quem lê, está melhor preparado para a vida, tem mais sucesso… os que lêem mais são melhores amantes! …e a propósito declamou….
João Roiz de Castelo Branco (séc. XV)
Senhora, partem tão tristes
meus olhos, por vós, meu bem,
que nunca tão tristes viestes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

 Declamou Camões:
Estavas, linda Inês, posta em sossego
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas,
O nome que no peito escrito tinhas.
 
Interrogou-se (nos): Como se pode ser bom amante sem ler “Amor de perdição” e “Os Maias”?
Confessou a sua paixão pela Ferreirinha.
Explicou que a família e a escola são as almofadas de ¼ da vida. Os outros 3/4 tem que ser vividos em autonomia. Expôs as suas dificuldades como estudante trabalhador proveniente de uma família humilde e da sua grande ambição de dar aulas na Sorbonne, sonho esse que se tornou realidade e que correu o risco de resvalar perigosamente para a vaidade, travado logo nos primeiros cinco minutos com um telefonema para o seu pai, onde este lhe lembrava que a sua obrigação era trabalhar.
Evocou João de Deus, Camões, Florbela Espanca, Miguel Torga, Eça de Queirós, Sophia de Mello Breyner, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Shakespeare, Gil Vicente,  Espinosa, Pedro Nunes..
Finalmente deixou uma mensagem a todos os presentes. Referiu que pela sua experiencia na secção de homicídios na PJ, viu e mexeu em centenas de mortos, constatou como é ténue e rápido, o espaço que medeia entre o nosso nascimento e a nossa morte, e assim refletindo sobre isso, decidiu nunca perder tempo com coisas que não lhe interessam, investindo todo o tempo em fazer ou procurar fazer aquilo que gosta.
Grata pela sua presença e pela partilha que tive o privilégio de usufruir.
Anabela Quelhas