29 março, 2022

A vida não se repete

Há pessoas que conseguiram transformar com um pequeno gesto a confiança, em desconfiança, destruindo tudo o que se construiu à sua volta durante anos. 

Há pessoas que ignoravam que é preciso surpreender o outro sempre pela positiva e todos os dias. 

Há pessoas que tiveram tudo e não valorizaram nada. Quando acordaram era tarde de mais, porque o tempo não espera e é irreversível. 

Essas pessoas precisam de aprender que a vida, felizmente, não se repete, e quem age bem, sempre fica bem.  

AQ


25 março, 2022

Eurico Palheiros Figueiredo - como o conheci

 


A propósito de Eurico José Palheiros Figueiredo, foi assim que o conheci em noite de fuga.

(...)

"Nessa noite ou noutra noite qualquer semelhante, pois as crianças nem sempre têm uma memória cronológica, feita de colchas coloridas, mas sim de retalhos…. retalhos, simples e ingénuos, regressámos à casa da aldeia, no Taunus 12 M azul dos meus pais. O automóvel era velho, a cair aos pedaços e estava habituado a carregar cimento e tijolos para as obras. Quando nevava, deixava entrar a neve pelo chão, junto aos pés de quem viajava atrás, normalmente eu, quando não queria viajar entre o meu pai e a minha mãe, no banco corrido da frente, pois essa localização fazia-me lembrar a minha condição de criança - carro velho, mas ainda capaz de realizar pequenas distâncias.

.… eu ia atrás, mais um casal de jovens, que nunca tinha visto. Sabia que um deles era meu primo. Uns tempos antes tinha ouvido falar duma peripécia qualquer com o meu pai, envolvido num pequeno sarilho, transportando este primo para Lisboa, com uma mala de conteúdo duvidoso, possivelmente subversivo. Uma história que poderia ter terminado mal, pois  o meu primo decidiu sair do carro antes do final da viagem e o meu pai ficou com a referida mala, esquecida durante dois dias, no carro estacionado à frente do hotel onde se hospedara, sem saber o que fazer com ela, nem ao seu conteúdo desconhecido, até ao momento que decidiu abri-la. Livros, papeis, fios eléctricos, arames, alicates, chaves de fendas e outras ferra- mentas úteis para certas “intervenções urbanas revolucionárias”, eram o conteúdo da mala, que foi abandonada às escondidas, algures no Ribatejo.

Era noite escura, eles entraram no carro num sítio qualquer, já fora da cidade de Vila Real, parecia que tudo estava a ser feito na clandestinidade,  mas bem combinado. Eu, nessa noite, estava cheia de perguntas para fazer, que não chegaram a ser proferidas. O casal parecia alegre e simpático, mas havia ali um clima de muita reserva e contenção, o nervosismo acompanhou toda a viagem, penso que devido à minha presença, para não ouvir o que não devia, receando que pudesse contar a alguém, fazendo perigar a segurança e a paz de todos.

Anos depois, descobri que se tratava de uma fuga à PIDE – o casal exilou-se na Suíça, regressando a Portugal apenas após a revolução de Abril."

in "O fato que nunca vestimos" de Anabela Quelhas

 Só voltei a vê-lo depois de 1974. Dirigi-me a ele numa tarde de verão na sala de um familiar e disse-lhe: "Venho aqui para te conhecer melhor, porque só tenho memória de uma noite escura."- ele parecia uma figura saída do Woodstock, sorridente, jeans, sandálias e cabelo comprido, e abraçou-me - não tenho fotografia dele em novo.


24 março, 2022

Condecorado pelo Presidente da República

 Para memória futura

Eurico Palheiros Figueiredo condecorado pelo Presidente da República - 24/03/2022.

Eurico Parabéns

Saber mais em

https://www.cmjornal.pt/.../o-dia-em-que-o-regime-perdeu...






23 março, 2022

Anita vai à "vistoria"

Anita vai à “vistoria”

8h45 abre porta automática, entro, medem-me a temperatura, meto uma mão numa máquina estranha que parece um parquímetro, pinga desinfectante para eu esfregar na outra que pega no dossier dos papeis.

- O que deseja?

- Assim para não contar toda a minha estória desde dezembro, posso dizer que venho à “vistoria” e ainda fazer umas reparações na minha mão escangalhada...

- Pode seguir, o seguinte!

Nem tenho tempo de explicar mais nada, felizmente sou alfabetizada, e percorro muitos metros de corredor, perpendiculares uns aos outros, um pouco a custo, porque estou ensonada e o GPS ainda funciona a bocejar... e oiço, senha 32 balcão 1.

Procuro outro objecto parecido com o tal parquímetro e clico no écran. O parquímetro das senhas que lhe chamo senhímetro, emite barulhos tipo desarranjo intestinal e vomita uma senha com o número 35.  

Passo para a sala de espera e decido esperar de pé. As cadeiras baralham-me. São cerca de 30 cadeiras, orientadas para um ecrã onde não se passa nada, apenas os números das senhas, com som para aqueles que têm cataratas. Cada cadeira está sinalizada com uma faixa escrita por esta ordem– doente Covid – acompanhante de doente Covid – sem sinalização que entendo ser o afastamento da etiqueta respiratória - de novo doente Covid – acompanhante de doente covid – sem sinalização – doente covid – acompanhante de doente covid. Todas as outras filas de cadeiras obedecem a esta ordem, excepto uma que tinha acompanhante de doente covid, mas sem o doente. Decidi ficar em pé.

- Senha 35, cartão de cidadão, segurança social, ADSE e aguarde que irão chamá-la.

Passados 5 minutos oiço;

- Anita ao gabinete 2.

Medem-me ângulos da mão, catetos e hipotenusas, fazem registos e cáculos, tira bissectriz e mediatriz, numa problemática geométrica de mão escangalhada, que frequentou várias sessões de dor, ais e uis com fartura, no último mês... doi-me aqui, doi-me ali, ai, ui, vou fugir, orientada por alguém delicado que parece ter força de halterofilista. E mais assim e assado, inclina para aqui, torce para a acolá, “destroce”... sempre com amiga a segurar-me na outra mão não escangalhada, dando-me força, sempre a dizer, Anita estás muito melhor, vais ficar boa, não faças batota... e eu a apertar molas da roupa, a deformar plasticina e a contar os minutos para o fim, porque dor tem limites e eu não quero maçar a minha fisioterapeuta, quero que ela respeite a lei do trabalho.... nem um minuto a mais!

Quem me segura na mão não escangalhada, distrai-me para eu deixar que dor vire terror, para depois terminar com a mão escangalhada no meio do gelo, como se faz ao champanhe antes de fazer uma calcinha de seda.

Lembro a música “Fui às sortes e safei-me” do Vitorino, enquanto aguardo a rotação, simetria sobre os dedos que desconsigo associar, e sentença final.

- Anita não passou na vistoria! Mais trinta sessões até essa mão libertar a preguiça e pintar definitivamente a manta.

Voltarei ao mesmo, desinfectante, senha, deitar na marquesa, dormir sentindo picadinhas tremeliques no pulso, e novamente fazer de conta que submeto a minha mão escangalhada à máquina de lavar no programa centrifugação, até conseguir desenhar linhas rectas que são curvas (onde eu já ouvi isto?), escrever em linha estreita e conseguir fazer malabarismos sem magoar ninguém. Um dia chego lá.

Beijinhos da Anita    

18 março, 2022

sinistrada


 

A guerra expõe-se nua


 

Albert Street em Riga

 Albert Street em Riga - famosa pela sua arquitetura Art Nouveau. Construído por volta de 1901


12 março, 2022

hoje é dia frio


 

WALI

 


Onde está o Wali?

Ucrânia

Quem é Wali?

Engenheiro informático, especialista canadiano, atirador de elite mais famoso do mundo, conhecido por abater 40 pessoas por dia, a 3km de distância.

Currículo -  Afeganistão, Iraque

Está na Ucrânia, voluntáriamente, desde 9 de março, a convite de Zelensky.

““Wali” é uma lenda entre os snipers, daí a imprensa internacional destacar a sua decisão de combater contra as tropas russas. Em média um franco-atirador mata sete homens por dia e, na linha da frente, pode chegar aos dez. O canadiano ultrapassa estes números, já que consegue provocar 40 mortes por dia. Detém, além disso, o recorde de morte a maior alcance: 3.540 metros de distância.”


11 março, 2022

OUTRAS URBANIDADES - Talin - Estónia



 

CONVENTO DE MAFRA

 


CONVENTO DE MAFRA

13 anos de construção (1717 a 1730)

 Visitei-o a primeira vez em adolescente, naquela volta com a família para conhecer os monumentos portugueses. O convento foi mais um, na lista do Mosteiro da Batalha, Mosteiro de Alcobaça, Mosteiro dos Jerónimos, Castelo de Guimarães, Palácio de Sintra, Igreja de Sta Cruz e por aí fora.

 Nunca fui sensível à sua escala, antes de o olhar com olhos de ver, através dos papeis com a representação das plantas do edifício de 3 pisos e a localização da basílica com as suas torres, os espaços palacianos e os do convento, os grandes claustros, os torreões e a biblioteca e por fim o espaço exterior envolvente. 

 Percebi que é um gigante, digno de atenção e respeito. É tudo em grande - 40 000 m2 de área, a sua fachada nobre tem 232 metros, 29 pátios, 880 salas e quartos, 4.500 (confirmar) portas e janelas, 156 escadarias, 119 sinos que formam um carrilhão que pesa 217 toneladas. Considerando que uma habitação T3 terá uma média de 120 m2, ali cabem 333 fogos dessa dimensão. Talvez isto dê uma noção da escala.

 Estima-se que a sua construção foi realizada por 20.000 operários todos incógnitos, que nunca foram falados e muito menos imortalizados pelo esforço, empenho e desgaste para erguer esta obra gigantesca, numa época em que não existia tecnologia de apoio à construção civil e alguns trabalhadores pagavam com a própria vida. Tudo se baseava no engenho e no trabalho braçal destes homens que se tornam assunto na obra de José Saramago, em Memorial do Convento. Não eram escravos, mas era uma modalidade de trabalho forçado, não podendo abandonar a obra, sendo severamente castigados, se assim o ousassem.

Faz parte da lista do Património Mundial da Humanidade criada pela Unesco, é uma obr- prima do estilo barroco português, resultado de uma promessa feita por D. João V, para que fosse abençoado com um filho. O suporte financeiro foi o ouro vindo do Brasil. O principal arquitecto do projeto, que seguiu execução foi Johann Friedrich Ludwig, arquitecto alemão.

 Em 1730 acolheu cerca de 328 frades, número que foi oscilando ao longo do tempo. Há outros números que se conhecem no período de maior apogeu da comunidade religiosa; consumiam-se por ano 120 pipas de vinho, 70 pipas de azeite, quase 10 toneladas de arroz e 600 vacas.

 Tenho uma simpatia muito especial pela biblioteca, lindíssima, de escala harmoniosa, talvez uma das mais belas do mundo, em que inicialmente, para contribuir para a manutenção do fundo documental, os monges franciscanos criaram uma colónia de morcegos, que se alimentavam de insectos nocivos, durante os voos nocturnos.

 Apesar da sua grandiosidade é uma peça leve, agradável, cor da luz, com pouco contraste entre os panos pintados a amarelo e a cor e textura do calcário, que lhe confere uma beleza suave e nobre.

PAVIMENTO NOBRE

II PLANTA

III PLANTA

PLANTA WATSON

FONTE DASIMAGENS


AQ março 22

09 março, 2022

Bella Ciau

 Bella Ciau, a música que todos conhecem e que já animou muitos convívios - vejamos o seu verdadeiro significado e o simbolismo, já utilizados  na Guerra da Ucrânia.

AQUI



08 março, 2022

DIA DA MULHER em ano de guerra


 

DIA DA MULHER em ano de guerra

 Já todos sabem que defendo a causa das mulheres, e esta ultrapassa a questão da igualdade de direitos perante os homens, porque considero também, que as mulheres deverão ter alguns privilégios para equilibrar a sua condição feminina por vezes dolorosa, ou seja, a igualdade na desigualdade.

 Este ano, neste dia da mulher, dou destaque, à fuga gigantesca de milhares de mulheres e crianças, que enche as imagens televisivas, devido à guerra na Ucrânia.

 Não sei qual será mais fácil, se permanecer para lutar, os homens, ou fugir com os filhos, as mulheres,

 A fragilidade da maternidade expõe-se aos olhares do mundo, sem pudores e impotente para reagir. As mulheres são obrigadas a viver esta tragédia a dois níveis que tentam equilibrar: O nível da sua consciência e o nível da falta de consciência dos seus filhos pequenos, que elas protegerão muito além da exaustão, sem qualquer premissa conhecida sobre o amanhã.  

 Muitas não sabem para onde irão, não fazem ideia, quanto tempo demorarão a chegar a algum sítio e quais os obstáculos que encontrarão, se resistirão, se perderão a vida nas horas seguintes. Umas fazem caminho a pé, outras, metidas em carros, fazem fila para as fronteiras que avança muito devagar. Vivem um estado de alerta constante, tentando gerir esta tragédia sem prazo. Não sei como satisfazem as suas necessidades fisiológicas básicas, nesta sua condição em fuga.

 O leite das mães que ainda amamentam os bebés, seca!

 Imaginem o drama, de uma mãe em que meteu a sua vida e os parcos recursos numa mochila, e esta não chega para tudo. Fraldas, quantas se gastam num dia? Quantas meias são necessárias para manterem os pés secos? Quantas horas aguentam os braços de uma mulher a embalar o seu filho?

 O instinto de sobrevivência levou-as as preparar uma mochila para levar, que passadas umas horas pesará mais do que a serventia do seu conteúdo. Deixaram tudo arrumado e no seu lugar na habitação onde viviam, que chegado o tempo do bombardeamento, se transformará em algo desconstruído, com vidros partidos, janelas desarticuladas e paredes rebentadas, com o limite das propriedades, do passado e dos sonhos, transformado em entulho da geoestratégia internacional manchado de sangue. 

 Estas mulheres vivem um mar de dificuldades, que nós, aqui no sofá, não imaginamos.

 Como explicar, mesmo em voz doce de mãe, os Donbass, as centrais nucleares, os bombardeamentos, as oligarquias, as estratégias militares, os interesses da China, da NATO... a crianças que ainda nem sequer sabem ler e o seu universo é a família? Os seus olhos engolem-nos como responsáveis sobre este mundo louco.

 Tenho visto olhares, que nunca esquecerei - olhares ingénuos alagados em lágrimas e abraçados a um peluche, olhares invadidos de incompreensão receando que lhes roubem também o seu último reduto, o colo da mãe.

 Falta referir as mulheres que decidiram permanecer, ou protegendo os pais, ou pegando em armas para resistir, prontas para lutar até morrer. Sobre estas ainda pesa a possibilidade do estupro, que sempre inferniza os cenários de guerra potenciando a parte feroz e selvagem que alguns homens transportam.

#Enquanto houver uma mulher a sofrer violência, faz sentido celebrar este dia para despertar consciências#

AQ

07 março, 2022

Quem é Davide Martello?

 

Quem é Davide Martello?

Davide Martello tem 41 anos, conhecido como Klavierkunst é um pianista alemão de ascendência italiana.

Tem aparecido no ecrã das emissões televisivas a tocar piano junto a fronteiras ucranianas. Já tem um longo currículo, deslocando o seu piano para vários pontos do mundo, onde existem conflitos.

Tem um piano de cauda sobre rodas, com banco integrado que ele transporta com uma bicicleta. Acredita que a música pode amenizar atrocidades. Espera pelos refugiados ucranianos  e faz chegar a sua música ao coração dos ucranianos que nos últimos dias só ouviram sirenes e bombas.

“Talvez a música dobre Putin. Todos gostam de música e Putin gosta também..”  

Não sei como ele percorre grandes distâncias e até oceanos, mas o seu currículo é admirável

·      No Natal de 2012 tocou no Afeganistão, para os soldados em Mazar-i-Sharif, Kunduz e Termez (Uzbequistão).

·      Durante os protestos do Parque Gezi, na noite de 12 de junho de 2013, um concerto foi realizado na Praça Taksim ,

·      Ele também se apresentou na revolução Maidan em Kiev e na guerra civil em Donetsk em abril de 2014.

·      14 de novembro de 2015, Martello andou de bicicleta com seu piano de cauda para o teatro Bataclan (o local onde 89 pessoas foram mortas em um ataque terrorista) e começou a tocar " Imagine " de John Lennon em homenagem às vítimas dos ataques de Paris para uma multidão reunida do lado de fora do salão.

·      Em 6 de outubro de 2018, Martello apresentou-se na demonstração " Wald retten - Kohle stoppen " contra o corte da floresta de Hambach.

·      Em junho de 2020, ele tocou em Minneapolis, Minnesota, durante protestos após o assassinato de George Floyd.

·      Em março de 2022, toca na fronteira ucraniana/polaca.

Nota: o outro, que não escrevo o nome, porque não lhe faço publicidade e que “ama pelos dois”, foi tocar num projeto de um teclado para a frente da embaixada da Rússia em Lisboa – não sei se foi para irritar o Putin... ok irritação a mais pode dar num AVC!  


05 março, 2022