08 março, 2022

DIA DA MULHER em ano de guerra


 

DIA DA MULHER em ano de guerra

 Já todos sabem que defendo a causa das mulheres, e esta ultrapassa a questão da igualdade de direitos perante os homens, porque considero também, que as mulheres deverão ter alguns privilégios para equilibrar a sua condição feminina por vezes dolorosa, ou seja, a igualdade na desigualdade.

 Este ano, neste dia da mulher, dou destaque, à fuga gigantesca de milhares de mulheres e crianças, que enche as imagens televisivas, devido à guerra na Ucrânia.

 Não sei qual será mais fácil, se permanecer para lutar, os homens, ou fugir com os filhos, as mulheres,

 A fragilidade da maternidade expõe-se aos olhares do mundo, sem pudores e impotente para reagir. As mulheres são obrigadas a viver esta tragédia a dois níveis que tentam equilibrar: O nível da sua consciência e o nível da falta de consciência dos seus filhos pequenos, que elas protegerão muito além da exaustão, sem qualquer premissa conhecida sobre o amanhã.  

 Muitas não sabem para onde irão, não fazem ideia, quanto tempo demorarão a chegar a algum sítio e quais os obstáculos que encontrarão, se resistirão, se perderão a vida nas horas seguintes. Umas fazem caminho a pé, outras, metidas em carros, fazem fila para as fronteiras que avança muito devagar. Vivem um estado de alerta constante, tentando gerir esta tragédia sem prazo. Não sei como satisfazem as suas necessidades fisiológicas básicas, nesta sua condição em fuga.

 O leite das mães que ainda amamentam os bebés, seca!

 Imaginem o drama, de uma mãe em que meteu a sua vida e os parcos recursos numa mochila, e esta não chega para tudo. Fraldas, quantas se gastam num dia? Quantas meias são necessárias para manterem os pés secos? Quantas horas aguentam os braços de uma mulher a embalar o seu filho?

 O instinto de sobrevivência levou-as as preparar uma mochila para levar, que passadas umas horas pesará mais do que a serventia do seu conteúdo. Deixaram tudo arrumado e no seu lugar na habitação onde viviam, que chegado o tempo do bombardeamento, se transformará em algo desconstruído, com vidros partidos, janelas desarticuladas e paredes rebentadas, com o limite das propriedades, do passado e dos sonhos, transformado em entulho da geoestratégia internacional manchado de sangue. 

 Estas mulheres vivem um mar de dificuldades, que nós, aqui no sofá, não imaginamos.

 Como explicar, mesmo em voz doce de mãe, os Donbass, as centrais nucleares, os bombardeamentos, as oligarquias, as estratégias militares, os interesses da China, da NATO... a crianças que ainda nem sequer sabem ler e o seu universo é a família? Os seus olhos engolem-nos como responsáveis sobre este mundo louco.

 Tenho visto olhares, que nunca esquecerei - olhares ingénuos alagados em lágrimas e abraçados a um peluche, olhares invadidos de incompreensão receando que lhes roubem também o seu último reduto, o colo da mãe.

 Falta referir as mulheres que decidiram permanecer, ou protegendo os pais, ou pegando em armas para resistir, prontas para lutar até morrer. Sobre estas ainda pesa a possibilidade do estupro, que sempre inferniza os cenários de guerra potenciando a parte feroz e selvagem que alguns homens transportam.

#Enquanto houver uma mulher a sofrer violência, faz sentido celebrar este dia para despertar consciências#

AQ

Sem comentários: