À minha amiga
Anabela
Com um beijinho
11.03.2013
Ass: Francisco Moita Flores
Este foi o autógrafo que Moita
Flores escreveu no livro que adquiri “A opereta dos vadios”, hoje após o
encontro realizado na Biblioteca Municipal de Vila Real, promovido pela Rede de
Bibliotecas de Vila Real, no âmbito da Semana da Leitura 2013. Este encontro
foi organizado pela Editora Leya e pela professora bibliotecária do Agrupamento
de Morgado Mateus, Maria Manuel Carvalhais em articulação com a Biblioteca Municipal
de Vila Real e restantes bibliotecas da RBVR (Rede de Bibliotecas de Vila Real),
com o objetivo de dar a conhecer aos alunos presentes os escritores portugueses
contemporâneos.
As apresentações foram realizadas
por Isabel Machado, representando a Biblioteca Municipal de Vila Real, José Maria
Magalhães, diretor do Agrupamento Diogo Cão e António Carvalho presidente da
CAP do Agrupamento Morgado de Mateus, tendo este último dissertado sobre o tema
da Semana da Leitura, “O Mar”, referindo algumas atividades a concretizar ao
longo desta semana para dar à leitura, o destaque que obrigatoriamente merece.
De seguida Moita Flores começou por
apresentar o seu percurso de vida, que ouvi atentamente, e deixei-me levar pelo
seu tom pausado e sóbrio com que expôs a sua biografia, até que despertei
pensando como era tudo tão interessante e como o seu discurso fluente e fácil era
profundo, sentido e cheio de conteúdo, com alguns apontamentos de humor subtil,
e comecei a tomar notas na minha pequena agenda, que partilharei aqui neste meu
modesto registo.
Falou do conflito entre o sonho de
atingir a imortalidade e a morte, sendo esta o que nós temos como certo, apesar
de desconhecermos o dia, o ano e a hora em que vai acontecer. Sublinhou a sua
ligação aos livros, como objeto físico, com cheiro, com textura, com forma e
volume, onde se pode sublinhar, anotar, dobrar, abrir, e que a internet apesar
de ser um ótimo meio de comunicação/informação, falta-lhe o corpo, o abraço, o
carinho, o sorriso e o beijo, que só existem na vida real. Evidenciou que quem
lê, está melhor preparado para a vida, tem mais sucesso… os que lêem mais são
melhores amantes! …e a propósito declamou….
João
Roiz de Castelo Branco (séc. XV)
Senhora, partem tão tristes
meus olhos, por vós, meu bem,
que nunca tão tristes viestes
outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Declamou
Camões:
Estavas,
linda Inês, posta em sossego
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas,
O nome que no peito escrito tinhas.
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas,
O nome que no peito escrito tinhas.
Interrogou-se (nos): Como se pode ser bom amante sem ler “Amor de
perdição” e “Os Maias”?
Confessou a sua paixão pela Ferreirinha.
Explicou que a família e a escola são as almofadas de ¼ da vida. Os
outros 3/4 tem que ser vividos em autonomia. Expôs as suas dificuldades como
estudante trabalhador proveniente de uma família humilde e da sua grande
ambição de dar aulas na Sorbonne, sonho esse que se tornou realidade e que correu
o risco de resvalar perigosamente para a vaidade, travado logo nos primeiros cinco
minutos com um telefonema para o seu pai, onde este lhe lembrava que a sua
obrigação era trabalhar.
Evocou João de Deus, Camões, Florbela Espanca, Miguel Torga, Eça
de Queirós, Sophia de Mello Breyner, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade,
Shakespeare, Gil Vicente, Espinosa,
Pedro Nunes..
Finalmente deixou uma mensagem a todos os presentes. Referiu que
pela sua experiencia na secção de homicídios na PJ, viu e mexeu em centenas de
mortos, constatou como é ténue e rápido, o espaço que medeia entre o nosso
nascimento e a nossa morte, e assim refletindo sobre isso, decidiu nunca perder
tempo com coisas que não lhe interessam, investindo todo o tempo em fazer ou
procurar fazer aquilo que gosta.
Grata pela sua presença e pela partilha que tive o privilégio de
usufruir.
Anabela Quelhas
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