18 agosto, 2022

O tempo é uma roda gigante


 O tempo é uma roda gigante que nunca passa no mesmo lugar.

Para voltar para trás só mesmo embarcando na memória e na imaginação que são outros carrosséis da vida, mas que já dá para sair da “girafa” e andar cambaleante no sentido contrário. Oiço à distância os meus amigos dizendo, cuidado vais cair e bater com a cabeça e o chão sempre ondulante me convida à queda. Enquanto isso não acontece lembro da minha adolescência, dos banhos na Ilha vestindo o biquini cortado nas jeans coçadas, das matinés no cinema Império, do prego no Bar América e o meu sono embalado no som do kisanji. Lembro-me de ti, mesmo sabendo que não existias na minha vida, sempre estiveste lá, me convidando para dançar um slowzão do Percy Sledge. Me lembro de ser feliz. Olhava dentro de mim e sentia que o tempo passava com a velocidade certa. Dava tempo para brincar, para estudar, ler os livros de cowboys, de xingar os outros e rir no fim como se todos os dias fossem aquele hoje plantado em terra vermelha.

in Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado - Anabela Quelhas

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