02 março, 2007

Outros labirintos


Janelas abertas nº2



Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro

Percorrer correndo, corredores em silêncio

Perder as paredes aparentes do edifício

Penetrar no labirinto

Um labirinto de labirintos dentro do apartamento

Sim, eu poderia procurar por dentro a casa

Cruzar uma por uma as sete portas, as sete moradas

Na sala receber o beijo frio em minha boca

Beijo de uma deusa morta

Deus morto, fêmea língua gelada, língua gelada como nada

Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília

Em cada um matar um membro da família

Até que a plenitude e a morte coincidissem um dia

O que aconteceria de qualquer jeito

Mas eu prefiro abrir as janelas

Pra que entrem todos os insetos


Bethânia e Caetano

1 comentário:

Anónimo disse...

Li com atenção o poema que desconhecia.
Senti-me gelar. O que vejo?
O desespero, a angústia, o abandono.
A perfeição humana assemelha-se a Deus porque o desconhecemos. Quando amamos, nos tornamos solidários, somos bons e silenciosos nos actos com as pessoas, embora não sejamos perfeitos, assemelhamo-nos a Deus. Hoje, disse isto a uma aluna minha pelo telefone. Não sei, mas pareceu-me interessada, apesar de não perceber onde queria chegar. Próximo dos Deuses, só os Deuses. E, esses são inexistentes no nosso convívio na Terra. Eu, pelo menos nunca vi nenhum. A perfeição? A perfeição também não existe. Podemos aproximarmo-nos, mas ser Deus nunca.
Tavez a plenitude e a morte se assemelhem, ao mesmo tempo que coincidem.
Mas, aí é fim.
Nada há mais a fazer!
Beijos. Adoro ler-te, acredita.
Pena.