Procurei por Romeo, procurei por Giulietta, pelas ruas de Verona.
No caminho encontrei a casa de Goethe, que me distraiu do meu objectivo trágico-romântico. Desconhecia que o escritor alemão, setecentista e alemão, tivesse vivido por estas paragens…não viveu em nenhum destes palazzi, mas viveu meio incógnito numa casinha à beira-rua.
Fui seguindo o fluxo humano até à via Capello, numa abstracção constante, dotada de outras euforias, divergentes de Shakespeare: os apelos arquitectónicos veramente interessantes, e a vitrine proibitiva de Versage.
Distraí-me de novo ao entrar para o pátio da casa de Giulietta.
O vão da entrada, completamente recheado de pequenas assinaturas grafítticas, coloridas, sobre fundo negro, do tipo, "Io sono Rafaella, me piaca Romeo", ou "Mamma, sono qui!" Só por isso vale a pena visitar. Nunca vi um painel, com uma textura tão interessante… a uns metros de distância vê-se um mesclado de cores, delicadas, de malha fina, que não parece nada tratar-se de milhares de pequenas assinaturas. Uma beleza!
Fotografei aquelas paredes como se uma obra de arte se tratasse, como se um cartão de tapeçaria cobrisse aquele vão! Que espanto!
Todos fotografavam, não percebia bem o que, mas fotografavam mais à frente, menosprezando aquilo que eu acabava de apreciar e valorizar.
Continuava distraída e obcecada com a entrada.
Fotografei outras varandas, que não eram as da Guilietta, esqueci-me que os dois apaixonados, se enamoravam e parlavam de uno picolo balcone.
Através do zoom fotográfico, encontrei um belo ragazzo, que me observava e sorria per me, espelhando-se na minha lente fotográfica.
Sorria duma vidraça entreaberta, duma outra varanda, um andar mais acima do quarto da Giulietta… sorria, pensando e troçando, talvez por me ver divergente e distraída do meu ângulo de visão turístico, não percebendo que não se tratava de miopia, mas sim da vontade em fotografar um Romeo de verdade.
Diário de viagem, Verona, Abril de 2001
3 comentários:
Sou sincero e uma pessoa que tenta primar pala seriedade dos actos, dos gestos. Falo de emoções que me assolam. O Mundo é algo simples, mas controverso porque as pessoas tornam-no difícil e algo complicado. O que descreves, já o senti algures. Em Arles, cidade francesa e terra de Vicent Van Gogh apaixonei-me, fui seduzido peo empedrado que constitui as suas estreitas e tortuosas ruas que calcorreávamos ao acaso. Sentia, no momento, naquele instante, a angústia de uma espera, uma decisão de carácter decisiva. Se os resultados clínicos na minha esposa e companheira, eram satisfatórios e sem problemas? Enquanto eu e ela caminhávamos pelas ruas de Van Gogh sentíamos um aperto, uma sensação vazia da espera. Apesar do meu constante amor, sonhávamos, deliciados com o Hospital Pediátrico que o talentoso pintor, por certo, elogiaria e aprovaria na tomada de decisão de transformação da casa onde vivera e se dedicara à sua integra artística. No momento, sentiamo-nos semelhantes a robôts, que apanhávamos o incerto comboio da vida, sem autenticar o bilhete da viagem. Eu e ela, não o havíamos autênticado! Não foi de propósito. Aconteceu.
Como Verona ou outra terra linda, a esperança perdurava.
As férias, as minhas férias e as dela não se assemelhavam a um sufoco, longe disso. Havia esperança. Muita esperança.
Uma ignorância indeterminada. O fim da viagem estava no fim da notícia e, tínhamos que aguardar.
Estava tudo bem!
Desculpa a descrição da emoção presente que me vai cá dentro. Não sei por que razão, avivou-me o desejo de a contar, ao ler o teu texto. Também creio que há um espaço para isto, aqui.
Obrigado por este espaço.
Beijos Grandes.
Com consideração e estima.
O sempre amigo sincero.
pena
Por fim, tudo aconteceu
Olá excelsa Ana. Cá ando maravilhado como sempre com o estir@dor e as suas várias rimas.
Esta pequena nota é apenas para a alertar de uma gralha no título deste seu post: onde está "Roemo" deveria estar "Romeu" ou "Romeo".
Desculpe o atrevimento.
Abraços
Sempre seu leitor,
Toke
Luanda-Angola
http://muximangola.blogspot.com
http://neblinametal.blogspot.com
Olá amigo TOKE
Agradeço pela chamada de atenção para aquele "Roemo", que prontamente corrigi. Este estir@dor sem rima, como já deve ter percebido, é desalinhado, anárquico mesmo, troca as letras com a facilidade que também aborda assuntos, sem fios condutores, sem sequência lógica,... é um espaço de liberdade.
Desconhecia até há pouco tempo que, este humilde estirador é lido por alguém da minha terra de nascimento. Fiquei orgulhosa deste pequeno estir@dor, onde cabe sempre mais uma cadeira à sua volta, e onde todo o mundo se trata por tu.
Vou tomar essa liberdade consigo, e convidar-te a voltar sempre, e com comentários.
Abraço
Ana
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