31 janeiro, 2007

Os tugas estão a acordar (cont.)

Os tugas estão a acordar, mas vivem um despertar lento, demorado, de quem não quer sair do túnel do desconhecimento obscuro, necessitando de um recôbro com cuidados assistidos.
Abriram um olho, há uns dois anos atrás, com a exposição de Paula Rego, em Serralves, espreguiçaram-se, e adormeceram de novo, aquele sono, do tipo, oiço, sinto, mas não reajo!
Este ano descobriram Amadeo Souza-Cardoso… foram acordando com a comunicação social a dar visibilidade à genialidade e ao vanguardismo desde pintor do séc. XX, e descobriram que Amadeo, afinal é portuga, nascido em Amarante e que ombreia com Pablo Picasso, pai do cubismo.
Se encantaram, e tiveram a coragem de se olhar ao espelho do conhecimento e do orgulho.
Aperceberam-se da trajectória feita de muito trabalho e de grande criatividade deste pintor, que não se limitou a representar cómodamente a natureza e a realidade amaciada que o rodeava. Constataram a sua permanente insatisfação na procura, na descoberta, na incansável vertente de exploração do seu ponto de vista, do seu olhar, que afinal era partilhado por escassos, artistas plásticos, que comungavam também essa ansiedade, e se tornaram figuras de referência na pintura mundial, localizados no início do século XX.
Amadeo expôs pela primeira vez em Portugal na cidade do Porto em 1916, exactamente há 91 anos, e parece que foi fortemente agredido na rua, por alguém que se sentiu ultrajado com a sua pintura.
Façam um feedback, e recordem tudo o que aconteceu em nove décadas – as transformações sociais, políticas, económicas e a revolução das mentalidades que, finalmente leva os portugueses a atribuír a Amadeu o lugar merecido de vanguardista do séc. XX.
Morreu cedo, foi esquecido durante décadas, não teve oportunidade de construir a sua imagem de artista invulgar e bizarro, como o fizeram Picasso e Dali.
Verdade, é mesmo com Picasso a quem deve ser comparado!
No mundo das suposições, se Amadeo tivesse tido a longevidade de Picasso, também teria pintado a sua Guernica, não lhe teriam faltado motivos (guerra colonial, ditadura salazarista, o Tarrafal) com a vantagem de nem necessitar das fases, rosa ou azul, pois ele era mesmo genial; muito mais bem parecido que o malagano, teria as mulheres que lhe desse vontade, e também teria uma costa vicentina, para se refugiar e curtir o mar, quando se cansásse do Tâmega ou do Sena.
No século XXI os tugas engrossaram as filas de acesso a uma das salas de exposições da fundação Calouste Gulbenkian, ultrapassando os cem mil visitantes, com os espaços abertos até durante a noite, para dar vazão a tanta gente.
Visitei a exposição, ainda calmamente, a 8 de Dezembro.
Não havia filas, mas os visitantes já eram mais do que muitos, para aquilo que é considerado normal.
Os tugas já tinham saído dos cuidados intensivos. A hora já era tardia, 20 horas, tempo de jantar.
Estranhei o grande número de seguranças e bem atentos.
Estranhei não me deixarem entrar com a minha bolsa. Carteiras, sacos e bolsas, obrigatoriamente ficavam no bengaleiro. Nem no museu do Vaticano logo a seguir ao 11 de Setembro! Mas os tugas ainda não lidam de forma racional e coerente com estas coisas da segurança nos museus: as bolsas e carteiras ficaram afastadas, no entanto qualquer visitante poderia entrar com uma navalha ou um x-acto no bolso, dar-lhe a louca e rasgar qualquer tela. Preocupação maior com o roubar, minimizando o estragar.
(cont.)

3 comentários:

Pena disse...

Já há muito que tinha a sensação que era ignorante. A grandeza do Ser Humano é aprender com aqueles, cujos conhecimentos e ideias transmitem aos outros, sem fastio ou enfado. Estão sempre preparados para acordar mentes abertas enviando e divulgando o que sabem, o que sentem, o que conhecem. E, é isso, que os torna próximos de Deus. Não! Não vou falar da exposição da Paula Rego, do brilhante Amadeo Souza-Cardoso, daqui, de Amarante, onde contemplei a sua obra magnífica no museu local ou no pai do cubismo, Pablo Picasso. Não! Escuto-os através de ti. Do que me ensinas. Do que aprendo.
As pessoas que visitam este site já deviam ter reparado que não falho um comentário aqui. Porque razão?
Deixo a resposta à imaginação dos que também por aqui passam, com dedicação e fervor. Por alguma razão é.
Como Professor ligado às Artes deveria escrever um sumário da aula, só que conforme aprendo com crianças e menos crianças, o caderno está cheio e, ainda, não adquiri outro. Pode marcar falta. Assinalei tudo na cabeça e não esqueço facilmente, pode crer.
Beijos.!

Anabela Quelhas disse...

É espantosa a tua humildade, que distingue naturalmente um PROF de letra maiúscula, muito especialmente no trato, dia-dia com os teus alunos. Eu sei disso!És alguém bem especial, aberto para o mundo, inclusivamente para aprender... não será comigo, pois sei que lês imenso e tens uma capacidade de expressão escrita, admirável. Temos em comum, o tal pacto e a qualidade de solidificar uma amizade feita de muitos anos de cumplicidade. É muito bom, ver-te sempre por perto, e olhar-te nos olhos, naquelas reuniões intermináveis, aborrecidas, xatas mesmo, e saber que avalias o caos da mesma forma que eu, que tudo aquilo é um desatino.... e que em ultimo caso...poderei contar contigo para fazer a acta.
(sorrindo, rindo, gargalhando!!!!!)

Anónimo disse...

Vocês os dois são muito interessantes. Diria mesmo, interessantíssimos. Ora continuem lá que quem vai aprendendo sou eu; e muito.

E, já agora, por favor, no fim mostrem-me a acta. Por vezes, na arte, o que fica nos esquiços diz tanto ou mais que a obra final.

Daí que a "acta" seja importante... LOLOLOLOLOLOLOLOL