09 janeiro, 2007

Ainda Távora


Fernando Távora foi um daqueles professores que não se esquecem nunca.
Bom conversador, detinha um sentido de humor notável, homem de grande cultura, arquitecto de referência na arquitectura Portuguesa e pedagogo inigualável.

Desde estudante e durante toda a sua vida, Fernando Távora viajou incessantemente para estudar in loco a arquitectura de todas as épocas em todos os continentes, utilizando-a, desde 1958 até 2000, como conteúdo e método da sua actividade pedagógica. As suas aulas e a sua prática projectual consolidaram, em sucessivas gerações, em Portugal e no estrangeiro, a ideia de que o conhecimento da história e da cultura são indispensáveis para a produção da arquitectura contemporânea.”

Tive o privilégio em o ouvir diversas vezes… a abrir caminhos para os nossos projectos, a criticá-los, a comentar a ementa dos almoços, à hora do café e também a contar as suas viagens, uma delas a Taliesin.
Imaginem este homem a falar para um auditório de jovens, primeiras fornadas depois de Abril, que permaneciam naquele espaço a ouvi-lo uma tarde inteira, sem qualquer manifestação de cansaço, durante 3 ou 4 horas seguidas. Inacreditável. Tinha o poder de prender uma plateia de 200 alunos. Quando Fernando Távora dava seminário no anfiteatro da ESBAP, tinha que se chegar cedo para arranjar lugar, pois nem os acessos escapavam. Era lotação esgotadíssima!
Cada estória, era uma lição de arquitectura, contada na 1ª pessoa, sintetizando no entanto, as diversas influências, englobando o contraponto entre racionalismo e organicismo.
Visitei com ele, Caminha e a Serra do Soajo em Junho de 77, e passei a gostar de história; senti que nunca poderia ser arquitecta, divorciada dessa disciplina, que eu tinha abandonado lá no secundário, vitimada pelos três volumes Matoso ou Espinosa, que todos nós padecemos no antigo 5º ano do liceu.
Uma outra vez, teve a paciência de nos acompanhar a Tomar, Batalha e Alcobaça. Inesquecível, mestre Távora a recitar Camões em contraluz, no interior do mosteiro de Alcobaça, ao lado de Pedro e Inês.
Guardo com grande carinho esta foto, tirada perto de Caminha, eu do seu lado esquerdo, ouvindo-o atentamente, contornando o exterior de um convento abandonado. (cont)

Da esquerda para a direita: Sérgio Fernandes, Tatão, Fernando Távora e Anabela Quelhas.

2 comentários:

Pena disse...

Li atentamente o que pensas deste Professor eloquente e com as ideias no sítio certo. Não sei que dizer. Se representou muito para ti, se te permaneceu na lembrança, deves seguir o seu exemplo, pois és capaz disso e muito mais. Conta mais. Para já perdura um um nome para assinalar, que desconheço totalmente, mas que ficou retido para ti, na tua memória. Não esqueço: Fernando de Távora! Ler-te-ei sempre e às tuas narrativas, pois, também és um exemplo para muitos!
Abraço.
Pena Gil

Anabela Quelhas disse...

Poliedro:
Vai lá investigar o arq. Távora...tem uma vasta obra, mas ver ao vivo é muito melhor. Um dia destes publico um roteiro.
Bj