30 janeiro, 2007

Os tugas estão a acordar

O povo português tem alguma dificuldade em desenvolver e interiorizar sentimentos de orgulho em relação aos seus artistas. Os poetas e os músicos são aqueles que se encontram mais próximos de toda a gente, mas…os arquitectos? os pintores? e os escultores?

Quem não se orgulha de Camões, mesmo que nunca tenha lido os Lusíadas?
Quem fica indiferente a Pessoa?
Quem não idolatriza a Amália, mesmo que só conheça a Casa da Mariquinhas? (eu não, mas...)
Camões e Amália abriram caminhos, cá dentro e lá fora. Até parece mal, dizer-se, que não se gosta de Camões, ou que Amália cantava sempre da mesma forma. (odeio entrar no Panteão de Lisboa e ouvir Amália a cantar fado de manhã à noite, de forma inesgotável, cansa-me os neurónios e o gosto).
Criou-se na memória colectiva um recanto privilegiado para estes dois. E então e os outros?

Quando visito os nuestros hermanos, surpreendo-me com o carinho, que a gente da rua trata os seus artistas e as suas obras. Eu que fotografo à ganância, pelas ruas das cidades, constato o respeito que todos têm pela objectiva fotográfica. São incapazes de passar à frente da câmara, normalmente param e esperam com um sorriso nos lábios, ou então delicadamente me contornam, sem atrapalhar este meu vício, e sorriem sempre.
Experimentem fazê-lo do lado de cá!!! nem reparam em mim e muito menos no que estou a fazer. Atravessam mesmo à frente no preciso momento do clik. Não imaginam sequer, que estou a reter uma imagem de um pormenor interessante das suas cidades, não manifestam sequer a curiosidade de ver o que me leva a fotografar.
Isto não é falta de interesse, é desconhecimento, é iliteracia sobre arte. Nunca, nada, nem ninguém, lhes desenvolveu o sentido de gostar do que é genuinamente português, de ter orgulho das raízes de um povo, do património, da cultura… especialmente do que é belo.

Arquitectos? Conhecem quando muito, Afonso Domingues, aquele que Alexandre Herculano nos contou nos bancos de escola, sobre a sala do Capítulo, Siza Vieira, que não apreciam ou não entendem, e Souto Moura, devido ao estádio do Braga (belo estádio!).
Pintores? Conhecem….dos antigos nem sei,…., dos contemporâneos, a Paula Rego porque pintou Jorge Sampaio, e a comunicação social deu uma certa visibilidade.
Escultores? Conhecem por uns dias e rapidamente esquecem! Alguns retêm Soares dos Reis, eventualmente, Cutileiro, eternamente incompreendido com o seu D. Sebastião.
Na música, como referi, todos conhecem Amália, gostando ou não, Marco Paulo e Quim Barrreiros. Sim, Quim Barreiros! E cadê todos os outros?

Entre os poetas, Camões possui sem dúvida, lugar de destaque na memória de todos os tugas, Fernando Pessoa mais para intelectuais, e os do sul, António Aleixo, poeta popular.
Mas onde ficam António Gedeão, Ruy Belo, Florbela Espanca, Natália Correia, Bocage, António Nobre, Almada Negreiros, António Botto, Ary dos Santos, Manuel Alegre,…? eles são tantos e tão bons!
(cont.)

1 comentário:

Pena disse...

Concordo em pleno, não só pelo acto de dizer que concordo ou tentar ser simpático. É a realidade!
Não amam os valores que Portugal ostenta. Não têm gosto pela Arte, pelos que a seu modo perpetuam a história de um povo. A brilhante cultura do povo português, feita pelos poetas, os pintores, os arquitectos como tu és um exemplo, profundamente desconhecido, ignorado. A iliteracia do olhar para tudo e tudo esquecer de imediato. Eu faço, tento fixar, acarinhar e guardar bem guardado a Arte que me agrada, que sinto, que me diz algo. Desculpa a imagem que construo: um acto de amor pelo que me suscita deslumbre. Encanto! Palavras que sonham, que atiram para fora de nós uma existência sentida.
Olha, ficamos pelos blogs.
Haverá um dia alguém que lhes dará valor, admiração e continuidade!
Acredito nisso.
Beijos e Parabéns pelo que acabas de descrever e anotar de forma tão óbvia e pertinente.