01 fevereiro, 2007

Os tugas estão a acordar

Alguns trabalhos de Amadeo já os conhecia, tive oportunidade de os observar há mais de uma década, na Gulbenkian e num museu mais modesto, mas não menos interessante, junto à paisagem bucólica do Tâmega – um espaço de visita obrigatória, de resto, o espaço onde continuará a residir uma grande parte da obra do pintor.


Mas aqui, em Lisboa, na exposição “Diálogo de vanguardas”, o que resultou diferente e bem, para valer uma nota tão positiva?

- 260 obras todas reunidas no mesmo espaço.

- O percurso bem estruturado, permitindo uma leitura fácil, através da analogia directa com os 36 pintores “convidados”, que se tangenciaram na procura experimental pictórica, como Picasso, Brancusi, Malevitch e Modigliani.

- O óptimo estado de conservação das telas. Os óleos brilhavam, sentiam-se frescos, estimados, de restauração recente, com as texturas visíveis sem se confundirem com fissuras de telas envelhecidas. Tudo parecia feito no mês anterior. Bom trabalho - a inconfundível chancela da Gulbenkian!

- A obra há muito procurada e finalmente encontrada nos Estados Unidos “Avant la corrida”ou “The bullfight”, finalmente exposta! Uma obra belíssima em tons de verde, foi sem dúvida o pólo de atracção da curiosidade dos tugas.


- Reunidas obras que já correram o mundo, tanto no tempo presente com há 90 anos atrás - Amadeo expôs no Armory Show (1913), em Nova Iorque, na primeira exposição de arte moderna nos Estados Unidos.


- A explicação cativante e profunda de pelo menos uma das guias que a Fundação disponibilizou, não só conhecedora da obra do pintor português, das suas raízes amarantinas e ligações à vida de Manhufe, mas também do modernismo, do cubismo, do abstraccionismo, do enquadramento histórico e dos percursos paralelos realizados por outros pintores visionários. O homem que pintava para o futuro, foi explicado num discurso claro, esclarecedor, acessível, recheado de pormenores curiosos, que fizeram a diferença, no olhar curioso e interessado dos visitantes.

Efectivamente uma exposição que mereceu a atenção de todos!... e desiludamo-nos, os tugas estão mesmo a acordar! Velhos do Restelo, não apelem à contramão, que os tugas quiseram aparecer na tv, que havia concertos ao lado e aproveitaram, que o jet 7 assim e assado, que alguns puderam visitar gratuitamente ou a preço mínimo, naaaa, naaaa, naaaa…. Os tugas estão a tomar consciência do real valor dos seus artistas, e a sacudir os seus complexos do estado novo; vão despertando e tomando consciência, que Portugal não pode competir com o mundo em economia, em tecnologia, mas tem um lugar de grande destaque na cultura.

Que pena, esta não ser uma exposição permanente, pois deu-me vontade de voltar mais vezes, pois em cada visita, descobriria certamente mais e mais deste artista, a que Fernando Pessoa se referiu deste modo:

"Amadeu é o mais célebre pintor avançado português"

3 comentários:

Pena disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anabela Quelhas disse...

O comentário foi excluído a pedido do seu autor.

Pena disse...

É brilhante a tua cultura e a tua permanente busca de actualização num campo que deveria interessar-me também. Sim! Talvez seja um Tuga preguiçoso e com pavor de descobrir algo que me perturbe os sentidos por não ter conhecimento da interpretação e da argumentação da surpreendente lógica que estes autores/pintores concebem com encanto nas suas telas tão deslumbrantes e talentosas.
A minha cabeça que me comanda já ouviu falar por alto, do modernismo, do cubismo, do abstraccionismo, do seu enquadramento histórico e dos percursos encetados pelos seus pintores célebres. Competir contigo, sou sincero, ultrapassas-me em muito num trajecto que te torna sabedora e que não pode nem por sombras comparar-se ao meu ! Com receio de me repetir, recebo com atenção e fervor tudo o que me enriquece e me torna apreciador de te ouvir ler, escrever, desenhar e pintar. Descreves com discernimento e imensa lucidez e eu vou captando com interesse e a necessidade evidente e imperiosa de te formular um elogio merecedor. Nisso, podes acreditar! Plenamente! A receptividade da informação agarro-a como posso, sei e consigo. Mais não posso!
Um Abraço pela lição, pelo teu talento e pelo teu indiscutível amor à Arte.
E, acima de tudo, pela tua amizade sincera!