11 fevereiro, 2007

De Manhufe à Bimbi

As décadas passaram… os tugas emigraram, regressaram de férias e começou a nascer a nostalgia do pão de forno, as famílias começaram a aspirar por cozinhas regionais iluminados pelas ideias de la Provence.
Para além dos rés-do-chão amples, a tipologia das habitações dos anos 80, passou a incluir a tal cozinha regional, para reunir amigos na comerzaina. Era esta uma das características que formalmente mencionavam quando encomendavam o desenho das suas maisons. Mas os utentes, ingénuos nestas coisas da arquitectura, esqueceram-se, que o homem moderno, já não suporta fumo, padecendo de ardência nos olhos, que as mademoiselles desgostam de cabelos a cheirar a fritos, que os putos não curtem carregar lenha e recolher pinhas pelos pinhais… quem gosta ir de visita, aos amigos, morfar uma boa sardinhada, não está interessado em regressar com os odores gastronómicos entranhados da cabeça aos pés, empestinhando até o mercedão, na viagem de regresso a casa?!!!!!.


Bom!!!! A cozinha regional, passou a ter forno e grelhador à parte, numa terceira cozinha, onde se pode mesmo fazer o lume no chão como antigamente e dá até para fazer o fumeiro, andar de socos, …. Assim o coração da casa passou a ser continuamente transplantado, desdobrando-se sucessivamente. Nós tugas temos essa capacidade cristã, à semelhança da multiplicação dos pães, de autentica clonagem tipológica. Verdade!!!! Conheço um lá p’ras bandas de Chaves que já vai na 5ª cozinha – isto já não é uma caso de amor com as cozinhas, é mesmo paixão, daquelas bravas!
A cozinha regional, passou a ser exclusivamente para receber - com uma grande mesa maciça (pensam eles), armários de madeira à vista, com desenho pesadão à Paços de Ferreira, prateleiras com tachos e panelas de cobre nunca usados, arranjos de cebolas e alhos pendurados pelos cantos (deve ser para espantar vampiros), coelhinhos e galinhas de loiça distribuídos, segundo o gosto desacertado da dona da casa, tudo enquadrado em azulejo, dizem eles, do século XVII. As felisbelas e as belmiras, rapidamente passaram a marias, a sónias, a neides margaretes, carolines e a katias vanessas. Está certo!
(cont.)

2 comentários:

Anónimo disse...

Neides Margaretes? onde foste arrumar um nome desses? AHAHAHAH
FG

Anónimo disse...

Sim! Tens razão em tudo que deliciosamente escreves com deleite e deslumbramento.
Fixei: Uma cozinha para receber. Essencialmente isso.
Que saudades do outrora. Que ternura do passado. Que desejo do antigamente.
Cozinha actual, igual a cozinha/emigrante, modernidade, tempos que falam por si.
Como lhes chamas com sabedoria: tempos das katias/Vanessas. É assim que se escreve?
Enfim...
Vá lá saber e compreender os Franceses e as repercuções do gosto dos que por lá andaram.
Eu cá não vou nisso...!
Beijos.
Desculpa o atraso no comentário, que entendo como obrigatório neste delicioso blog.
by Poliedro