"E chegamos assim à palavra fundamental de toda esta embrulhada: liberdade.
Os animais (para já não falar nos minerais e nas plantas) não podem evitar ser como são e fazer aquilo que naturalmente estão programados para fazer. Não se lhes pode censurar que o façam nem aplaudi-los pelo que fazem, porque não sabem comportar-se de outro modo. As suas disposições obrigatórias poupam-lhes sem dúvida muitas dores de cabeça.
Em certa medida, de início, nós, homens, também estamos programados pela Natureza. Estamos feitos para beber água, e não lixívia, e tomemos as precauções que tomarmos, mais cedo ou mais tarde, morreremos. E de modo menos imperioso mas análogo, o nosso programa cultural é também determinante: o nosso pensamento é condicionado pela linguagem que lhe dá forma (uma linguagem que nos é imposta de fora e que não inventámos para nosso uso pessoal) e somos educados em certas tradições, hábitos, formas de comportamento, lendas…; numa palavra, são-nos inculcadas desde o berço certas fidelidades e não outras.
Tudo isto pesa muito e faz com que sejamos bastante previsíveis, (…) mas por grande que seja a nossa programação biológica ou cultural, nós, seres humanos, podemos acabar por optar por algo que não está no programa (pelo menos que lá não está totalmente). Podemos dizer “sim” ou “não”, quero ou não quero. Por muito apertados que nos vejamos pelas circunstâncias, nunca temos um só caminho a seguir, mas sempre vários. (…) Não somos livres de escolher o que nos acontece (ter nascido certo dia, de certos pais, em tal país, sofrer de um cancro ou ser atropelado por um carro, ser bonitos ou feios, que os Aqueus queiram conquistar a nossa cidade, etc.), mas somos livres de responder desta maneira ou daquela ao que nos acontece {obedecer ou revoltar-nos, ser prudentes ou temerários, vingativos ou resignados, vestir-nos de acordo com a moda ou disfarçar-nos de ursos das cavernas, defender Tróia ou fugir, etc.)."
Fernando Savater, Ética para um Jovem
Um texto que encaixa bem em diversas situações: encaixa bem na situação do aluno, que independentemente da turma tem possibilidades de dizer sim ou não, e encaixa bem na situação do professor, a quem lhe impõe uma avaliação, e ele não tem que ser receptivo e ficar de braços cruzados.
1 comentário:
Simpática Amiga Anabela:
Sim! Somos uma espécie de programa da natureza que sorri. Está triste. Vive feliz. Sente. Ama. Desama. Sofre. Não sofre.
Enfim, comporta um imenso e grandioso conjunto de comportamentos em face das situações com que depara.
É tarde. A noite entrou por mim.
Os que amo já dormem.
Concordo plenamente com tudo o que referes relativo aos alunos.
A avaliação dos alunos não se direcciona ao seu estado/Pessoa que aceita tudo. Apenas, classifica.
A Pessoa/Aluno tem um mundo próprio. Específico. Maravilhoso.
Será a avaliação válida para um mau aluno que não é feliz? Que não tem poder ao pé de si para o ser?
Olha, creio que um Professor que se diz professor jamais compreenderá uma vida?
Um comportamento? Um ficar receptivo a tudo, aturar tudo, sem reagir de acordo com o seu Ser?
Será amado? Sofrerá de algo? Estará bem psicologicamente e fisicamente? Passará fome ou privações? Terá pais que são pais?
Olha, os meus tenho-os no coração, acredita? Sou pai. Sou Professor. Sou Encarregado de Educação.
Aprecio neles a Pessoa que são, o resto não ligo, porque sei o que tenho, graças a Deus.
A avaliação já é dada pelos pais, infelizmente. Falo da que classifica.
O amor não tem classificação, tem amor e ternura. Carinho.
Já que falas, classifico-os assim.
Jamais ligaria à avaliação "séria".
O Amor que sinto pelo que são é invisível, mas está no que sou. Por inteiro.
OBRIGADO pela reflexão.
Bj amigos
Sei que me entendes. Demasiado bem.
OLha, vou dormir que se faz tarde.
OBRIGADO e DESCULPA!
pena
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