26 março, 2008

Até quando?



Aqui, os brandos costumes misturados com um enorme complexo democrático, tolhe-nos a racionalidade, e a educação converte-se em deseducação.
O ministério da educação assiste a tudo de cadeirinha!
Não defende os professores quando lhes chamam holligans, não gere de forma responsável os desiquilibrios dentro da escola, e tenta a todo o custo, branquear, branquear e branquear, usando uma acção lixiviadora de uma série de anos, com a cabeça permanentemente enterrada na areia, dum deserto de boas ideias.
Não se vislumbra um jeito de inverter as situações.
Ainda há pais que chegam à escola e autorizam o prof a bater nos alunos. Pais da velha guarda, que acham que o prof é lutador de sumô. Quando levam como resposta que a educação se inicia em casa e em casa cada um aplica métodos que acha mais funcionais, mas que na escola o prof não deve nem pode bater, ficam decepcionados, e muitos respondem: mas eu não faço nada dele!
Há outros pais que acham que a escola é local de diversão, deixando os seus filhos transportar para a escola, bolas, telemóveis, skates, bonecos de peluche, revistas porno, game boy, mp3, etc etc. e acham perfeitamente normal que tudo isso seja utilizado durante a aula.
A maioria dos pais adoraria despejar os filhos no portão da escola às oito da manhã, e recebe-los de volta já em pijama, prontinhos para ir para a cama, já com os dentes lavados de preferência, para não terem que assumir os seus papeis de pais, que não sabem representar. As desculpas da eterna falta de tempo, da vida agitada do sec. XXI, da mãe que também trabalha, são apenas artifícios para se convencerem que estarão a agir bem, e sossegar as consciências se um dia acordarem.
Bom, bom, seria mesmo, eles poderem frequentar a escola, também durante o fim de semana e nas férias!
Mas perfeito, perfeito, seria entregá-los no infantário e sairem já adultos com emprego garantido!!!! Um bom emprego, já agora!

Os profs por sua vez vivem preocupados pelo facto de poderem estar a cometer ilegalidades, investindo e alimentando um grande complexo democrático/pedagógico que habita neles, por diversos motivos. A linguagem utilizada na avaliação dos alunos é exemplo disso, rebuscada, retocada e maquilhada para não ferir susceptibilidades. Nada se aborda pela negativa, com receio dos traumatismos, dos vazios de desmotivação, da desistencia, do abandono escolar.
Quando um aluno é desinteressado, arrogante, e uma verdadeira peste, considera-se que coitadinho é sobredotado, e a escola não consegue dar uma resposta positiva a esse caso; quando um aluno causa constantes problemas na sala de aula, dificultando a aprendizagem de todos, diz-se que tem dificuldades de socialização; quando afinal os alunos são brutalmente mal educados, chega-se à conclusão que não passam de anjinhos hiperactivos; quando um aluno é um grande calaceiro, irresponsável, que não pega num livro, diz-se que à luz da análise e avaliação pedagógica é apenas um aluno com interesses divergentes da escola; quando um aluno é muito limitado, que noutros tempos a isso se chamava burrice, diz-se que o aluno tem algumas dificuldades de base que o impedem de progredir na aprendizagem.

Na escola esconde-se, disfarça-se o lado negativo dos alunos, um ano após outro. Provavelmente os proprios alunos nem chegam a ter pelna consciencia do que corre mal. O prof até pode levar com uma cadeira pela cabeça abaixo, mas na hora de por preto no branco, é obrigado a colocar longas luvas brancas.

Quando um aluno ameaça o professor, recorre-se ao psicólogo escolar para averiguar possíveis traumas do aluno. Quando o aluno resolve atirar uma cadeira à cabeça do prof, ai vai a uma consulta do pedopsiquiatra do hospital distrital e normalmente passados vários meses chega como resposta, que o aluno sofreu uma experiência de violência doméstica ou que o aluno transferiu para o professor a agressividade que queria manifestar contra o pai, etc. etc.., ou então que o aluno não tem problema nenhum e o professor é que tem dificuldade em interagir com ele.
E tudo continua igual, ano após ano, é claro, com cada vez mais papel à mistura. No antigamente, de há 35 anos atrás quando o aluno se portava mal, procedia-se ao castigo e averbava-se isso na caderneta do aluno. Hoje instaura-se processo disciplinar, com diversas fases obrigatórias, e quem ler a legislação, mais parece um processo de tribunal, correspondente a crime grave. Somam-se inquéritos, papéis e mais papéis, e parece que a montanha vai parir um rato.... pois dali não sai nada - artificios de papelada "pra inglêsver". VOILÀ!!!!

Efectivamente os professores sentem que pisam em terreno minado de desculpabilização, que é acobertado pela teorias da psicologia e da sociologia, com que foram massacrados nas suas profissionalizações e que encontram nos países com uma pequena experiência democrática, ainda pouco consistente, um terreno fértil para se implantar.
Acrescente-se, que os profs ainda sentem que se espera muito deles, que sejam amigos, pais, mães, avós, psicólogos, animadores culturais, especialistas no trato com invisuais, surdos-mudos, hiperactivos, sobredotados, autistas, tetraplégicos, que evite toxicodependências…enfim espera-se que um professor tire coelhinhos brancos de chapéus, que realize missões impossíveis, e ….que ensine bem com rigor cientifico.

Assim vai a educação…. Até quando?

3 comentários:

Anónimo disse...

Até quando?!
Inês

Anónimo disse...

Até quando?!...
1- Até que um dia... alguém consiga "dar tempo" aos profs para falarem abertamente sobre estas questões e deixarem de "andar esganados" com papelada e "burocracias" que nada servem ao desenvolvimento e aprendizagem dos alunos!
2- Até que um dia... se entenda que o acto mais nobre da profissão docente é o de "ensinar" e não o de "dirigir", "administrar", "mandar", "impôr", "exibir", "ufanar"...
3- Até que um dia...docentes e discentes deixem de ser vistos como "polícias e ladrões"! O que realmente faz falta na Escola de hoje é AMOR! E há tanta falta de AMOR na nossa Escola... aos (entre) alunos, aos (entre) professores! Sim, até quando?!
Eduardo (Ed. Esp.)

Anónimo disse...
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