31 março, 2008

Rapótacho


Palavra, dá-me imensa vontade de rir, esta coisa dos noivos e da contabilidade organizada.
É sério, rio-me, rio-me imenso!
Já os casamentos em si, me põem um sorriso irónico pendurado nas duas orelhas, mas esta coisa da engenharia fiscal, que o governo do sr. Sócrates inventou, é hilariante, faz-me lembrar um rapar de tacho do ministério das finanças.

Os rapazes do governo são divertidos, palavra que são!

Quando faço bolos caseiros utilizo uma ferramenta, que ainda se chama “Salazar”, e serve para rapar bem os restos da massa dos bolos. Claro que o nome de Salazar, foi-lhe atribuído pela semelhança de intenções entre a ferramenta e o ditador.
Agora pretende-se instituir o dever da denúncia, que anda há mais de 30 anos a ser continuamente desvalorizado nos valores morais da sociedade portuguesa.
Volto a rir.
Acho bem. Eu acho bem, bem!


Os convidados que apanham valentes secas, enquanto esperam pelos noivos, podem-se ir distraindo tentando descobrir quem é a florista que fez aqueles arranjos iglantónicos que decoram a igreja, quem foi o estilista que vestiu os pobretanas dos pais dos noivos, e vão fazendo as suas anotações num pequeno bloco que cabe, em qualquer bolso, que depois se revelará de grande utilidade, na hora de manifestar o dever de denunciar.
- Olha a Margarete entra na igreja com um vestido longo vermelho, bordado a lantejolas pretas. Será que foi a D. Encarnação que o fez???? Esta senhora terá a factura dos alfinetes? Já vou apontar.
- Olha a Patrícia Conceição veio-se plantar mesmo à minha frente, com um chapelão tipo corridas de Ascot, que nem me deixa ver para o altar,… vou apontar também, pois poderei ainda descobrir o autor de tão bom gosto. Denunciar gosto eu! Escaranfunchar, ainda gosto mais!


Entra o noivo, depois a noiva, não será o momento para os questionar sobre estes supremos interesses nacionais, mas logo a seguir, irá permitir fortalecer a intimidade com eles, pedindo-lhes para nos mostrar as etiquetas de fabrico, ou os documentos que irão fornecer às finanças.

Afinal o noivo chegou atrasado, ainda esteve a colocar a contabilidade em ordem para depois não ter que interromper a lua-de-mel. Faltava-lhe a factura dos rissóis e da liga da noiva.
Ambas apareceram, dentro das caixas dos camarões congelados que estavam já no buffet. As facturas retiveram um pouco o odor marisqueiro, o que lhe inviabilizou já a possibilidade ignorar as facturas dos ditos cujos, que estavam a pensar passá-los na candonga.




Mas eles pensam em tudo, este sistema resulta a 100%, dumas coisas se passam para as outras, é como as cerejas. Num casamento não se mede despesas! Num divórcio já acontece exactamente ao contrário. Ninguém faz uma festa de arromba quando se divorcia! Talvez por vergonha, pudor, sei lá. Talvez seja complicado fazer o bolo dos divorciados, não sei.

Na festa do casamento há imensa matéria colectável. Mexe com diversos serviços e profissões.
Ora vejam:

....o vestido da noiva, os 50 metros de renda de Sevilha, a roupa interior, as depilações a cera quente e a laser, o bronzeamento artificial, a manicure, a pedicure, os sapatos, os bodies, as tangas, as microtangas, as LolaLunas, as tangaval, os topos, os strings, o espartilho, o cinto de liga, collants, combinações, os robes-chambres, os saiotes, os babydolls, a roupa intima Sado/Maso, as longlegs, os wonderbras, a lingerie comestível, catsuites, os guepiére, as Bondage, cintas, faixas, as sandálias de brilhantes, a tiara, as luvas, a gargantilha de zircão,...
... o noivo janota, terá a asa de grilo, as calças de risca, as cuecas, os boxers, as samba-canção, os peitilhos, as camisas, as gravatas de seda, as meias, as peúgas, os body de rede, os collants masculinos, a tanga de abertura rápida, a tanga de marinheiro, os tank top, o roupão, os chinelos de quarto, os sapatos de verniz, o alfinete de gravata, …relógio patek philip, a tatuagem tribal, os óculos Versage.
... depois temos os lubrificantes, os óleos, os cremes, os gels, os desodorizantes, as bolas, os anéis, as extensões, os retardantes, os estimulantes, os preservativos e outras coisas mais desta engenharia sensual inesgotável.

Imaginem tudo isto com o IVA a 20%!!!!!

Só será necessário actualizar as tabelas e ter um dicionário sempre à mão, na repartição das finanças… dado que há funcionários das finanças que já casaram há bué de tempo.

... temos também os enxovais, os lençóis escorregadios de cetim, os bordados de Veneza, as toalhas da ilha da Madeira, os atoalhados Gucci comprados na feira (alarme!!!!!!! sem facturação!!!!!!!!!!!!!), as cortinas do Aki, os edredons Zarahome, as mobilias da Moviflor, a cozinha IKEA, … já nem falo dos cacos Ana Salazar, e da vidraria Murano, que qualquer um tem no tecto e na cristaleira,... e nas carpetes João Rolo.

Ah, não esqueçam as festas loucas de despedida de solteiro, que terá também uma alínea própria, na listagem da grande farra financeira.

Portanto isto não é apenas uma salada contabilística de croquetes, tapas e doces conventuais. Há os rituais do corte do bolo da noiva (à Viana do Castelo, à Taiti, à Las Vegas), as lembranças para os convidados, a animação musical (que vai desde os Bombos de Arrabães, até ao Plácido Domingo, passando pelo Toy e Tony Carreira), ….os convites, os cabeleireiros, os carros de aluguer, …. Ahhh as alianças, a lua de mel, as flores… as fitinhas do carro de noivos e convidados.

Nunca esqueçam, há o leilão da liga da noiva, ritual assimilado nas ultimas décadas do século 20, que muito tem contribuido para a nossa cultutra e para a dignificação da condição feminina. Toca a registar tudo isso!

Para terminar, os futuros noivos quando regressam da lua de mel, terão à sua espera, para além dos álbuns de fotografias, registos em cd/ vídeo, terão também como recordação o álbum dos números e dos euros, que será…. nem mais, o rol dos líquidos e dos ilíquidos, com design para nubentes, proporcionado pelo digníssimo ministério das finanças, a custo zero, e uma cópia informatizada para mostrar a nostalgia desse dia, aos futuros netinhos.

Ohhh eu gosto disto!

Alguns perguntarão: não seria mais razoável, ir à Expo-Noivos, ou comprar as revistas cor-de-rosa e contactar directamente com as empresas?

Claro que não! E a diversão? Onde ficava?
Assim é muito mais divertido! Isto é uma mais-valia (palavra com muita saída) para o espectáculo "casamento do século 21".
Reparem os novos convites de casamento já podem trazer informações adicionais, tais como, “Casamento com contabilidade organizada nos termos da lei” , “ Casamento em regime free lancer/recibos verdes”, “Casamento em sistema de sociedade comercial” ou ainda “Boda de Casamento isenta de IVA”, melhor, “Fernando Ivo casa com Pamela Joaquina no regime simplificado” e aí nós, convidados, já sabemos com o que poderemos contar, mais ou menos diversão.

Faz toda a diferença!

Nós contribuintes temos todo o direito a estes pequenos mimos, e cá estaremos para tirar dúvidas aos fiscais das finanças!


... hoje é dia de mentiras???? nãããã... só amanhã!

5 comentários:

Jobove - Reus disse...

Rapótacho, aqui decimos Collons !!!

saludos

Pena disse...

Estimada e Incrível Amiga Anabela:
Impressionante!
Fiquei impressionado. Jamais me casaria assim. Penso que só de pensar com isto tudo fico incrédulo. Atónito e confuso.
Fico estupefacto com o teu poder de descrever um casamento, que, por certo, nunca admitiria na vida.
O meu casamento foi o mais simples do Mundo. Por mim e por ela, evitariamos até a boda, quanto mais este preciosismo e pormenorizado requinte de "encaixar" esta forma de casar.
Onde foste tu buscar esta "fantochada" (Desculpa o termo!) toda? Só a ter em conta por gente poderosa e importante.
Sinto-me muito minúsculo perante isto tudo.
Inacreditável.
Creio que é para assustar as Finanças? Só pode ser. Ou o nosso P. M. vai nesta?
Só de acompanhar esta narração brilhante deixou-me cambalear de tonturas imensas, acredita?
Um verdadeiro "Rapótacho" que me faz ficar hilariante, confuso e tonto de todo.
Sempre a ler-te com delícia e encanto pela tua deslumbrante presença com ideias magníficas de apurada crítica social, associada a uma criatividade imensa na tua notável escrita que cativa, prende e arrebata.
Bj amigos de estima que respeitam

pena

Anónimo disse...

OH ANA!!!!!!
Adorei o casamento em regime simplificado. Esse deve ser básico, só mesmo com os croquetes!!!!

Anónimo disse...

e queria eu um dia casar de vestido vermelho......

fica mil vezes mais barato ir ao cinema ou ao lux com os meus amigos para o resto da vida!

ha uma musica que é "e rapa o tacho! e vai acima e vai abaixo!"

lol bjinhos

Anónimo disse...

Sim senhora!...Fartei-me de rir!...