08 fevereiro, 2007

De Manhufe à Bimbi (cont)



Na minha cozinha, o frigorífico continua à vista, assim como o microondas, apenas aderi à placa eléctrica encastrada, que serve também para cozinhar.
Tudo bem à vista e nada é de inox.
Como sou desorganizada nas lavagens, instalei um lava loiças de quase dois metros, onde cabe tudo, mas que ia provocando um enfarte ao canalizador, perante aquela vista imensa e desregrada…enfim, nesta cozinha, ora cheira a alheira, ora cheira a caril, ora cheira a canelonis, ora cheira a muamba, ora cheira a crepes, ou a shop soi – efeitos da globalização e consequências da expansão portuguesa/emigração.
Uma miscelânia de odores que, de facto não combinam com a estética da minha cozinha!
Quando há muamba, falta o respectivo pilão e moringue, quando cheira a caril, falta o sari na cozinheira, quando cheira a canelonis, cadê o vero ragazzo?, quando cheira a shop, falta o chapéu chinês (não confundir com o terminal das chaminés, refiro-me a chapéu com forma de acento circunflexo ou de Mandarim, que desconheço o nome) … um contrasenso total!
(cont)

1 comentário:

Pena disse...

Na minha cozinha o frigorifico também surge bem visível. Na minha cozinha tenho um forno eléctrico com uma uma placa também eléctrica. Encastrados tenho a máquina de lavar louça e o microondas, fruto das implicações e influências assumidas da "moda" e das "tendências", como tu lhe chamas "...portuguesa/emigração". É inevitável porque a cada passo visito a minha família emigrante. Sabes, é capaz de não ficar mal!
Eu sinto-me bem na cozinha. É lá que me perco nas minhas leituras, que não levam a nada. É lá que passo grande parte do meu tempo. É lá que me sento a contemplar o meu jardim, através da vidraça. É lá que me entrego a pensamentos pelo cair da noite. É lá que escuto o silêncio e matuto nele, duvidando da existência que me suporta e me transforma estranho e, quem sabe, inexistente. O seu cheiro, o seu visual, o seu poder acústico.
Enfim, vivo entranhado num espaço que não deveria ser o meu.
Por que o conquistei, então?
Por uma só razão: provoca-me bem-estar absoluto!
Desculpa se a minha sinceridade não era para colocar aqui, neste criativo blog. Mais: deveria sentar-me no escritório ou na sala, como todos fazem.
Não. Fico-me pela cozinha. É lá o meu lugar.
Sempre a considerar-te.
Eu volto se consentires.
Beijos.