15 abril, 2008

O dia D

Foto, Público

Às vezes apetece-me escrever sobre o que se passa na minha escola.
Hoje tivemos um dia D para discutir o entendimento que a plataforma sindical deverá assinar na próxima quinta feira com o ME.
Os professores responderam em grande número a este apelo, ultrapassamos a lotação do auditório.
Foi uma reunião difícil. Houve muitas intervenções, muito debate, muito esclarecimento, e só assim foi possível chegarmos a um consenso.
A classe profissional dos professores é grande.
Todos têm uma opinião crítica sobre tudo, todos têm sempre algo a acrescentar, todos querem gozar de uma independência critica, poder opinar sobre tudo sem qualquer compromisso sindical, ninguém quer sentir qualquer amarra vinculativa a alguma coisa, muitos são impacientes, …. Enfim cada um de nós gostaria de ter um sindicato só para si, que desse resposta rápida e eficiente aos problemas que mais nos afectam, e que se adaptasse em todos os momentos, aos nossos interessas e aos nossos pontos de vista…. Do tipo do telemóvel, em que cada um utiliza à hora que lhe apetece e como lhe apetece, e que ainda dê para tirar fotos.
Há professores que até há pouco tempo continuavam com alguma convicção, da completa inutilidade dos sindicatos, outros identificam-se com as posições de movimentos dos professores, outros ainda mais pacientes, mas conscientes que na hora do “vamos ver”, são efectivamente os sindicatos, as únicas estruturas que os representam e que têm poder negocial com a tutela.
Alguns professores ainda não tomaram consciência que uma grande manif não resolve tudo, dá visibilidade nos media, mostra ao país que há uma classe descontente, dá até para medir níveis de descontentamento (só a Ministra é que entende que 100 mil profs na rua é sinonimo que tudo corre bem), mas depois é preciso uma estrutura organizada que represente legalmente a maioria dos professores e que esteja disponível para a negociação.
Foi uma reunião interessante.
Estiveram presentes cerca de 100 docentes, reunidos desde as 8,30h ate às 12h e das 14 às 16,30h. Foi necessário abrir espaços para que todos apresentassem dúvidas, que questionassem os dois cenários possíveis: “Entendimento ou não entendimento”.
Foi necessário digerir a contribuição positiva de cada intervenção, foi necessário ouvir a alguns colegas que eram do PS, foi necessário ouvir que eram sindicalizados há décadas, foi necessário ver o rosto de desalento de colegas que diziam “Eu votei neles, mas não votei nesta politica educativa, nem nesta equipa ministerial”, foi necessário ultrapassar divergências, foi necessário atender às preocupações de cada um, foi preciso mandar calar n vezes, foi necessário cochichar com o colega do lado, foi necessário rir, foi necessário aplaudir, foi necessário o microfone, foi necessário fotocopiar o memorando, foi necessário ultrapassar pormenores formais, foi necessário incitar à união… sei lá os professores sentem-se empurrados até à parede, pela espada afiada que é a politica socialista da educação.
Os sindicalistas sem terem realizado uma reunião brilhante, conseguiram manter a calma, gerir as intervenções de forma respeitosa e conduzir os trabalhos até se chegar a alargados consensos, e à conclusão necessária: confiar na plataforma sindical.

É interessante verificar como os media, os nossos governantes e obviamente com a “nossa ajuda” olhando apenas para o nosso umbigo, conseguiram colar aos sindicatos, a imagem de uma praga nas relações laborais. Claro que esta atitude entende-se do lado do patronato, e dos governantes. Já não se entende do lado dos trabalhadores, que virando-se contra as suas próprias estruturas, ficam completamente a descoberto dos desvarios das politicas neoliberias. Os professores que no fundo são os intelectuais da nossa sociedade, e por isso bem informados têm aqui uma responsabilidade acrescida. Nos últimos anos temos estado pouco atentos a estes jogos laborais.
É necessário unir, a corda já não tem mais por onde esticar.
E continuamos a testemunhar:
"Então agora fazer cumprir a lei é chantagear?"
"Então agora fazer cumprir a lei é chantagear?"
(Mª de Lurdes Rodrigues respondendo a Ana Drago)
DESESPERANTE!

5 comentários:

Anónimo disse...

...há pontos do entendimento difíceis de digerir, digamos assim...

Anónimo disse...

E pensas que foi só na tua escola?
J. A.

Anónimo disse...

Concordando ou não com os sindicatos, são eles que legalmente nos representam. Imaginem que recusavamos, a plataforma entrava em cisão, acreditem.

Anónimo disse...

Quando somos (versus sabemos ser) professores, mais que as Políticas-partidárias, estão os nossos problemas educativos (da classe). Filiado no PS há quase 25 anos, congratulo-me por saber (vi)ver essa diferença... evidentemente que desanimo ao ver algumas pessoas que, o que realmente pretendem, é "bater no PS", não tanto pelas suas razões educativas de fundo, mas por estarem à espera que a situação político-partidária mude, para conseguirem os seus intentos meramente pessoais-individuais e não colectivos ou de classe. Esses, são os que eu mais temo ou mesmo os que mais abomino. O Dia D foi fantástico: falámos olhos nos olhos dos nossos problemas! Evidentemente que deu para ver muitos "camaleões", "calculistas" e sobretudo "estrategas", à espera que dias diferentes surjam, não para a classe, mas para eles-próprios!
Uma coisa é certa: a Ministra deveria pedir perdão aos professores e ao país, por durante todo este ano lectivo, ter posto os professores em alvoroço permanente, muito prejudicando os alunos, que óbviamente são as principais vítimas desta Reforma, que ninguém quer, que ninguém conhece e que nunca foi (ainda) experimentada em sítio algum. Uma palavra final: parabéns a todos os colegas e a todos os Sindicatos e Associações Profissionais e Científicas de Professores, devidamente constituídas, transparentemente conhecidas! São essas (e só essas) as que verdadeiramente nos representam e nos dão a segurança mínima garantida.
EduardoAlves

Pena disse...

Esta simpática Senhora (Não quero ser deselegante) não bate bem.
SILÊNCIO!

Beijinhos

pena