13 dezembro, 2006

Senhora Professora

Já lá vai uma vida!
Conheci-a numa altura algo controversa e indefinida da minha existência.
Confesso que tive sorte. Uma imensa sorte!
Ensinou-me o valor da mais pura e simples amizade.
Inequívoca!
Sentida!
Verdadeira!
Ela sabe apaixonar-se facilmente pela vida e, entregar-se totalmente a ela. Com amor e dedicação. Sabe apreciar as coisas, as pessoas e os actos quando são belos, assumidamente perfeitos, onde tudo, infelizmente soa a falso e a imperfeito.
Tem um sentido de oportunidade preciso e intenso, bem guardado em si.
Revela um companheirismo e uma presença constantes nos instantes difíceis, penosos e dolorosos.
É inqualificável na ternura solidária, pois, abraça os momentos com o que pode dar e não dar! É um portento de alegria e satisfação na ajuda solidária a tudo o que a envolve e a tudo o que a rodeia. Preocupa-se e reage sempre como sente e vê as coisas, fiel ao seu pensamento que nunca atraiçoa e nunca o violenta.
-Cala-te! Estás a exagerar!
- Só consigo dizer: -Nunca estive a ser o mais sincero em toda a minha Vida! E,faço questão que se congele esta afirmação no livro da vida para que nunca se perca! Tomem nota: bem congelada porque é visível. É real. Não! Não é uma professora qualquer. É uma Professora Especial que se aprende a gostar, sem a qual a Educação, a autêntica Educação e, falo de Seres Humanos que são os alunos, ficariam mais pobres, mais desamparados.
Quem disser que é uma professora como qualquer outra, não sabe, ignora, o que de mais puro e belo é uma entrega incondicional aos alunos, ao futuro destes, num mundo tão competitivo e exigente que lhes vai surgir pela frente. A conquistarem o direito pleno a serem felizes e a viverem a sua própria felicidade!
Esqueceram-se que a felicidade existe?
A felicidade existe na escola e fora dela! Perguntem-lhe porque ela é assim. Porque age assim? É um convite! Façam-no!
Aprendi com ela a preservar um carácter. Aprendi a guardar e a lutar pelos valores e os ideais que transporto em mim. Por tudo isto a que sempre me habitou e faz parte do que sou. Do que penso! Do que sinto!O valor da pedagogia! O valor da magia de ensinar e educar! O valor de me transcender quando é preciso e quando não é preciso! O imenso valor da entrega à Arte de Ser! O valor de viver num abraço a todos os que se agitam e movem num estabelecimento escolar, minimamente organizado, cuidado, respeitado.
A estimar tudo o que mexe ali!
O valor de inovar!
O valor de criar!
O valor de imaginar!
Até o valor de sonhar!
E, eu tenho de fazer uma pausa. Prolongada. Reflexiva.
Comecei a olhar. Comecei a apurar o olhar para tudo à minha volta. Matutei e matutei! Comecei a ver tudo feito de crianças, a compreender e a conquistar o seu encanto! A ajudá-las no seu sofrimento, porque às vezes sofrem, na angústia, nos momentos menos bons.
Ali tudo respira. Tudo tem sentimentos. Ali tudo ama.
Como tudo ali poderia ser BELO! Ela ensinou-me a ser eu próprio. Sim! A ser livre de pensar! A acabar com o alheamento e a minha forma de vivenciar uma personalidade amargamente silenciosa e remetida ao meu interior, como a minha personalidade era feita.
Ela descobriu-me algo.
Sempre vivi de livros.
Sempre me escrevi e escrevi os outros.
Ela descobriu que havia algo. Algo na minha conduta que valia a pena apurar. Perscrutar. Esclarecer. E, eu descobri-me! Descobri-me a olhar os corações das crianças repletos de bondade, ansiosos por serem amados, aconchegados, estimados e escutados. Descobri-me a ensinar, a ouvir atentamente porque contam uma vida? Porque contam imensas vidas?
Fizemos ambos isto tudo.
Tiramos o adesivo da boca em que estávamos amordaçados num eterno silêncio de há muito e inspirámos-lhes o amor de viver! A realizarem sonhos. A realizarem os seus mais belos sonhos escondidos e por concretizar. Inacabados!Sofridos!Sonhos de heróis incompreendidos, por serem como são. Verdadeiros lutadores inconsequentes e de fibra! Pequenos Heróis que lambem e limpam o suor com a manga da camisa que não têm, com o desejo de serem compreendidos e amados. Afagados num abraço desmedido e sem fronteiras de qualquer espécie.
Só compreendidos e amados!
Sim!
Ficariam satisfeitos e eternamente agradecidos.
Sentir-se-iam bem, creio.
Ela tudo isto me ensinou. Sim! Ensinou. Sorrindo!
Com um sorriso inesquecível!
Se fosse quem de direito: PREMIAVA-A! Dava-lhe um louvor! Dava-lhe um certificado de compreensão de vida! Não que ela o desejasse ou quisesse, mas sim porque merece. Merece, PLENAMENTE! Ela sabe fazer as pessoas estarem de bem consigo próprio! Ela sabe o que é a amizade! Ela sabe amar as crianças como ninguém. Não rindo, mas sorrindo! Entregue a uma capa oculta por ser bela. E, acima de tudo sabe dar tudo o que tem e o que não tem!Enche-me de orgulho conhecê-la!
-Quem é? - Perguntam, apenas com curiosidade. E, eu respondo, convicto de que nem todas a merecem:-Ela sabe!- E, isso é o que importa! Isso é que me importa! Considero-a como da minha família. Com a ternura de uma irmã. Lado a lado.
OBRIGADO, Senhora Professora por ser assim!
OBRIGADO por me ensinar a eu ser como sou! Penso que fui um bom aluno e posso dizer o que disse. Repetir, se for imperioso, tudo outra vez ou mais vezes, as vezes que forem necessárias, para que não a tomem como uma Professora qualquer, que não é! Um bem-haja, Senhora Professora! E, perdoe-me a franqueza! A franqueza de uma imensa amizade que não confunde as coisas, não as mistura, mas respeita-as!
De forma inconfundivelmente sincera!
Pode crer!
By Poliedro Dezembro de 2006

5 comentários:

Pena disse...

É sempre bom reler o que foi para mim uma lição de vida exemplar.
Atenciosamente.
Beijos.

Anabela Quelhas disse...

Ainda falta a respectiva foto, mas hoje tudo está lentinho no meu pc... e a mim, dói-me a paciência!

Pena disse...

"..., dói-me a paciência!".
É com frases destas que te tornam um Ser Humano enorme! Desculpa a frontalidade, a franquesa!

Anabela Quelhas disse...

Pena: E não dói? Tu é que diagnosticas mal... essas dores de cabeça resultantes da intersepção de rectas ou simples segmentos, não passam de dores de paciência.
... não há paracetamol que resolva... só uma boa cama, um livro interessante e um sonho em azul. Mai nada! eh! eh! eh!

Pena disse...

Senhora Professora:
Estive a pensar. Sabe, eu penso!
Quando penso e digo que penso, as pessoas riem-se porque não entendem, não percebem, o que vejo, o que sinto, o que me vai cá dentro e que é meu.
Não se preocupe com a fotografia. A fotografia não é necessária.
A fotografia vejo-a, todos os dias quase... Li isto, em qualquer lado.
É visível e real, a fotografia. Vista assim, é melhor. Muito melhor...