29 setembro, 2021

O pessoal que não vai votar

 

O pessoal que não vai votar


            O pessoal está farto de votar?

            Que raio de democracia é esta em que um grande número de pessoas se demite do dever/direito de votar?

            Desde 1982 a abstenção sobe como um balão.

            É urgente reflectir sobre isto.  Como se pode criticar as acções políticas, se depois cruzam os braços e não vão votar?

            Antigamente o aumento da abstenção justificava-se com a meteorologia – chovia, estava frio, estava quente, um dia cheio de sol e a malta foi para a praia...

            A meteorologia esgotou-se, e actualmente é urgente avaliar esta situação que se revela um pouco dramática. É evidente a tendência, para muitos preferem fazer parte dos problemas e nunca tentarem ser parte das soluções. Ser parte da solução é de facto ser activo, consequente, ir votar, escolher, selecionar, contribuir para a melhor escolha possível sobre quem gere este país. Ser parte do problema é criticar quem faz, é inventar e reinventar questões, é ligar o complicómetro criando obstáculos e seguir teorias obscuras colhidas nas redes sociais, mas permanecendo sempre do lado do problema, alimentando-o e engordando-o até à obesidade.

            A abstenção justifica-se também pelo foco da eleição, se é para eleger deputados ou se é autárquica. No primeiro caso vale o distanciamento como justificação da ausência, no segundo vale a menorização da importância das mesmas. O resultado é o mesmo.

            Segundo os politólogos “Há 3 tipos de abstencionistas: o estrutural (o que não vota há muito tempo), o segundo que é o que sabe que o partido que está mais próximo dele não vai ganhar e o terceiro que é o que hesita entre o partido que vai ganhar e o que é mais próximo dele“. Será?

            Os cidadãos vão-se afastando progressivamente do acto eleitoral e o sinal de alarme começa a soar. No ano passado o “bicho” serviu de justificação, agora já poucos ligam ao “dito cujo”...

            A malta vai ver os ciclistas a passar na rua, vai ao shopping a toda a hora, vai aos concertos, vai esticar o esqueleto ao fim da tarde,... a malta vai até à praia, vai para a esplanada, vai para a fila do Mcdonald’s... a malta até está com saudades  de ir para a discoteca, aguarda ansiosamente uma black friday, e até dá a volta dos tristes ao fim da tarde e bebe umas bejecas num bar ranhoso....mas, a malta acha uma seca ir votar!!! A preguiça fala mais alto e deixam-se ficar pelo sofá a ver a Netflix praguejando “que chatice, hoje as televisões vão dar eleições toda a noite!”.  

            É mais fácil deixar os outros escolher, assim se escapa da responsabilidade, possibilitando a frase batida “nem sequer votei nele”, ou seja, a responsabilidade é toda entregue e de bandeja, aos 50% que levantaram o rabo do sofá e foram até à secção de voto e nem sequer esperaram muito tempo para votar.

            Não há desculpas. Há irresponsabilidade e falta de reconhecimento e valorização por todos aqueles que organizam o processo eleitoral e passam o dia nas mesas a receber os eleitores.

            Custa tanto mudar mentalidades!

            Ainda há os resilientes que no local de trabalho ou no seu círculo de amigos, perguntam bem-intencionados, “então não vais votar?” os argumentos do não, convertem os resilientes em perfeitos idiotas e néscios do seu grupo, como se eles é que estivessem errados.

            O Presidente da República fez o apelo ao voto e até referiu, "É um voto decisivo. Nos fundos europeus, a parte mais significativa vai ser gasta durante os quatro anos pelos autarcas que são escolhidos, hoje". Nem assim!

Publicado em NVR, 29/09/2021

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