15 setembro, 2021

ELEIÇÕES À VISTA

 

Eleições à vista

            Eleição é um processo de escolha de alguém ou entidade, para ocupar um cargo, auscultando a vontade de todos. Na organização das sociedades, desde que o homem optou pela vida sedentária tornou-se necessário escolher os mais fortes e mais capazes para desempenharem certas funções e que representassem a comunidade.

            A nossa sociedade está organizada assim e parece-me bem. A democracia caracteriza-se exactamente pelas bases poderem eleger os seus governantes através do voto. A eleição parece ser o ponto-alto de qualquer democracia.

            O voto quer dizer que a nossa sociedade, apesar dos conflitos, dos erros e da corrupção, continua a permitir que cada cidadão tenha uma posição activa e avaliativa, que se traduz no acto eleitoral.

            É importante termos vários partidos para podermos escolher uma das equipas. Eleições com partido único, como era no tempo do “antigamente”, são estranhas e monótonas porque já sabemos quem irá ganhar. Não é possível haver surpresas e muito menos mudar.

            Já assisti a muitas campanhas eleitorais e estou sempre atenta às técnicas do marketing utilizadas na publicidade de cada partido, onde tudo é importante. Sobre a imagem do candidato, todos querem apresentar com rosto saudável, todos querem parecer ter à volta de 40/50 anos, simpáticos, que transmitam confiança, responsabilidade, inteligência e maturidade. Ninguém quer parecer um chato, desmazelado e com mau hálito. O fatinho e a gravata foram substituídos pela camisa simples de colarinho aberto. Antes, posar sem gravata, conotava-se a bandalhice, agora pode significar que o candidato é homem activo que põe as mãos na massa. Os modelos e padrões alteraram-se. A cor do fundo dos cartazes, este ano domina o verde. É também importante a simbologia das cores, verde simboliza esperança. As cores próprias de cada partido foram-se diluindo no sentido de captar melhor algumas franjas de eleitorado pouco informadas. O texto deve ser curto, criativo e marcante. As pessoas têm preguiça de ler. Fica difícil arranjar texto criativo depois de tantas campanhas eleitorais. Alguns textos podem ser alvo de piadas, de brejeirice que pode ensombrar a campanha eleitoral – há muitos tesourinhos deprimentes por este país fora.

            Todos sabem que não sou filiada em nenhum partido e apesar de muitas e variadas vezes não saber o que quero, sei sempre o que não quero. Por vezes sou irónica... o humor permite-me digerir melhor os “sapos” da vida. Sempre tive esta opção de saber o que não quero e até creio que Woody Allen deve-me ter lido em algum lugar (brincadeira).  Talvez tenha sido Friedrich Nietzsche quem inventou “Eu não sei o que quero ser, mas sei muito bem o que não me quero tornar.”

            Saber o que não se quer, significa que conhecemos o nosso interior, os nossos labirintos mais profundos e rejeitamos tudo aquilo que contraria a nossa natureza; permite-nos logo à partida em qualquer situação, eliminar uma parte dos cenários que se nos apresentam, em que a maturidade nos dá a certeza que nem vale a pena discutir, e em simultâneo confere-nos uma grande abertura para o futuro, a inovação e a mudança.

            Na política, profissionalmente e no meu mundo afectivo sei o que não quero. Não sou daquelas pessoas que dizem que não lhes interessa a política. Sou política, preservo o meu sentido crítico e agrada-me votar. Se não votar sinto-me incapaz de criticar. Nestas eleições autárquicas, irei votar como sempre fiz. Na minha cabeça mistura-se o conhecimento, as minhas opções e sonhos e quando já estou baralhada acciono o botão da emergência, que se chama ideologia. A ideologia funciona como algo que permite aferir situações, quando os discursos e as práticas são confusos e contraditórios. O desgaste político, a manipulação dos media, por vezes torna necessário, regressar à História das Ideologias, para nos sabermos reorientar. A ideologia é quase um “GPS” deste trilho cheio de obstáculos, armadilhas e demagogias. Ligo o meu “GPS” algumas vezes, porque no final, tem que prevalecer o humanismo. O humanismo é o meu partido político.

            Se forem contra o SNS, se forem indiferentes à violência doméstica, se criticarem a liberdade da mulher em abortar, se contrariarem a eutanásia argumentando ingenuamente com os cuidados paliativos,  se confundirem pobreza com falta de vontade de trabalhar, se apelarem ao lucro empresarial em detrimento de salários dignos, se apoiarem o radicalismo de não aceitar o nosso passado histórico, se forem homofóbicos, se tentarem criar teorias para branquear a corrupção, se não defenderem a escola pública e o direito à educação, quem fizer humor idiota sobre pedofilia e maus tratos, se não respeitarem os direitos humanos – eu estou sempre do outro lado.

Um, diz que Vila Real à frente

Outro, diz que vamos juntos

Outro diz que mudar está nas nossas mãos.

            - Credo, terei que votar com os cotovelos, sei lá!

Oublicado em NVR, 15/09/2021

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