30 novembro, 2006

mudar de página


"Começava a escrever sem saber o que ia escrever. Acreditava que eram as palavras que se iam escrevendo umas às outras, cada uma trazendo consigo a seguinte, pois que a vontade e a premeditação me impediriam de atingir o meu objectivo, que desconhecia, que só se revelaria pouco a pouco conforme as frases, o parágrafos, se fossem escrevendo. Qualquer frase pensada antes de se escrever não prestava para nada, disso tinha a certeza. O que mais importava era o que transportava sem que pudesse saber para onde. Tinha também a superstição de que o tamanho da história que escrevia não podia ultrapassar um página, simplesmente porque o ter de mudar de página quebrava a magia de que ela, a história, precisava para viver. Eram, por isso, histórias do tamanho de uma mão."

Pedro Paixão, in " Asfixia"


2 comentários:

Pena disse...

Obrigado pela citação do Pedro Paixão. Diz-me sempre algo para reter.
As palavras e as histórias são feitas do tamanho da mão.
Lindo!!!!!!!!!

Anabela Quelhas disse...

Essa "do tamanho da mão", tem muito que se lhe diga, não achas?
O Pedro Paixão inventou uma frase que exprime a escala humana que uma boa estória devo conter. Sem esse ingrediente as palavras não interagem conosco, e perdem todo o significado... e acho também que o tamanho não se mede em cm, pois há grande romances que cabem na nossa mão, porque exaltam o melhor da humanidade; é uma expressão que retrata em simultâneo, a intimidade e a cumplicidade que se gera entre o escritor e o leitor.