A origem das bonecas remonta à Antiguidade, sendo encontradas no Egito Antigo, por volta de 2000 a.C., executadas em madeira, barro ou outros materiais. Inicialmente, não tinham a função de brinquedo como as conhecemos hoje, eram objectos fúnebres encontradas em túmulos, sugerindo a crença que numa vida após a morte as crianças poderiam brincar ou então era uma suposta representação da criança falecida. Elas também eram dedicadas a deuses, como Afrodite, em rituais que pediam sorte no amor.
Na Idade Média, a Igreja Católica passou a
considerar as bonecas como objectos ligados à feitiçaria, o que levou a
perseguições e queimadas de bonecas e das suas proprietárias.
A partir do século XVIII, com o desenvolvimento
da indústria, as bonecas começaram a ser produzidas em larga escala e a
popularizar-se como brinquedos infantis.
Actualmente os bebés Reborn são “bonecos
extremamente realistas, feitos para parecerem bebés verdadeiros (reborn =
renascido). Eles são criados com detalhes minuciosos, como pele, cabelos, unhas
e até veias, utilizando materiais específicos que proporcionam uma aparência
natural e uma sensação semelhante à de um bebé real ao toque.” (IA)
A sua representação é cuidadosa e detalhada.
Para além do rosto fofinho, temos o corpo representado de forma realista que
impressiona e assusta.
A tecnologia bebé Reborn deu um salto gigante.
O processo de fabrico é altamente tecnológico, com scanarização de rostos reais
para gerar moldes hiper-realistas, contando com a impressão 3D. O uso da
tecnologia bebé Reborn reduz tempo de produção e garante modelos mais
consistentes, concluídos depois com pintura digital que simulam tons de pele,
luminosidade, vasos sanguíneos, manchas e micro-detalhes, recorrendo a diversos
softwares e à inteligência artificial. como assistente de criação.
Hoje existem comunidades, tutoriais on line,
com webinars, workshops, grupos de Facebook, fóruns e canais de Telegram recheados
de informação sobre esta recente loucura dos bonecos com detalhes tão realistas
que chegam a enganar os olhos mais treinados.
E para que servem? Como primeiro destino está a
parte lúdica das crianças, depois os coleccionadores e finalmente a parte mais
estranha, são utilizados para fins terapêuticos.
Algumas pessoas usam esses bonecos como
companhia, especialmente aquelas que passaram por perdas, problemas emocionais
ou que têm dificuldades em se relacionar com bebés reais - esta é a parte
considerada por mim, como terapia obscura da saúde mental.
Dizem que: “existem programas terapêuticos,
onde os bebés Reborn ajudam crianças com necessidades especiais, idosos ou
pessoas com transtornos emocionais, a desenvolver empatia, cuidado e rotina. Para
muitas pessoas, os bebés Reborn podem desempenhar um papel importante na saúde
emocional e mental. Eles podem ajudar a aliviar a ansiedade, a solidão e a
tristeza, proporcionando uma sensação de conexão e cuidado. Para alguns, cuidar
do boneco é uma forma de expressar o desejo de maternidade ou paternidade, ou
de manter viva a memória de um bebé perdido. “
Até que ponto é uma terapia e não uma paranóia?
As questões emocionais não resolvidas, com rigor, como o luto ou solidão, não
devem ser tratadas no divã dos psiquiatras e psicólogos? Inquieta-me a
tentativa de preencher vazios afectivos com o que nunca poderá ser humano.
Vivemos tempos em que a fronteira entre
fantasia e realidade está cada vez mais diluída, nem sempre de forma saudável.
Quanto a mim, sobre este tema só aproveito o
processo de produção, de investimento financeiro gigantesco, que deveria ser
destinado para resolver problemas estéticos de mutilados por doença, trauma ou
amputação, que necessitam de próteses realistas, confortáveis e adaptadas.
2 comentários:
Excelente publicação!
Obrigada, Ana.
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