Umas vezes digo
que fui aluna do Siza durante 3 anos, outras vezes digo “carinhosamente” que
levei com o Siza durante 3 anos. Tivemos uma relação de agitação da minha parte
e indiferença da parte dele. Andei a fazer levantamentos de caixilharias no
Passeio das Virtudes à chuva, para a cadeira de Construção II, com trama de
milímetro a milímetro suada, com régua T e esquadro. Pendurei as peças
desenhadas na parede da sala de aula , no dia da avaliação, produto de muiiitas
horas de trabalho, poucas horas de sono e onde a minha vista começou a cansar.
O Siza entrou na sala a fumar e deitou um olhar de relance pelos trabalhos dos
alunos. Comecei a ferver em pouca água perante a indiferença dele. Tive assim
alguns conflitos silenciosos, que depois se resolviam à hora do almoço na
cantina, partilhando o café. Foi o prof mais teimoso que conheci, por vezes no
meu desespero de não arranjar argumentos capazes, eu pensava, “Ele faz-se de
burro! Este prof é impossível! Desesperante!”
Nunca esqueço a
sua voz monocórdica, nas sessões realizadas no anfiteatro, a explicar o
procêsso e o projêcto com o seu sotaque tripeiro.
A sua Bomba
Amarela (Casa Beires) foi a maior lição de arquitectura que ele partilhou com
todos os seus alunos. Tive a sorte de assistir a uma apresentação de uma obra
dele, que agora não lembro, e entender exactamente a sua forma de ler e
interpretar a malha urbana de uma cidade e abriu-se uma janelinha na minha
cabeça que provocou uma verdadeira revolução interior, alterando todos os
conceitos que habitavam o meu pensamento. De repente terminei o curso de
arquitectura com a melhor nota, um dezasseis e adquiri uma visão diferente
sobre os aglomerados urbanos, que me acompanha até hoje.
Visitei a Bomba
Amarela diversas vezes, e tanto a piscina de Leça como a Casa de Chá fizeram
parte dos meus momentos de lazer ao longo de alguns anos.
Obrigada Siza.
São 92 anos. Que contes muitos mais!
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