24 julho, 2024

Os bancos públicos (de sentar)

 

Nada melhor do que encontrar um sítio aprazível para sentar, quando estamos cansados ou quando pretendemos relaxar e espairecer. O banco público de sentar, assento colectivo, é bem necessário ao bem-estar físico do Homem e à sua integração social.

O denominado mobiliário urbano visa satisfazer as necessidades dos cidadãos, proporcionar conforto, contribuir para uma melhor qualidade de vida e deve estar sempre interligado com o desenho e a organização das cidades. O banco público é talvez uma das peças mais apreciadas do mobiliário urbano, tantas vezes mencionado pelos poetas e representado pelos artistas plásticos, como lugar de repouso agradável e por vezes romântico. Nem todos os lugares são adequados para a sua localização; praças, avenidas de passeios largos, miradouros, jardins ou áreas arborizadas, são os eleitos para conferir à permanência, repouso e relaxamento em espaço ao ar livre, porque não é só sentar, é preciso sensibilizar os sentidos.

Já algumas vezes, pretendendo ouvir o rio e descansar a mente procurei sítio para sentar nas margens do Corgo, sem sucesso. Com a minha idade nem me atrevo a utilizar aqueles bancos de betão junto ao regato das lavadeiras, desconfortáveis e com acesso dificultado. No parque florestal, os bancos e mesas estão com frequência cheios de garrafas e copos de plásticos resultantes das noitadas dos jovens “preocupados” com o ambiente, seguem-se dois ou três sítios, ao longo do percurso pedestre junto ao rio, com bancos sem encosto. Experimentei levar cadeira desdobrável de casa e ficar no relvado em Codessais a pasmar para o rio e a ler nos intervalos - um sítio de excelência para a prática deste exercício, porém, percebi que eu representava alguém excêntrico e anormal, pelo olhar que me dirigiam todos os que por ali caminhavam. Passei para a nossa Avenida moderna e como sabemos, por ali, em dias de Verão, só à noite é possível permanecer. Restava-me o velhinho Jardim da Carreira (sempre a cumprir a sua função), os bancos do fontanário junto à Renort, pouco limpos localizados num espaço mal-cheiroso devido aos dejectos dos animais de 2 e 4 patas e os bancos da Praça da Sra da Conceição, modernos e decentes.

Percebo agora, que a cidade de Vila Real acaba de sofrer uma “overdose” de bancos públicos. E eu digo: FINALMENTE, QUE BOM adicionando alguns “poréns”, mesmo não tendo visto todos.

Foram mãos cuidadosas que localizaram os bancos na Avenida Aureliano Barrigas. A sua localização está assinalada no chão, portanto não houve erro. Sento-me num deles, e dali apenas vejo os automóveis a passar. A minha cabeça ora oscila para a esquerda, ora oscila para a direita, acompanhando o movimento dos automóveis. Parece que estou a ver um torneio de ténis. Tento respirar fundo, absorvendo o combustível dos automóveis para ver se um pouco de dióxido de carbono reduz o meu sentido crítico. Quem anda a caminhar passa por trás de mim, cumprimentando-me, e quase faço um torcicolo por me virar tantas vezes.

Decido mudar de lugar e atravesso a avenida. Encontro mais três bancos, também com traçado no chão, estudado. Estes, em vez de estarem virados para o trânsito, estão virados para os edifícios adjacentes. Deixo de contar automóveis e passo a ter o meu foco na loja da terapia da fala. Eu que por vezes gaguejo, e plisso imensas vezes atropelando as palavras, fico ali consciencializando-me que terei de agendar uma consulta; mais â frente, outro banco com vista para a Farmácia Seixas e o terceiro, com vista para Regina Sul, que desconheço. Os bancos voltados para a via urbana, com tráfego intenso, são casos a evitar e a anular. Caramba, esqueceram-se que nesta situação, apenas resulta o banco duplo, perpendicular à via de circulação automóvel?! Subo para a Rua 20 de Julho onde os bancos estão localizados entre os edifícios, muito bem seria se não tivessem virado as costas à paisagem.

Perante tamanha operação de dotação de mobiliário urbano, pena foi não agarrar a oportunidade para construir bancos com design personalizado ligado à identidade da nossa cidade, e de linguagem contemporânea; em vez disso, optaram pelo banco tradicional do século XIX,… às tantas redesenhado por Siza Vieira, com o nome de banco de Serralves (ainda não pude ver ao perto e desculpem a minha sensibilidade e franqueza, mas vai dar ao mesmo), que não fica bem, nem mal, ou pelo banco das três tábuas, mais moderno, mas tão fraquinho! Pensem no tanto que se poderia desenhar com as letras V e R, com a curva do perfil do Marão… ou até com o Aleu.

É difícil agradar a todos e é fácil desagradar através destas desatenções - pouca criatividade.

Publicado em NVR em 24/07/2024

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