12 junho, 2024

STO. ANTÓNIO


 Sto. António

Para desfazer equívocos, Sto. António de Vila Real, de Lisboa e de Pádua são o mesmo Sto. António, que nasceu e viveu em Lisboa e depois viveu e morreu em Pádua. Ao longo de sete séculos, as duas últimas cidades argumentaram e competiram entre si sobre a ligação a Sto. António, até que o Papa Leão XIII, para acabar com competições e teimosias sem sentido, declarou-o “Santo de todo o mundo”; talvez tenha sido o primeiro cidadão do mundo, reconhecido já morto e sem nunca saber se o mundo (Terra) era redondo ou plano.

O facto de carregar uma criança que dizem ser o Menino Jesus pode parecer que este santo terá sido contemporâneo de Jesus Cristo, mas não é verdade. António, ou seja, Fernando de Bulhões, o seu verdadeiro nome, nasceu em Lisboa, 1191 anos depois de Cristo: Como currículo breve sabemos que nasceu numa família nobre, pertenceu à Ordem Franciscana, buscava a simplicidade e a introspecção. Pregar sobre as Escrituras era a sua especialidade, levando-o a Pádua. Homem de grande cultura, deve ter sido um dos maiores intelectuais da Igreja Católica do seu tempo. Leccionou em universidades italianas e francesas e foi o primeiro Doutor da Igreja Franciscana. Faleceu em Pádua e foi canonizado, por ser considerado uma santidade. É curioso que quando o seu corpo foi transladado, descobriu-se que tinha a língua intacta, o que provaria que a sua pregação era inspirada por Deus.

Conhecemo-lo como um dos santos populares, porém tinha uma cultura literária invulgar, referenciando, para além da Bíblia, filósofos importantes da Antiguidade. Os seus sermões, para além da vertente cristã e evangelizadora, documentam uma época com a sua evolução social, económica, laboral e até urbanística; condenam a inveja, a avareza, a exploração do outro, a inveja, a falta de ética e o egoísmo - valores transversais a muitas épocas e sociedades, e sempre actuais. Os seus sermões serviram de inspiração a Padre António Vieira, louvando as virtudes dos seres humanos e censurando o que considerava ser o vício dos colonizadores (século XVII).

 É padroeiro dos amputados, animais, estéreis, barqueiros, idosos, grávidas, pescadores, agricultores, viajantes e marinheiros, cavalos e burros, pobres e oprimidos; é invocado para achar coisas perdidas (responso de Santo António), para conceber filhos, para evitar naufrágios e casamenteiro. Santo mais polivalente não há, não sei como pode tomar conta de tantas tarefas.

O homem culto e activo apresenta-se com um menino de tenra idade ao colo. O que representa aquele menino? Os crentes dizem ser o Menino Jesus, e quando este tem o menino do lado direito está representado como casamenteiro e quanto tem o menino do lado esquerdo como milagreiro.

    O seu significado perde-se no tempo, há várias interpretações, umas mais ingénuas do que outras, porém, o que aparentemente significa é uma profunda ligação deste franciscano ao cristianismo, numa fase de expansão do mesmo (Cruzadas século XI a XIII), em que o menino significa rejuvenescimento e força de uma doutrina.

Santo António do mundo, de Lisboa ou de Vila Real

Também tens fama de casamenteiro

Se o casamento fosse coisa sensacional

Tu próprio não ficavas solteiro.


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