08 outubro, 2007

Faz-me falta a música dos motores


Despertei com um barulho potente de arranque de carro, pelas oito da manhã, seguido de outro e mais outro.
Que saudades desta sinfonia automobilística.

Escancarei as janelas, um nevoeiro rasante ao padoque, instalou-se à frente da minha janela. Deixei entrar aqueles sons, que me desfiam memórias, que passam que nem cinema na minha cabeça.
Fechei os olhos e respirei aqueles sons coloridos.
Abri outra janela, e outras se seguiram.
Que pena não os ver passar mesmo em baixo da minha janela, como acontecia antigamente. Hoje tenho que me deslocar um pouco, para o novo traçado.
Habituei-me a ver corrida de automóveis desde criança. Eu diria que já vi mais competições destas, dentro de cidade, que jogos de futebol. Sim tenho a certeza que vi.

Via os treinos, uma manga, duas mangas….voltas de reconhecimento, finais, e semi-finais…. E sempre o som do acelerar, o cheiro do aquecimento dos motores, o cheiro da partida, eles a desaparecerem sem os ver, e começava a vê-los lá bem longe, com uns binóculos numa recta em Abambres, mais a descida da Araucária e rapidamente surgiam na estação. Tirava os binóculos….e via-os a entrar na ponte metálica, desapareciam por uns segundos escondidos pelos telhados das casa da rua da ponte e eis que apareciam com toda a velocidade a ter que fazer uma curva a 90º, a famosa curva do sinaleiro, mesmo debaixo do meu nariz. Reduções e mais reduções.
Nem sempre a curva que desenhavam tinha sucesso.
A traseira normalmente raspava o rail, era necessário corrigir trajectória, ter unhas para evitar o peão, e os rails faíscavam, e voltavam a acelerar numa grande recta que dava para as boxes e a zona da partida.
Normalmente aqui, eram fortemente aplaudidos, pois concentrava imensa gente eufórica, dada a dificuldade do traçado se acentuar precisamente nesta curva.
A quanto despistes eu assisti, com o bater apressado do coração? N+ N! Perdi-lhe a conta. Normalmente ferimentos de pouca gravidade, mas os apara-choques voavam. A ambulância sempre a ali à mão, as bandeirinhas amarelas e vermelhas também, pois davam-lhe imenso uso.
Assisti a 3 décadas de competições.
Quando era criança, as corridas constituíam a oportunidade para disfrutar de sorvetes da olá que apareciam em todo o lado. Nesses dias o meu progenitor esquecia as amigdalites, as faringites e as congestões, ou nem prestava atenção no o que eu xatamente pedia e repedia!
Vi muita derrapagem, muito “ronco”, muito peão, muito rail amassado, muito carro “empandeirado” como aqui se diz… , muita chicane, muito óleo derramado...
Houve corridas que me ficaram na memória: motas especialmente, com os cavalinhos da última volta após corte de meta, e as competições de 73 e 90/91 de automóveis. Nestas últimas vibrei com o Chevrolet Camaro Z28 de Pêquêpê e com o Volvo de António Rodrigues. IMPARÁVEIS!
Vila Real acolhe sempre bem as competições e os visitantes que partilham o gosto por este cheiro, por este ronrorar.
È uma semana de festa, em que ninguém reclama do barulho, e de toda a perturbação que envolve a cidade.

Até há 16 anos, a festa da noite sucedia à competição do dia de sábado. E a festa adentrava noite fora até de madrugada. Os verdadeiros pilotos durante a noite, descansavam. A noite pertencia aos maus pilotos armados em aceleras, que toda a noite faziam competições estapafurdias na rua, com espectadores de bancada e tudo, até a policia ser obrigada a intervir.

Vivemos um luto de 16 longos anos!

De vez em quando davam-nos um cheirinho com desfile de ferraris e outros, mas competição a sério não houve mais.
As competições voltaram. A populaça está fortemente motivada, com auto-estima em alta. As condições de segurança para o publico não tem nada a ver com o antigamente das protecções à base de fardos de palha.
Espero que desta vez seja para continuar, pois... faz-me falta esta música dos motores que ainda me desperta alguma adrenalina neste outono que teima em se instalar.

1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

Também me lembro dessas corridas.
Mas a minha visão era de fora, através da TV, da rádio ou dos jornais, pois nunca fui a Vila Real assistir a essa música dos motores.
Mas gostei de relembrar toda essa atmosfera vista por dentro, através dos teus sentidos tão despertos.
Bfs, beijinhos.