Há muito que não acredito em heróis
de gabinete
Os leitores não se
sentem enganados perante esta coisa da guerra?
Todos querem saber quem
tem razão, e todos querem acreditar que quem tem razão será o vencedor da
guerra e afinal nada é assim. Numa guerra, para mim, nunca há vencedores e
todos são perdedores, revelando apenas o lado agressivo, ambicioso e grotesco
do Homem.
Pertenço a uma geração
fortemente influenciada pelos livros dos autores contemporâneos à 2.ª Guerra
Mundial, sedentos de paz; depois vivi em pleno, a nossa guerra colonial. Ouvia
e via da minha varanda, os helicópteros a aterrar no hospital militar de
Luanda, transportando feridos, e estes apenas tinham mais cinco anos do que eu.
Muitas vezes, chegavam já cadáveres com uma granada metida no peito. Carne para
canhão! O som das hélices dos helicópteros viverá eternamente na minha cabeça.
Parece que não
aprendemos nada!
Há muito que não
acredito em heróis de gabinete.
Já todos nós entendemos
que a guerra não passa de uma falácia, já não se percebe se há razão, ou não,
sabemos sim que não passa de um emaranhado jogo de interesses, altamente manipulado
pela comunicação social, apelando à História quando dá jeito e poucos sabem de
História. Há uma parte visível da guerra que são os mortos, os estropiados, os
órfãos, os territórios dizimados e amaciados pelos líderes, com ar de
vitoriosos e de valentes. Há outra parte invisível, escondida, que se traduz em
dólares, em estratégias para sacar recursos naturais valiosos, e nada passa
pela ingénua avaliação sobre valores e princípios, que nos pesa na consciência,
e sobre o que é justo ou quem tem razão.
Os heróis e os valentes
estão no cemitério, e as lágrimas pertencem às mães e aos pais destes, que
rapidamente são esquecidos pela comunicação social.
O mundo deu uma
reviravolta.
Trump prometeu acabar
com a guerra retirando o “tapete” a Zelensky, e aproveitou para o humilhar em
público. Ameaçou que iria cortar o seu financiamento e lá se foi a coerência de
Zelensky, a razão e a falta dela, a cumplicidade da “corte europeia”, que
esteve mal do princípio ao fim, iludindo-se com a união faz a força, como se a
Europa fosse de facto unida e tivesse muito dinheiro. Analisar a História,
certamente não dará razão a Zelensky, independentemente do perfil de Putin, há
de facto diferença entre autonomia e independência, e já se escreveu rios de
tinta sobre isso.
Acredito na Europa como
projecto de paz. A Europa não é um projecto de guerra. Os europeus em vez de se
empenharem cegamente na diplomacia, alimentaram o disparate que a Ucrânia
venceria a Rússia, como se ignorassem a diferença de escala territorial e de
recursos.
E agora? Não se sentem
baralhados e enganados? Afinal isto não passa de um jogo, em que chegou a vez
de Trump juntar, baralhar e voltar a dar, nem se percebe bem o quê e como. E
quem pagará a factura? Nós. Isso nós sabemos!
Tanta hora a transmitir
a guerra pela TV, tantos comentadeiros, tanto general a argumentar, tanta
manipulação… para quê? Junta, baralha e volta a dar. Já nada faz sentido!
A guerra é algo tão
mau, que sempre acaba. Nunca conheci uma guerra que nunca acabasse. Independentemente
das razões, as guerras terminam sempre num acordo, mais vantajoso para uns, menos
para outros, mas quem se lixa é sempre o “mexilhão”, e onde as pilhagens, mais
ou menos civilizadas, sempre acontecem… então por que não antecipar os acordos?
Por que não apostar na diplomacia? Por que não desconstruir esta armadilha para
ingénuos, chamada guerra? Não há guerras justas… todas são injustas e cruéis.
Artigo 3 do Tratado de
Lisboa: “A União tem por objectivo promover a paz, os seus valores e o
bem-estar dos seus povos.”
“Em 2012, a UE recebeu
o Prémio Nobel da Paz pelos seus esforços em prol da paz, da reconciliação, da
democracia e dos direitos humanos na Europa.“
Precisamos de reflectir
sobre o nosso caminho.
E para finalizar, e
repetindo: É fácil apoiar a guerra, enquanto os vossos filhos e netos não forem
mobilizados para a frente do combate.
Empenhem-se na “guerra”
ecológica, na “guerra” pela educação e pelo conhecimento, na “guerra” pela
saúde, só essas darão frutos a favor da Humanidade.
Publicado em 12|03|2025
1 comentário:
Muito bom
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