12 março, 2025

Há muito que não acredito em heróis de gabinete

 

Há muito que não acredito em heróis de gabinete

 

Os leitores não se sentem enganados perante esta coisa da guerra?

Todos querem saber quem tem razão, e todos querem acreditar que quem tem razão será o vencedor da guerra e afinal nada é assim. Numa guerra, para mim, nunca há vencedores e todos são perdedores, revelando apenas o lado agressivo, ambicioso e grotesco do Homem.

Pertenço a uma geração fortemente influenciada pelos livros dos autores contemporâneos à 2.ª Guerra Mundial, sedentos de paz; depois vivi em pleno, a nossa guerra colonial. Ouvia e via da minha varanda, os helicópteros a aterrar no hospital militar de Luanda, transportando feridos, e estes apenas tinham mais cinco anos do que eu. Muitas vezes, chegavam já cadáveres com uma granada metida no peito. Carne para canhão! O som das hélices dos helicópteros viverá eternamente na minha cabeça.

Parece que não aprendemos nada!

Há muito que não acredito em heróis de gabinete.

Já todos nós entendemos que a guerra não passa de uma falácia, já não se percebe se há razão, ou não, sabemos sim que não passa de um emaranhado jogo de interesses, altamente manipulado pela comunicação social, apelando à História quando dá jeito e poucos sabem de História. Há uma parte visível da guerra que são os mortos, os estropiados, os órfãos, os territórios dizimados e amaciados pelos líderes, com ar de vitoriosos e de valentes. Há outra parte invisível, escondida, que se traduz em dólares, em estratégias para sacar recursos naturais valiosos, e nada passa pela ingénua avaliação sobre valores e princípios, que nos pesa na consciência, e sobre o que é justo ou quem tem razão.

Os heróis e os valentes estão no cemitério, e as lágrimas pertencem às mães e aos pais destes, que rapidamente são esquecidos pela comunicação social.

O mundo deu uma reviravolta.

Trump prometeu acabar com a guerra retirando o “tapete” a Zelensky, e aproveitou para o humilhar em público. Ameaçou que iria cortar o seu financiamento e lá se foi a coerência de Zelensky, a razão e a falta dela, a cumplicidade da “corte europeia”, que esteve mal do princípio ao fim, iludindo-se com a união faz a força, como se a Europa fosse de facto unida e tivesse muito dinheiro. Analisar a História, certamente não dará razão a Zelensky, independentemente do perfil de Putin, há de facto diferença entre autonomia e independência, e já se escreveu rios de tinta sobre isso.

Acredito na Europa como projecto de paz. A Europa não é um projecto de guerra. Os europeus em vez de se empenharem cegamente na diplomacia, alimentaram o disparate que a Ucrânia venceria a Rússia, como se ignorassem a diferença de escala territorial e de recursos.

E agora? Não se sentem baralhados e enganados? Afinal isto não passa de um jogo, em que chegou a vez de Trump juntar, baralhar e voltar a dar, nem se percebe bem o quê e como. E quem pagará a factura? Nós. Isso nós sabemos!

Tanta hora a transmitir a guerra pela TV, tantos comentadeiros, tanto general a argumentar, tanta manipulação… para quê? Junta, baralha e volta a dar. Já nada faz sentido!

A guerra é algo tão mau, que sempre acaba. Nunca conheci uma guerra que nunca acabasse. Independentemente das razões, as guerras terminam sempre num acordo, mais vantajoso para uns, menos para outros, mas quem se lixa é sempre o “mexilhão”, e onde as pilhagens, mais ou menos civilizadas, sempre acontecem… então por que não antecipar os acordos? Por que não apostar na diplomacia? Por que não desconstruir esta armadilha para ingénuos, chamada guerra? Não há guerras justas… todas são injustas e cruéis.

Artigo 3 do Tratado de Lisboa: “A União tem por objectivo promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos.”

“Em 2012, a UE recebeu o Prémio Nobel da Paz pelos seus esforços em prol da paz, da reconciliação, da democracia e dos direitos humanos na Europa.“

Precisamos de reflectir sobre o nosso caminho.

E para finalizar, e repetindo: É fácil apoiar a guerra, enquanto os vossos filhos e netos não forem mobilizados para a frente do combate.

Empenhem-se na “guerra” ecológica, na “guerra” pela educação e pelo conhecimento, na “guerra” pela saúde, só essas darão frutos a favor da Humanidade.

Publicado em 12|03|2025

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom