22 novembro, 2023

JEAN PAUL GAULTIER - FASHION FREAK SHOW MUSICAL

Anunciado há muito, desvalorizado por mim, sempre, eu sou mais cidades, galerias de arte e museus, até que alguém me convida, não torço o nariz, para quem convida não ficar triste. Consulto o you tube:

[Neste espetáculo musical vão ser apresentadas "algumas das suas peças mais icónicas de alta-costura, entre outros modelos crados exclusivamente para o espetáculo, num cenário repleto de elementos de multimédia e efeitos visuais"] -  Portugal é o 5º pais do mundo a receber este espectáculo. Borá comprar os bilhetes!

Os bilhetes foram comprados com tanta antecedência que quase os perdi na desarrumação arrumada da minha casa, até que percebi que havia uns bilhetes verdes misturados com todos os outros já utilizados, que guardo como memória.

Experimentei a máquina fotográfica nova, formatei cartões, fiz pequenas experiências e meti na carteira.

Toilette de sempre, vesti “preto que nunca me comprometo”, e para variar, um brilhozito aqui e ali, fui buscar os meus óculos veneziamos, não fosse dar-se o caso de eu entrar na loucura, escolhi um anel bizarro e cachuchão e fiz-me ao mar do Marão, cheia de glamour para dar e vender, e em boa companhia. 

Cheguei cedo para ter lugar no parque de estacionamento do Palácio de Cristal, dei uma volta pela rua de Miguel Bombarda, para ver as novidades, comi umas castanhas assadas na rua (imaginem continua a haver no Porto!), passei pelo café Piolho e jantei mesmo por ali.

Contava com muito glamour e alguma futilidade. Recordo sempre aquela frase irónica: “A moda é tão foleira que tem de mudar de 6 em 6 meses.” Encontrei um grande espectáculo de música, som, imagem, audiovisuais e obviamente moda, as suas peças de alta costura para o espectador ver, apreciar e aplaudir. Gaultier é um nome incontornável no mundo gigante da moda, aprendeu com os estilistas da alta costura francesa, porém, a sua irreverência rompeu com alguns paradigmas. Procurou, modelos que saem do estereótipo do magro, medidas perfeitas, pele “limpa”, outros padrões de beleza, considerando que a beleza é construída mais por quem vê, do que por quem é alvo desse adjectivo. Fica bem este conceito, neste mundo alucinado pela perfeição e abre a porta a uma revolução da moda, aliando e acompanhando o progresso das artes, nas suas várias vertentes e as suas expressões contemporâneas.  

O glamour continua e associa-se a várias inspirações do autor, para a criação deste seu fashion imaginário, a saber (creio ter identificado): Pedro Almodóvar, Catherine Deuneuve, Pierre Cardin,  Gilbert Bécaud, Madonna, Kylie Minogue, Régine Chopinot e Angelin Prejlocaj.

A sua personalidade fica bem identificada neste registo: excêntrico, sensual, escandaloso, provocador, divertido, exuberante e sobretudo inteligente; este espectáculo funciona como uma campanha publicitária gigante, que o consumidor paga para ver – mais um paradigma derrubado. É para quem sabe e pode! Normalmente a publicidade é um investimento na divulgação de algo, com custo financeiro, que terá retorno ou não, consoante o consumo posterior desse produto.

Jean Paul Gaultier aproveita todos os recursos tecnológicos do mundo do espectáculo a favor da sua publicidade, e não precisa de esperar pelo consumidor para haver retorno, porque o retorno antecipa-se logo na visualização da publicidade. Em vez de pagar pela sua publicidade, nós é que pagamos para a ver – o inverso da lógica.

Publicado em NVR, 22/11/2023



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