07 junho, 2023

Os opostos atraem-se?

 

Os opostos atraem-se?


 

Homens e mulheres não são iguais, são faces opostas da mesma moeda, a velha ideia de Yin e Yang é um estereótipo que agradavelmente se aceita, justificando que os opostos se atraem. Os indivíduos em causa ultrapassam obviamente a questão do género, porque cada ser humano tem a sua personalidade.

Dentro da teoria que os opostos se atraem, o introvertido iria apaixonar-se pelo extrovertido, o bandalho pelo atinado e organizado, o pior aluno da escola pelo melhor aluno da escola, o sábio pelo ignorante, o católico pelo ateu…. Os mais velhos pelos mais novos.

Será? Os indivíduos procuram coisas diferentes e daí nasce a harmonia – uma teoria completamente errada. Se todas as pessoas procuram alguém que as complete, porque tantas relações acabam em fracasso? Provavelmente porque a abordagem de “os opostos atraem-se” está condenada desde o início. Temos que ser realistas.  O melhor parceiro não é um ideal cultural ou da sociedade, mas alguém que combine consigo.

Muitos de nós recorrem a este princípio da física, para tentar justificar e eliminar tantas dúvidas que habitam a nossa cabeça quando deparamos com alguma proximidade com alguém tão diferente de nós, mas que aparentemente nos agrada; alimentam essa esperança para justificar o injustificável, acreditando que irão ter futuro.

A psicologia resolveu estudar melhor o impacto da relação entre duas pessoas muito diferentes e ao fim de várias décadas de investigação, concluiu que... os opostos não só não se atraem, como, passada a fase do deslumbramento inicial, se repelem, particularmente no que se refere a pontos de vista e valores. Por vezes, toleram-se apenas para não abalar as circunstâncias que os envolvem, aceitam-se para fugir ao conflito, suportam-se, desagradando-se mutuamente, acontece odiarem-se eles próprios, por não terem coragem de assumir a diferença e a divergência crescente, vivendo um silêncio ensurdecedor e deprimente.

Ser parecido, ter valores idênticos, experiências e conhecimentos concordantes, quanto maior o nível de igualdade, maior a probabilidade de se desenvolverem os afectos duradouros. As semelhanças de personalidade podem ser fundamentais para a união entre duas pessoas.

A união, a empatia convive bem com semelhança. O dicionário define empatia: Forma de identificação intelectual ou afectiva de um sujeito com uma pessoa, uma ideia ou uma coisa; habilidade de identificação emocional com outra pessoa.

As pessoas com quem não partilhamos uma base semelhante em gostos, opiniões, valores, conhecimento, personalidades, geram desconforto que vai evoluindo até à repulsa. A fase do desconforto inicia-se quando se recorre à frase popularucha que diz, que os opostos se atraem, preparando uma fuga à realidade.

Não são necessários grandes confrontos, pormenores do quotidiano, repetidamente reprimidos podem eclodir gerando afastamento e repulsa.

O verdadeiro enlace precisa de amor, sintonia, admiração, respeito, equilíbrio e uma essência comum, para criar raízes concordantes.

Os opostos formatam relacionamentos muito tóxicos; a jornada da vida em comum precisa de valores e essência semelhantes e harmónicos. Ver no outro semelhanças, valida as nossas certezas. Pode parecer entediante, mas não é.

Da discussão nasce a luz, dirão aqueles que não concordam com isto. A discussão pode desenvolver sentido critico e conhecimento, quando é um exercício saudável, e pode gerar aproximação, convergência e complementação, sinónimos desta luz comum, porém divergência teimosa e autoritária, implicância militante e a dessensibilização e desrespeito pelo outro, não gera luz, gera escuridão.  

Publicado em NVR 07|06|2023

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