01 março, 2023

A espiral


 

A espiral 

A espiral ou linha do caracol é das formas que mais me seduzem e acabei por adoptá-la na minha vida profissional e no resto da vida que se vive no dia a dia e nem classificação tem.

Uma linha que parte de um ponto e nunca se sabe onde termina. O seu traçado é infinito, algo de dimensão universal. Há poucos dias encontrei-a desenhada num bloco de granito, como marca do mestre pedreiro, o que me fez recuar até à Idade Média. Utilizo-a como assinatura em fotografias especiais e utilizo-a como sinónimo gráfico à palavra dialéctica, ou seja, o caminho entre as ideias, que nos levarão sempre a ideias e conceitos novos.

A espiral pode converter-se em algo místico, mágico e filosófico, levar-me-ia por caminhos que não domino, certamente em direcção ao Grande Arquitecto de tudo isto.

Fiz uma rápida pesquisa na net e encontrei a obra, “A dinâmica da espiral, uma aproximação ao mistério de tudo”, de João Formosinho e J. Oliveira Branco, com 547 páginas e um índice, que começa “Da Mente à Cultura através da Arquitectura e da Ciência” e termina na “A Dinâmica de Tudo” que assegurará a ocupação do meu tempo de leitura e reflexão nos próximos meses.

A espiral é linha do questionamento sobre a condição humana e tudo o que existe ou supomos existir. Essa linha curva, aberta, sedutora, infinita e misteriosa, pode cruzar-se com a arte, a filosofia, a ciência e a teologia. Uma linha misteriosa que mergulha na criação do mundo e termina no infinito se ele de facto não existir.

A espiral é o traçado geométrico que mais nos remete para a incerteza, mas também é a maior promessa de futuro. Compreender uma espiral é entrar na dimensão temporal irreversível, que talvez organize o universo.

Existem vários traçados geométricos, os mais simples com apenas dois centros, que se convertem numa espiral regular, para os mais modestos e menos exigentes, e as mais complexas, cuja proporção se obtêm através de cálculos matemáticos exponenciais, resultando a espiral de ouro, porque também se inicia no denominado rectângulo de ouro.

Entramos assim num cenário que alterou a história da arquitectura, e que nos ajuda a compreender a monumentalidade e a beleza clássica da arquitectura da Grécia Antiga. Entrar neste mundo intimida, porque descobrimos a ordem da natureza e alguns dos seus mistérios.

E para que isto interessa?

Talvez para nada, ou para abrir caminhos para investigações individuais.

Quando chega o fim de semana, pretendo quebrar rotinas, fico assim, não me apetece fazer as refeições, não tenho lugares de culto para cumprir, e fico em sintonia ociosa comigo mesma, a pensar em espirais… neste, especialmente, com neve nos pontos altos e adivinhando o caos da solução apresentada, para resolver o problema da habitação em Portugal. Entre espirais e melões, opto obviamente por espirais.

Para os mais crentes, apenas informo que tive um acidente de trabalho há 15 meses e este Estado do melão, ainda não me pagou as despesas de saúde que suportei. O Estado do melão demorou 6 meses para criar o meu processo de acidentada, imaginem os futuros processos dos inquilinos e dos senhorios.  Eu, que sou muito Estado, não sei explicar, sinto-me em contradição e remeto-me para as espirais, para não começar a comer os tapetes cá de casa e a contar os azulejos da cozinha.

Publicado em NVR, 01|03|2023

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