21 setembro, 2022

A RAÍNHA MORREU

 


A RAINHA MORREU

Eu que sou contra a monarquia, porque considero que competência, honestidade, altruísmo, inteligência, criatividade, não constam do pacote genético, nem se mantêm imutáveis ao logo da vida, decidi escrever sobre a Rainha. Mesmo conhecendo alguns dados que referem, os regimes presidencialistas serem mais dispendiosos do que a monarquia, pelos motivos referidos, adicionados à monotonia de ter que olhar sempre para a mesma pessoa, opto claramente por ser do contra.  E agora com Carlos III não me resta nenhuma dúvida.

Para início de reflexão não entendo porque insistimos em chamar-lhe Isabel, quando existe o nome de Elisabete. Ela é a expressão da realeza no feminino, tendo contrariado muito preconceito machista, isso fez-me simpatizar com ela. Se lhe tivesse nascido um irmão homem, nunca teria sido rainha.

Independentemente da política, e graças à comunicação social, todos nos habituámos a ler e a escutar a palavra “Rainha” e a identificá-la sempre com Elizabeth, como se não houvesse mais nenhuma rainha no mundo. Desconheço se James Bond estaria ao seu serviço ou não, mas admito que sempre gostei dos seus filmes, e terá sido a maior campanha publicitária do mundo, a favor de Sua Majestade.

A figura da Rainha, a senhora multicolorida, atravessou várias décadas, assumindo sempre uma postura de grande carisma e dignidade e soube enfrentar alguns constrangimentos apresentados pela sua família, denominada por real. Com 70 anos de trono, teve que conviver de perto com a maioria dos políticos de todo o mundo. Revendo fotos, há duas fotografias que me agradam, não só pela qualidade, mas também pelo simbolismo. A primeira com Churchill e a segunda uma das últimas, a Rainha sozinha nas cerimónias fúnebres do marido.

Durante a guerra, ainda muito jovem, com menos de 20 anos, juntou-se ao grupo de mulheres voluntárias, que exerciam funções variadas no exército britânico, mas habitando o Castelo de Windsor. Elizabeth foi treinada como motorista e mecânica. Sempre imagino a Rainha a fazer rectificação de motores, deitada debaixo de um carro de combate… Mas pronto. Eu conheci-a mais pelas moedas, pelas colecções de selos, pelos chapéus e pelo que escreviam nas revistas femininas, contando que a Rainha usava areia na bainha dos vestidos para nunca viver uma situação tipo Marilyn Monroe. Conta-se um amuo em 1961, incomodada com a presença de Jacqueline Kennedy, talvez ciúmes, não sei de quem, nem por quem. Conhecia-a pelas recordações que se compram em Londres… a primeira vez que visitei Londres, não trouxe um íman para o frigorífico, nem um avental, apenas por preconceito idiota, porque havia muito por onde escolher; mas, no programa da minha viagem continha a visita a Saint James’s Park e ao palácio de Buckingham e com sorte veríamos a Rainha na varanda, tudo aquilo que, eu plebeia de terra vermelha, nem entendo. O que será feito deste merchandising, terminado o luto dos súbditos? Alguém quererá comprar um porta-chaves com Carlos e Camila, ambos feios, acabados e sem uma pontinha de styling?

Ler “A Rainha e eu” obra intemporal de Sue Townsend proporcionou-me horas hilariantes imaginando a Rainha a viver num bairro social; e mesmo na ficção, da família toda, Elizabeth era a pessoa, mais funcional, mais despojada, mais razoável e humanamente mais aceitável. 

Sabemos que escreveu uma carta em 1986 para ser lida passados 100 anos aos habitantes de Sidney… espero que não seja nada sobre Diana, ou sobre o concerto dos Dire Straits, ou a sua receita de scones, porque nessa data já não haverá memória significativa sobre nenhum deles... Kkkk deverá ser sobre o edifício Rainha Vitória em Sidney e certamente conterá a pergunta “quem foi o canalizador que deixou a torneira do wc das senhoras a pingar?”

Pubicado em NVR 21/09/2022

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