Há consciências incapazes de viver sossegadas nos seus
invólucros. De repente entre o sol e a chuva entre as horas e os quartos,
acordam de forma violenta da dormência de horas a fio de trabalho mecânico de
sobrevivência e subserviência, despertam todas as melancolias existentes no
mundo e abatem-se em tsunamis de questionamentos … antigos e novos, os
questionamentos demolidores da tranquilidade. Depuram a solidão entre todas as
solidões que já sentiram juntos em cais desertos, refinando a tristeza e a
mágoa existentes em cada maré de outono , decantando todas as melodias que
nunca ouviram.
Acácias em flor passam no pensamento, a negro e branco, em vez de rubras
oscilando languidamente entre brisas mornas de outras existências. Sobe a
vontade incontornável de desistir, integrando-se um xadrez de peças insólitas
com rotas paradigmáticas, nas vertentes da nossa existência, de forma
ininterrupta e disruptiva. Onde está tudo aquilo que nós queremos que esteja?
Porque não está aquilo que não está no sítio que queremos que esteja? Corre
vento nas veias profetizando outros desassossegos de inverdades possíveis,
outras complicações que virão por aí. Estes afastamentos conscientes das
rotinas que me estrangulam, vestem-se de indignação por detrás de uma almofada
de rendas delicadas, matizadas de dor. Contradições que se vão alinhavando na
antecipação do futuro que pode muito bem ser amanhã ou mesmo hoje, com sabor a
lágrimas salgadas, que desaguam em rios de esquecimentos e nos fazem querer
desistir, que nos fazem fugir das margens que não somos e não queremos
percorrer e simultaneamente nos impedem de fechar o mundo por tempo incerto no
tempo certo.
In”Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas
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