08 janeiro, 2014

momentos

Espreito-te em distância cautelosa de te desconhecer. A arte transforma-se em desejo e reflecte-se em espelho dourado suspenso no infinito, que me devolve aquilo que sou e aquilo que não sou . Paro de respirar, para que nada mexa e um segundo se converta na eternidade dialectica de outro segundo consumido na tarefa de viver. Subi a noite marcando os eixos de simetria coincidentes com as abcissas e desenrolei o olhar marcado num pontilhismo constante de ti, decidida a esperar como quem espera as baleias em pleno oceano. Espero dias, espero noites, convencendo –me que será o ultimo dia ou a ultima noite, restando-me depois todo o tempo do mundo para reflectir. Espreito e escuto o silêncio mergulhada no desespero que toda a espera encerra, em que o céu e o mar se conjugaram para agonizar o tempo. Corro ortogonalmente as inseguranças e as fragilidades que me fazem não olhar para trás e adivinhar as contracurvas da esperança. Ignoro pensares e comportamentos que afectam a minha espera, porque uma espera é uma repetição pacientemente ordenada de momentos.
In "Ensaios de escrita um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas

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