Espreito-te em distância cautelosa de te desconhecer. A arte
transforma-se em desejo e reflecte-se em espelho dourado suspenso no infinito,
que me devolve aquilo que sou e aquilo que não sou . Paro de respirar, para que
nada mexa e um segundo se converta na eternidade dialectica de outro segundo
consumido na tarefa de viver. Subi a noite marcando os eixos de simetria
coincidentes com as abcissas e desenrolei o olhar marcado num pontilhismo
constante de ti, decidida a esperar como quem espera as baleias em pleno
oceano. Espero dias, espero noites, convencendo –me que será o ultimo dia ou a
ultima noite, restando-me depois todo o tempo do mundo para reflectir. Espreito
e escuto o silêncio mergulhada no desespero que toda a espera encerra, em que o
céu e o mar se conjugaram para agonizar o tempo. Corro ortogonalmente as
inseguranças e as fragilidades que me fazem não olhar para trás e adivinhar as
contracurvas da esperança. Ignoro pensares e comportamentos que afectam a minha
espera, porque uma espera é uma repetição pacientemente ordenada de momentos.
In "Ensaios de escrita um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas
Sem comentários:
Enviar um comentário