A contínua hostilização aos professores feita por este, e outros governos, vai acabar por levar cada vez mais pais a recorrer ao privado, mais caro e nem sempre tão bem equipado, mas com uma estabilidade garantida ao nível da conflitualidade laboral.O problema é que esta tendência neo-liberal escamoteada da privatização do bem público, leva a uma abdicação por parte do estado do seu papel moderador entre, precisamente, essa conflitualidade laboral latente, transversal à actividade humana, a desmotivação de uma classe fundamental na construção de princípios e valores, e a formação pura e dura, desafectada de interesses particulares, de gerações articuladas no equilíbrio entre o saber e o ter.O trabalho dos professores, desde há muito, vem sendo desacreditado pelas sucessivas tutelas, numa incompreensível espiral de má gestão que levará um dia a que os docentes sejam apenas administradores de horários e reprodutores de programas impostos cegamente.(…)O que eu gostaria de dizer é que o meu avô, pai do meu pai, era um modesto, mas, segundo rezam as estórias que cruzam gerações, muito bom professor e, sobretudo, um ser humano dotado de rara paciência e bonomia. Leccionava na província, nos anos 30 e 40, tarefa que não deveria ser fácil à altura: Salazar nunca considerou a educação uma prioridade e, muito menos, uma mais-valia, fora dos eixo Estoril-Lisboa, pelo que, para pessoas como o meu avô, dar aulas deveria ser algo entre o místico e o militante.Pois nessa altura, em que os poucos alunos caminhavam uma, duas horas, descalços, chovesse ou nevasse, para assistir às aulas na vila mais próxima, em que o material escolar era uma lousa e uma pedaço de giz eternamente gasto, o meu avô retirava-se com toda a turma para o monte onde, entre o tojo e rosmaninho, lhes ensinava a posição dos astros, o movimento da terra, a forma variada das folhas, flores e árvores, a sagacidade da raposa ou a rapidez do lagarto. Tudo isto entrecortado por Camões, Eça e Aquilino.Hoje, chamaríamos a isto ‘aula de campo’. E se as houvesse ainda, não sei a que alínea na avaliação docente corresponderia esta inusitada actividade. O meu avô nunca foi avaliado como deveria. Senão deveria pertencer ao escalão 18 da função pública, o máximo, claro, como aquele senhor Armando Vara que se reformou da CGD e não consta que tivesse tido anos de ‘trabalho de campo’. E o problema é que esta falta de seriedade do estado-novo no reconhecimento daqueles que sustentaram Portugal, é uma história que se repete interminavelmente até que alguém ponha cobro nas urnas a tais abusos de autoridade.Perante José Sócrates somos todos um número: as polícias as multas que passam, os magistrados os processos que aviam, os professores as notas que dão e os alunos que passam. Os critérios de qualidade foram ultrapassados pelas estatísticas que interessa exibir em missas onde o primeiro-ministro debita e o poviléu absorve.(…)Pedro Abrunhosa
2 comentários:
Amiga:
"Hostilização aos Professores"...?
A Democracia não pode ser a institualização do conflito, diria, a Democracia é a institualização do diálogo sadio, respeitador e de cedência coerente e desejada entre todos. Onde pára? Até entre colegas de profissão ela é visível e evidente...sabes, linda amiga?
Democracia...? Sonhá-la, sim. Vivê-la, actualmente, não acho com sinceridade e veracidade...
Se as "Altas Esferas Políticas" a sentem e pensam assim...já vês...?
IMPOSSÍVEL, de concretização!
Sim! Eu sei. Não passo de um Professor Ignorado...mas, com direito à minha opinião livre, ou não...? Já nem sei, sabes...?
Olha, no meu blog, acabo de "Roubar o Céu..., sabes... entendes...?
Para mim e para os meus. "Roubei-o" para mim, para a D., para o P. e para o T., compreendes...?
Oh, a "Hostilização" de Professores", Anabela...?
Com respeito e estima por ti e pelo que és...
Beijinhos amigos
Sempre a ler-te com agrado e satisfação.
pena
Lindaaaaaaaaaaaa!
Onde se lê: "institualização", 2 vezes, deverá ler-se: "Instituição".
Desculpa.
Bj
pena
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