Comemorando Abril
Em processo de seleccionar poemas para o programa de rádio “De poeta e
de louco todos temos um pouco” que passa na rádio Universidade FM, lembrei a
música de Chico Buarque da Holanda, TANTO MAR, que todos conhecerão certamente.
Os ecos da revolução de abril de 1974 em Portugal chegaram de várias
formas à música brasileira - um olhar, à distância, sobre os ecos que lhe
chegavam de um país em transformação. A música "Tanto Mar", de Chico
Buarque, realmente é um marco importante na música brasileira e reflecte as
complexidades das relações entre o Brasil e Portugal durante um período
conturbado da história. Curiosamente esta canção, possui duas versões, captura
as esperanças e as frustrações de um momento de transição tanto em Portugal como
no Brasil.
A 1.ª versão é inspirada na Revolução dos Cravos e está datada de 1975.
O Brasil ainda vivia o regime de ditadura militar, a letra expressa uma
saudação ao novo regime democrático que emergia em Portugal após o 25 de abril
de 1974, mediante uma revolução pacífica que derrubou um regime ditatorial de
longa data. Para os brasileiros, que viviam sob a repressão da ditadura
militar, essa letra ressoava como um eco de liberdade e esperança, também para
eles.
A
letra, inteligentemente escrita, mas muito simples, reflecte o desejo de
liberdade compartilhado. É por esse motivo que, no Brasil, a letra desta música
foi censurada.
A 2.ª versão data de 1978, a letra desta versão reflete uma mudança de
tom. Aqui, Chico Buarque faz uma crítica subtil ao desenrolar dos eventos em
Portugal, especialmente após o 25 de Novembro de 1975, quando a revolução
começou a perder força e a instabilidade política se acentuou. Essa nova versão
é marcada por um cepticismo e uma percepção de que a democracia ainda era jovem
e frágil e que os desafios continuavam.
É interessante compararmos a letra. Aqui em Portugal a maioria conhece
apenas a 1.ª versão. Assim lado a lado poderemos verificar que foram dois momentos
muito diferentes prevalecendo o primeiro como a grande mudança.
A comparação entre as duas letras revela não apenas a evolução do
contexto político em Portugal, mas também ilustra como a música pode ser um
testemunho das esperanças e desilusões de um povo. Enquanto a primeira versão é
um brinde à liberdade e à possibilidade de um futuro melhor, a segunda revisita
a realidade de que a luta pela democracia é complexa e repleta de desafios.
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