16 abril, 2025

Comemorando Abril

 Comemorando Abril

Em processo de seleccionar poemas para o programa de rádio “De poeta e de louco todos temos um pouco” que passa na rádio Universidade FM, lembrei a música de Chico Buarque da Holanda, TANTO MAR, que todos conhecerão certamente.

Os ecos da revolução de abril de 1974 em Portugal chegaram de várias formas à música brasileira - um olhar, à distância, sobre os ecos que lhe chegavam de um país em transformação. A música "Tanto Mar", de Chico Buarque, realmente é um marco importante na música brasileira e reflecte as complexidades das relações entre o Brasil e Portugal durante um período conturbado da história. Curiosamente esta canção, possui duas versões, captura as esperanças e as frustrações de um momento de transição tanto em Portugal como no Brasil.

A 1.ª versão é inspirada na Revolução dos Cravos e está datada de 1975. O Brasil ainda vivia o regime de ditadura militar, a letra expressa uma saudação ao novo regime democrático que emergia em Portugal após o 25 de abril de 1974, mediante uma revolução pacífica que derrubou um regime ditatorial de longa data. Para os brasileiros, que viviam sob a repressão da ditadura militar, essa letra ressoava como um eco de liberdade e esperança, também para eles.

              A letra, inteligentemente escrita, mas muito simples, reflecte o desejo de liberdade compartilhado. É por esse motivo que, no Brasil, a letra desta música foi censurada.

A 2.ª versão data de 1978, a letra desta versão reflete uma mudança de tom. Aqui, Chico Buarque faz uma crítica subtil ao desenrolar dos eventos em Portugal, especialmente após o 25 de Novembro de 1975, quando a revolução começou a perder força e a instabilidade política se acentuou. Essa nova versão é marcada por um cepticismo e uma percepção de que a democracia ainda era jovem e frágil e que os desafios continuavam.

É interessante compararmos a letra. Aqui em Portugal a maioria conhece apenas a 1.ª versão. Assim lado a lado poderemos verificar que foram dois momentos muito diferentes prevalecendo o primeiro como a grande mudança.

A comparação entre as duas letras revela não apenas a evolução do contexto político em Portugal, mas também ilustra como a música pode ser um testemunho das esperanças e desilusões de um povo. Enquanto a primeira versão é um brinde à liberdade e à possibilidade de um futuro melhor, a segunda revisita a realidade de que a luta pela democracia é complexa e repleta de desafios.

Essas “nuances” são fundamentais para entender a relação entre a música e a história, especialmente em momentos de transformação social e política. 


Publicado em NVR 16/04/2025

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