25 setembro, 2024

ENTRE QUEM LÊ

 


ENTRE QUEM LÊ

Pela primeira vez temos um grande evento cultural ligado aos livros, à leitura e à escrita.

Já tardava. Sabemos que uma primeira edição pode atrair poucos visitantes, poderá não compensar financeiramente, poderá até dar prejuízo, porém, o objectivo da cultura não é gerar lucros. A cultura deve proporcionar conhecimento, enriquecer o pensamento e a identidade colectiva e fomentar valores, porque estes são essenciais em qualquer sociedade. Assim, tardava! Já devia ter sido! e espero que no próximo ano tenhamos mais. O contentamento e o entusiamo são visíveis no rosto dos presentes.

Estamos no tempo em que é preciso fazer algo para contrariar a tendência galopante para substituir o livro, pelos meios digitais. Para isso é necessário aproximar os cidadãos ao mundo dos livros. Crianças, adolescentes e adultos estão completamente seduzidos pelo seu telemóvel. Com pouco esforço basta clicar e várias imagens entram pelos nossos olhos dentro, com ou sem narrativa. Não é necessária concentração, não é necessário raciocínio, não é necessário esforço. Infelizmente a avaliação realizada em outros países, alerta-nos para alguns problemas. O digital é uma boa ferramenta para apoiar diversas tarefas no mundo do trabalho e do lazer, mas ultrapassando o limite da razoabilidade, embrutece, provoca isolamento, reduz a competência leitora, torna os utilizadores ansiosos, sem paciência, intolerantes, stressados, lêem mal, escrevem pior, apresentam problemas na comunicação, interpretam sem sentido crítico, perdem destrezas manuais, criatividade, etc. A imagem, a cor, a velocidade, os jogos, bancos de imagens infinitos e agora a IA são elementos que cativam e teremos de criar alternativas compatíveis, capazes de recuperar e formar novos leitores. São necessários eventos, não basta ter os livros para vender: conversas com escritores, contadores de histórias, oficinas de ilustração e representação, jogos lúdicos, e por aí fora, tudo o que a imaginação consiga concretizar para motivar. ENTRE QUEM LÊ já oferece parte do que foi registado e por isso a sua avaliação é positiva. Agora, é só melhorar.

O alinhamento é ótimo, os convidados são figuras conhecidas do mundo literário, alguns de primeiro plano e as dinâmicas revelam interesse. O cartaz é apelativo, o espaço é nobre, mas necessita de certas adaptações. A publicidade deveria ser maior, porque conhecemos a inércia dos vila-realenses e a preguiça para abandonarem o sofá.

Assisti à abertura e à maioria das actividades de sexta, sábado e domingo.

Dou destaque para Ana Margarida Carvalho e Dulce Maria Cardoso - é difícil ter um evento com duas das melhores escritoras contemporâneas.

Pires Cabral já nos habituou ao seu discurso de qualidade.

Conversas com escritores e poetas locais aconteceram no domingo ao fim da tarde – Caseiro Marques, Anabela Quelhas, Ribeiro Aires, Marília Miranda Lopes, Manuela Vaz de Carvalho e António Fortuna – souberam a pouco. Havia muito a partilhar e o tempo foi escasso. Foi tudo muito apressado, para personalidades tão vincadas e projectos de escrita tão diferentes e interessantes, que são uma mais-valia na cultura transmontana.

Ainda teremos mais 5 dias para festejar a leitura. Desejo que o público flua e inclua esta oportunidade para romper a rotina semanal. Ficaríamos todos a ganhar.

Quem lê mais, sabe mais e está mais bem preparado para resolver os problemas da vida.

Publicado em NVR 25/09/2024

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