11 setembro, 2024

apaixonei-me

 

Apaixonei-me por este edifício, casa, moradia, habitação, o que lhe queiram chamar.

Olhava-a quando me levantava através da janela do hotel, e o meu primeiro pensamento tinha esse destino.

Olhava-a quando estava na praia.

Olhava-a a passar para o restaurante e despedia-me dela no regresso ao hotel no final da noite.

Observei-a na sua presença com alçado principal e também exactamente do ponto de vista oposto, imaginando o resto.

Apaixonei-me.

Paixão de corações e suspiros.

Com a minha maturidade já não foi o objecto em si, que me atraiu, os planos geométricos, a forma/função, a estética, a inovação arquitectónica. Apaixonei-me pela simplicidade, escala, robustez combinada com a fragilidade visível. Ao apaixonar-me por ela foi mais forte a sua essência relacionada com o exterior, do que haveria no seu interior. O interior desconhecia-o e adivinhava-o, como o mínimo essencial para habitar. Apaixonei-me por aquilo que poderia ver daquele espaço para o exterior – o pôr do sol diário, o maior espectáculo do mundo, o marulhar sereno do mar, o areal como base morfológica e o céu imenso. Imaginei-me a espreguiçar-me logo de manhã com a sensação do sítio do espaço marítimo. Imaginei-me à janela a olhar para fora, para o espaço por onde andei a deambular. Imaginei-me a ouvir música apreciando o vento do exterior ou a falta dele. Imaginei-me a ler um livro e levantar os olhos até aos últimos raios de sol. Imaginei-me no degrau vinte dos afectos, aconchegando o brilho e a geografia do lugar, através de uma lareira no Inverno, como garantia infinita de felicidade.

Seria ali o meu porto seguro contigo, provavelmente igualável a Cassiopeia.

Seria o espaço de meditação/reflexão de mulher formada, autónoma, emancipada, que nunca dependeu de ninguém, com as suas lutas pela liberdade.

Seria um espaço de relaxamento e lazer, apreciando as boas sensações da vida.

Seria também o espaço para desenvolver sentido critico sobre mim e o mundo acompanhada de granito e fenestrações brancas, associadas a melodias que branqueiam velhos dissabores.

Trouxe estas emoções comigo, memórias embrulhadas em alegria e coração cheio.

Voltarei.

in "Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado" Anabela Quelhas








1 comentário:

Anónimo disse...

<3