13 dezembro, 2023

Passage des Panoramas

 


O acaso nas deambulações por Paris

Passage des Panoramas (internet)

As passagens cobertas de Paris são conhecidas no mundo todo. Elas foram construídas entre o final do século XVIII e metade do XIX, e durante muito tempo serviram de ponto de encontro tanto da burguesia da cidade quanto dos artistas e até de prostitutas. Muitas dessas galerias não existem mais, mas várias resistiram ao tempo. Dentre elas, está a mais antiga, a Passage des Panoramas, aberta em 1800.

O nome deve-se a um tipo de divertimento muito na moda na época, chamado panorama. Em 1787, o pintor escocês John Barker cria uma espécie de afresco que cobre toda a parede de uma torre redonda. Geralmente, essas pinturas tinham como tema a vista de uma cidade, daí o nome panorama, e eram mostradas na penumbra.

Em 1799, o empresário americano William Thayer compra os direitos de utilizar esse tipo de atração na França. Assim, ele instala duas dessas torres no lugar em que ficava o antigo hotel Montmorency, também comprado por ele, perto dos Grands Boulevards – que, na época, nada mais eram do que alamedas de terra, arborizadas, construídas segundo o traçado da antiga muralha de Charles V.

Então, para criar um caminho entre essas duas torres, Thayer manda construir uma passagem. Ela deveria ser coberta, para abrigar os pedestres do mau tempo, e servir também de atalho para as pessoas que iam e vinham do Palais Royal, que fica ali perto. Assim, o americano acabava atraindo visitantes para ver seus panoramas.

O sucesso é imediato. Como a bolsa de Paris ficava ali perto, o bairro atraía muitos investidores, e muitos deles acabaram abrindo lojas de prestígio na galeria.

Em 1807, é o Théâtre de Variétés que se instala dentro da passagem. Isso aumenta ainda mais movimento da Panoramas, pois, o teatro passa a ser um dos mais importantes lugares de reuniões artísticas de Paris. Ele ocupa o local até hoje.

O prestígio da Panoramas é tão grande, que, em 1816-1817, ela é um dos primeiros lugares a receber iluminação a gás. E na obra Voyage Descriptif et Historique de Paris (Viagem Descritiva e Histórica de Paris), de 1825, o escritor Louis-Marie Prud’homme chamava o lugar de « Petit Palais Royal ».

Mesmo com a demolição das torres com os panoramas, em 1831, a passagem continua muito frequentada. Mas o prolongamento da rue Vivienne até o Boulevard Montmartre e a concorrência de novas passagens, construídas na época, como a Galerie Vivienne ou a Colbert, fazem com que a Panoramas tenha que ser renovada para enfrentar a concorrência.

Uma das medidas é a construção, em 1834, de galerias adjacentes à principal: as galeries des Variétés, de Saint-Marc, de Feydeau, de la Bourse e de Montmartre. Assim, a passagem ganha várias entradas, ligando-a à nova rua (Vivienne). Nessa época, as principais lojas que ficavam ali vendiam leques, enxovais, bolsas, papeis, brinquedos, entre outras coisas.

Havia uma mais famosa e luxuosa, chamada Susse, onde em 1840, o escritor Alexandre Dumas, o pai, comprou o quadro La tasse dans la Prision des Fous, de Eugène Delacroix, por 600 francos. Vinte e seis anos depois, ele o venderia por 15 mil.

A passagem des Panoramas continua por todo o século XIX e começo do XX muito apreciada pelos parisienses, atraindo um público de todo o tipo. Mas, em 1929, a construção de um imóvel residencial faz com que a entrada sul da passagem seja modificada. É dessa época a demolição da Galerie de la Bourse, um das galerias adjacentes de 1834.

Em 1974, a Passagem é inscrita na lista de Monumentos Históricos. Porém, ela está muito mal conservada, tendo sido desfigurada ao longo de algumas transformações e sufocada por construções vizinhas. Até que, em 1988, o sindicato dos co-proprietários resolve restaurar a Panoramas para lhe devolver o brilho e a glória de origem.

Novas lojas são instaladas e a passagem atrai novos públicos, incluindo os turistas. A parte principal é a mais animada. Cafés e restaurantes de todos os tipos – francês, creperia, indiano e até orgânico – dão vida ao lugar.

Hoje, a Passage des Panoramas é conhecida também por abrigar várias lojas de selos, cartões-postais e fotografias. Algumas partes estão precisando de restauro, mas, ainda assim, é um lugar bonito, charmoso e diferente. Quase uma viagem no tempo.









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