05 julho, 2023

Ser ou estar só



 

Ser ou estar só

 

Os adolescentes quando descobrem a solidão sentem-se infelizes. Talvez seja a hora de eles agirem, aproveitarem a criatividade que têm para ocupar a solidão e ultrapassar esse “desconforto”.

Mas todos nós somos sozinhos. Mesmo os mais acompanhados são sozinhos, ser sozinho é uma condição da nossa pele e da nossa cabeça e não é mau, nem há que o contrariar. Nascemos sozinhos e iremos morrer sozinhos.

Ser só exige estar em paz consigo mesmo, e em ligação constante com o seu interior, porém não significa que quem aprecia, seja anti-social. Pode-se ter amigos, criar uma vida social intensa e ser-se solitário.

 Ser solitário é um degrau acima da escada da vida. É necessário aprender como é bom um tempo só para si, e realizar tarefas sem estar na companhia de ninguém, onde cada um é a sua melhor companhia. Desta forma não há desconforto, nem medo, pois abre-se uma janela para o mundo das nossas emoções, para aquilo que conquistamos e nos dá prazer.

Com ou sem silêncio, esta forma de viver não resulta da perda de um familiar, ou é sinonimo de frustração porque acabou uma relação, nem sequer um ato de coragem, mas sim, cria um intervalo para que ocorra um crescimento pessoal e seja visível a criatividade que o habita e o qual desconhece, mas que pode começar a ter consciência onde tudo se inicia e renova. Pintores, bailarinos, compositores, arquitectos, escritores… quem é criativo conhece bem o valor de ser e estar só.

Esta opção de se ser solitário e introspectivo não deve ser associada à depressão e à tristeza, à loucura e a maus princípios. Não tem nada a ver. Requer um isolamento voluntário, saudável, enriquecedor, um grande equilíbrio psicológico, maturidade, autonomia e gostar de si mesmo. Não é egoísmo. É mesmo uma questão essencial para conseguir equilíbrio e conseguir analisar o nosso interior e o que nos rodeia. Ninguém pense que mergulhará num mundo vazio, de nadas, de ausências, de carências, porque é completamente o contrário.

Sobreviver no caos destes momentos que atualmente vivemos pode ser a saída de emergência, mesmo assim, pode ser angustiante, quando alguém tem dificuldade em se confrontar com o que é, com o que vive ou viveu…. Quando se é mal-humorado, neurótico, conflituoso e azedo é complicado viajar dentro de si e ter a certeza que afinal a culpa não é dos outros, mas sim do próprio. É mais fácil continuar azedo pela vida fora.    

O dilema do porco-espinho trata da diferença entre o ser e o estar sozinho. É preciso aprender a ser sozinho, não é para todos, porque ser, é libertador, enquanto estar é algo que pode ser contrariado, basta querer. Ninguém precisa de ter alguém que o complete, isso chama-se insegurança e falta de autonomia; é preciso que o próprio seja a sua melhor companhia, é buscar aquilo que lhe faz bem.

“É o medo da liberdade que nos torna infelizes” Jean Paul Sartre

Publicado em NVR 05|07|2023

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