19 julho, 2023

ANITA e o pé-culato


 Anita e o pé-culato

Ainda não percebi a que horas foi, dizem que foi de manhã cedo. Manhã cedo para mim pode ser 10h, hora em que as pestanas descolam, mas aqui para o meu vizinho, manhã cedo é às 6h30m, que se levanta sempre a essa hora, no silêncio da madrugada, clica nos interruptores abrindo caminho para o WC e sossega a bexiga. O interruptor clica, os chanatos arrastam-se, a porta bate, os líquidos ganham vida, o autoclismo descarrega e o senhor pigarreia.   

Então agora chegou a vez de fazer rolar a cabeça do RR?

Começam com suposições que depois se reverterão em suspeitas, possíveis crimes e em suspeita de pé-culato. Palavra forte que nem sei o que significa, se alguém me acusasse de pé-culato, acho que iria imediatamente ao podologista para ver se estaria tudo em ordem antes de me deitar a afogar. Entre joanetes, esporão do calcâneo, micoses e verrugas, venha lá o pé-culato.

Aquela conversa que todos são inocentes até que se prove o contrário, é uma grande treta, que nós, a partir de agora, fingiremos acreditar.

Nas buscas ao apartamento… terão ido pelas escadas ou pelo elevador? por onde terão começado? Claro que não pediram para entrar e apanharam o senhor de bóxeres ou cueca samba-canção e de havaianas (com o calor que está!!!), com o cabelo desgrenhado, ainda sem tomar um cimbalino matinal e com hálito indisfarçável de cama. Imagino que rapidamente acederam ao vestíbulo de entrada, que os portugueses gostam de chamar de “Ól” e pela lógica de distribuição dos espaços habitacionais, metade dos investigadores viraram à direita e colocaram-se estrategicamente na cozinha, despensa e na lavandaria e os restantes avançaram pelo corredor, distribuindo-se por tudo o que tinha porta. Isto sou eu a imaginar. Seria cena cinematográfica de pistola à frente e virar esquinas a 90 graus? “My name is Bond, James Bond”! Não se sabe. Pormenor desvalorizado pelos jornalistas e segredo bem guardado pela investigação. Cheirava a cebola, devido ao estrugido confeccionado ao jantar, disse o vizinho do andar de cima, que partilha a conduta de evacuação de gases.

O que se passa com Portugal? Penso que andam aqui águas profundas revoltas em conluio não sei com quem, tendo como objectivo denegrir algumas personalidades públicas e agora vale tudo até o homem das contas certas. Isto é desespero! Parece que existe aqui uma negra conspiração contra a democracia para fazer crer que o coiso do mundo político está um caos, e o melhor é vir uma ditadura para por tudo no lugar; as pessoas sérias da democracia e com posses é melhor fazerem as malas e partir para um destino onde ninguém os chateie, e os restantes que se calem e também não desenhem, porque vivemos tempos de liberdade condicionada, que me fazem questionar: Onde já vivi isto? Na Disney? Os investigadores vestem de preto e usam chapéu? Também ninguém informou.

Eu, Anita, que não sei ler nas linhas, nem nas entre-linhas das linhas vermelhas do Direito, e muito menos nas linhas invisíveis e tortas da Política, parece-me muito estranho. Isto tem um calendário estratégico. Parece ser um escândalo que cai como sopa no mel para desviar atenções dos alvos certos. Eu quando quero que alguém entre aqui em casa, tenho que distrair o meu Bobyrotivailer, com um bife na marquise e depois de repente, fecho a porta e ele fica lá agradecido pelo petisco. Como é possível baterem à porta do homem às 7 da manhã, agora dizem que foi às 7, com toda a estrutura mediática pré-avisada e a postos? Que estranho! Ainda tiveram que pagar 1 ou 2 horas extraordinárias a muita gente. Ou já não se pagam horas extraordinárias, fica tudo incluído no pacote dos setecentos?

Voltando ao apartamento, enquanto o homem alvo veio até a varanda falar com os jornalistas que o interrogavam da rua, os investigadores deveriam estar a escarafunchar tudo, com lupas gigantescas, começando pelos objectos mais estranhos, que os mais novos nem sabem o que são. Certamente recolheram uma enceradora de chão, uma cafeteira expresso, um descascador de alho, mais a antiga máquina de picar carne. Os outros, que andavam na parte restante do apartamento certamente tentavam identificar uma velha máquina de escrever e o seu funcionamento, uma cassete de fita onde haveria uma gravação dum baterista dos anos setenta, um tinteiro da escola primária, e certamente alguns carimbos com lacre, desconfiando que ali estaria o segredo das senhas e passwords, para depois se virarem para a parte digital.

O Zé Albino certamente miou e arranhou o investigador que o obrigou a sair do meio dos cobertores, tão cedo, desconfiado com tamanha barafunda àquela hora da manhã, e saltou rapidamente para um sítio mais seguro, aquele sítio, “Cuidado, aqui não mexes”, a cristaleira lá de casa, arqueando o corpo, pronto para o ataque. Não seria mais fácil avisar e marcar hora?

Quem será a próxima vítima? Sim, porque é preciso showroom, para ganhar audiências e outras coisas mais que andam a esganar a política e o país, ou o país e a política, a ordem não é indiferente.

- Já chegou o carro celular? - perguntava RR da varanda para montes de jornalistas à espera de sangue, localizados no exterior do edifício. Gostariam mesmo de chicote e algemas, que afinal não constaram da representação. Que banhada deu RR a todos! (aplauso)

Aguardem, baralham-se os dados e voltam-se a lançar daqui a uns dias. Muitos, já de tão baralhados que estão, não reconhecem o trigo e o joio. E é isso que se pretende. Baralhanço dos valores democráticos.

Qual será o próximo aparato? Ainda bem que guardo todas as facturas desde 1981!

- Posso deitar fora os meus dossiês de contabilidade? já vou na 44ª pasta! - pergunto ao meu contabilista.

- É melhor guardar, é melhor guardar, nunca se sabe.

- O quê? não poderei guardar apenas a papelada de há 10 anos a esta parte?

- É sempre uma segurança…. Os IVAs, o IRS, a Segurança Social…

- E 15 anos? Insisto eu para ver se desocupo dois armários cheios de dossiês e traças, que se escondem numa união de facto reprodutiva, entre despesas e receitas, recibos, facturas, comprovativos disto e daquilo ainda escritos à mão, cópias de cópias de segurança, onde vejo por vezes as margens de alguns papéis azuis, chamados, “papel selado”, com requerimentos e selos fiscais lambidos e colados, traçados com a minha assinatura analógica escarranchada de há muitos anos.

- Se puder é melhor não. 

- E as disquetes? Tenho um computador enorme, que não utilizo, que lê disquetes, não posso despachá-los?

- E depois como lê as disquetes, se for necessário?

- Então agora as Finanças não têm tudo digitalizado, com programas informáticos que articulam tudo?

- Sim, mas se o servidor falhar e a nuvem se transformar num ligeiro chuvisco, a sra será obrigada a mostrar comprovativos.

Nem sei porque estou a escrever isto, vou mazé escrever sobre os 3 pastorinhos... ou melhor, Nossa Senhora de Fátima, talvez seja menos perigoso.

- O rei vai nu! O rei vai nu! O rei vai nu!

E parece que vai mesmo, e nós andamos nesta cegueira colectiva, talvez RR accione a racionalidade e a clarividência nacionais!

Por aqui, apareçam só depois das 10h, porque as pestanas não descolam antes dessa hora, e em vez dos jornalistas, avisem alguém da minha família, para me dar tempo de trancar o Bobyrotivailer na marquise e então irei à varanda, que não tenho, de chanatos de pé-culato, gritando:

- Quero deitar-me a afogar!

Ass: Anita (quando já não há pachorra, faço de tarefeira).

Publicado em NVR 19/07/2023

5 comentários:

Ana André disse...

Este texto é do melhor! Ironia e crítica política ao mais alto nível! 👏👏👏👏

Anónimo disse...

Eh pá ainda estou a rir, Mas o assunto é super sério. Amo a Anita.
Carlos

Anónimo disse...

Ana
a tua escrita
com o bailar das palavras
é simplesmente
absorvente
sério e hilariante
abraço

anabelaquelhas disse...

Grata, anónimos. Espero não vos decepcionar.
Abraço

anabelaquelhas disse...

Ana André, a Anita agradece. Beijinho