30 novembro, 2022

A ESCRAVATURA

 A escravatura


A origem da escravatura perde-se na história, não dignificando o ser humano.

Inicialmente era um processo exploratório entre vencedores e vencidos num conflito ou numa guerra. Quem perdia, morria ou tinha o caminho da escravidão para percorrer, sem qualquer direito humanista. Sempre foi assim, as grandes civilizações egípcias, gregas, romanas e até maias, foram alicerçadas nesta postura humilhante e desumana. À luz do pensamento daquelas épocas, escravos, mulheres e estrangeiros não eram considerados cidadãos, aceitava-se bem esse estatuto sobre os seus semelhantes, que afinal não o eram. Eram seres menores sem direitos, cujos senhores ainda “faziam o favor” de os escravizar.

A escravatura teve muitas facetas, sempre sombrias e degradantes, ao longo da História, decorreram séculos de sofrimento e humilhação, até o Homem livre sentir vergonha e desconforto com isso. Logicamente que a escravidão sempre se cruzou com a área financeira das diversas sociedades, edificando grilhões, quase indestrutíveis, boicotando revoltas, criando matanças e organizando a caça aos que ousavam fugir. Os escravos nunca foram exterminados apenas porque eram a base de trabalho de todas as sociedades. Registe-se a Mauritânia só aboliu a escravatura em 1981.

Hoje a escravatura assume uma outra faceta, da invisibilidade perante a lei. A lei contra a escravatura, existe, e a escravatura existe também em simultâneo, aqui na Europa e no mundo, mais ou menos disfarçada, mas criando as mesmas consequências indignas e nada nobres, que mancham as sociedades contemporâneas. Trabalho forçado, servidão por dívida, casamento forçado, tráfico de seres humanos, são palavras semeadas nesse caminho, agora do século XXI, caminho alcatroado, com comunicações digitais, sem correntes e bolas de ferro agrilhoadas aos pés, como se vê nos filmes, mas revestido de dinheiro e documentação para legalizar pessoas, para poderem lutar pelos seus direitos. Cada escravo tem uma história feita de drama, de violência, carência, tentativa de fuga à pobreza e aliciamento para uma vida melhor. Depois é a escravatura, cada um afunda-se na condição de eterno devedor ao patrão, onde pode deparar com trabalho forçado, chantagem, agressão física, horas excessivas de trabalho sem descanso, alojamento precário, má alimentação e falta de assistência médica,

Dizem que o caminho se inicia em Martim Moniz, em Lisboa e ruma ao Alentejo centrando-se em complexos de agricultura intensiva. Os escravos mais recentes, são timorenses,… aquele povo que lutou contra a Indonésia e emocionou o mundo .

Investiguei para ver quantos escravos há em Portugal. Em 2019 havia 26 mil escravos (não encontrei dados actuais).

Este ciclo somente pode ser encerrado com a denúncia e a fiscalização.

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Nota: O futebol é um grande negócio, que até deforma consciências. E não são só os nossos governantes… as televisões também estão lá, poderiam boicotar, mas não. O mundo do dinheiro quer lá saber dos direitos humanos! e os portugueses tão críticos e tão melindrados estão todos a ver o campeonato. Grande hipocrisia!

PUBLICADO em NVR 30/11/2022