São seis da tarde o trânsito de Natal já se faz notar. A luz
natural já não dá para ler. A noite tropical aparece na abóbada celeste, e eu
na minha varanda vejo as luzinhas dos barcos ao largo do porto de Luanda.
Chega uma carta de terra fria já a desejar felicidades para
o Natal. Ainda faltam 4 dias, de concurso de montras, ruas cheias de luz e as
montras vestidas para o concurso da melhor montra deste Natal.
A mãe lembra o frio e a neve, a lareira, mas eu prefiro
mesmo este calor húmido que respiro e me cobre a pele, e o som de fundo, som
urbano feito de muitas pessoas atarefadas a regressar a casa a pé e de carro.
Estou de férias, arrumo livros e cadernos na estante, e retiro todos os
“Patinhas” que tenho em atraso, para aproveitar todo o tempo livre das férias e
ler. Sim as férias também tem tempo ocupado e tempo livre.
Ué, se é o melhor da nossa vida!!!
Tempo ocupado na praia, na discoteca bonzão, na matiné do
Estúdio, na Dama preta pedido na gelataria, e até no jogo do King com os
amigos, para além da pequena farra de garagem, a dançar sheik e slows do Percy Sledge.
Essas são tarefas sagradas e inventado pretexto quase todos os dias. Haja
imaginação! às vezes já não sobra nada para inventar, mas sempre tem algo no
fundo da arrecadação da imaginação, motivo para comemorar sem os pais nos
xingarem. São muitas cabeças a pensar. São os aniversários festejados 3 vezes
por ano, é o Nando que vai amanhã para o Huambo, é a Isabel sanguita que pintou
a garagem, é o Tó Mané que tirou o gesso do braço, é o Lito que comprou mota
nova, é que sobra rissóis e croquetes do almoço e dá para fazer uma pequena
farra em vez do Jantar…
Nos intervalos surge o tempo livre, que tento que seja
sempre reduzido, mas sempre dá para ler banda desenhada, as revistas que chegam
lá a casa, saborear as castanhas de caju assadas, jogar as damas sem
adversário, andar de patins e correr pelo mangal atrás das mangas madurinhas, e
agora olhar as luzes coloridas do Natal.
Entre o tempo ocupado e o tempo livre, sobra a saudade no
futuro.
"Ensaios de
escrita, um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas
Sem comentários:
Enviar um comentário