03 dezembro, 2025

A CRUELDADE DO SER HUMANO

 

A CRUELDADE DO SER HUMANO

A maioria dos policias não são violentos, nem perigosos, não são racistas, mas os que são, devem ser severamente castigados. O discurso de ódio contra os imigrantes favorece a motivação para o mal e a banalização do mesmo, favorecendo situações dúbias para a dignidade humana.

Sinto uma profunda indignação perante os actos de exploração e escravatura, neste caso dos imigrantes, um sentimento partilhado por muitos, face à gravidade dos acontecimentos ocorridos aqui em Portugal. A situação expõe uma "crueldade do ser humano", que choca a consciência pública. E quem são os autores? Portugueses, nascidos e criados aqui.

A discussão pública e as reportagens de investigação têm precisamente como objectivo impedir o branqueamento destas situações, atirando luz sobre as falhas e os crimes cometidos, inclusive por elementos das forças de segurança, que deveriam proteger os cidadãos.

A banalização do Mal, a passividade ou a normalização de condições de vida desumanas e de exploração em herdades e comunidades rurais (como no Alentejo e Setúbal) é um aspeto vergonhoso que tem sido sublinhado pelos comentadores e jornalistas que acompanham o caso. Como é possível ninguém se ter apercebido de nada? Como? Desta vez, foram os imigrantes, amanhã serão os nossos vizinhos, depois os nossos amigos e família e, finalmente, seremos nós. Que vergonha!

Os detalhes são escabrosos e sempre têm pontos semelhantes, a outras situações, que ocorrem noutros lugares, até noutros tempos.

Retirar documentos de pessoas frágeis, em território estranho, impor o medo e a dependência extrema, fazem parte da velha técnica. A vulnerabilidade destas pessoas torna-as alvos fáceis para redes criminosas, permaneçam legal ou ilegalmente no território.

A Justiça tem agora a responsabilidade de aplicar castigos severos e rápidos, que sirvam de exemplo para não se repetirem. Receio que tudo seja esquecido daqui a umas semanas.

Estes casos trágicos servem como um alerta para a sociedade portuguesa sobre a necessidade de vigilância constante, solidariedade e de políticas eficazes que garantam a integração e a protecção de todos os residentes no país, independentemente da sua origem.

Parece que os proprietários das herdades não são os arguidos principais nos processos de tráfico humano, embora a situação varie. O esquema frequentemente envolve empresas de subcontratação ou angariadores de mão-de-obra que servem de intermediários. Estes gerem diretamente os trabalhadores, ficando responsáveis pelo seu alojamento (muitas vezes em condições degradantes), transporte e pagamento.

Até que ponto os proprietários das terras, que contratam os serviços destas empresas intermediárias, podem não ter responsabilidades? Então nem sequer têm curiosidade de falar com os trabalhadores para ver se tudo corre bem, se lhe pagam e principalmente o que fazem agentes da GNR dentro da sua propriedade? Isto será uma negligência conveniente da parte de quem tem grande interesse económico nos seus bens? Como se costuma dizer, parece-me que a procissão ainda vai no adro.

Não sei quantas horas trabalham, o testemunho de uma trabalhadora (pareceu-me ser mulher, não consegui ver de novo) dizia até um pouco conformada, que recebia 80 euros por mês, mas que vivia num alojamento com água e luz, como se isso fosse algo a valorizar nesta barbárie.

Em pleno século XXI, estou triste.

Publicado em NVR 03|12|2025

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