Parque de estacionamento localizado junto ao Antigo Seminário.
A arquitectura é uma arte
que deve expressar a cultura e conhecimento da época em que é construída.
No tecido urbano
histórico ou antigo, em alguns casos, poucos, faz sentido intervir arquitectónicamente
por semelhança, utilizando a colagem ou o “pastiche” - obra que imita ou se
inspira em estilos, formas e elementos de épocas anteriores, criando algo novo,
mas com fortes referências ao passado.
Devemos considerar que
também existe a integração por ruptura – a obra nova não tenta imitar ou
mimetizar o contexto existente, mas afirma-se como uma peça distinta e
contrastante, criando um diálogo visual através do contraste, não da harmonia
superficial, unindo elementos de diferentes épocas ou estilos, mas deixando
claro que são entidades separadas e contemporâneas.
Em todas as cidades, o
ideal é que estas fossem pensadas com critério e lógica realistas, para que os
parques de estacionamento, fossem invisíveis, pois são parentes pobres da forma
e função das cidades antigas, mas de grande utilidade. Desperdiçou-se a
oportunidade de ampliar o parque subterrâneo da Av. Carvalho Araújo, receia-se
a construção de um parque subterrâneo ao longo da avenida 1.º de Maio, e por
fim aparece este parque que constitui uma intervenção difícil e muito susceptível
à critica. Do lado esquerdo existe o Antigo Seminário e do outro um edifício
vulgar da “arquitectura a metro” dos anos 60/70, que naquela época, e
infelizmente parece ter sido aceite pacificamente, apesar de ter em frente duas
peças arquitectónicas do Estado Novo, belíssimas.
O Antigo Seminário com
menos de 100 anos, segue um desenho clássico aplicado a grandes edifícios,
utilizando um grande pátio interior, para organização da planta, assume
timidamente alguns apontamentos de neogótico nos seus alçados, nunca
ultrapassando o limite da sobriedade, talvez se identifique nas franjas do
Ecleticismo. Nessa época o movimento da arquitectura moderna já começava a ter
expressão no Mundo e até já tinha ocorrido o primeiro CIAM (Congresso
Internacional da Arquitectura Moderna 1928), mas ainda não se praticava em Vila
Real.
O autor do projecto do
estacionamento, optou por utilizar uma linguagem contemporânea, não ofuscando o
edifício do Antigo Seminário, através de uma volumetria cubista básica, que faz
a transição entre as construções adjacentes, assumindo uma integração por
ruptura, e bem, sem fazer grande espalhafato, mas assumindo a diferença de uma
forma quanto a mim, bastante tímida e cautelosa. Teve ainda a preocupação de
criar alçados onde predomina uma certa “transparência”, tentanto não subtrair
importância ao edifício do lado esquerdo e à sua História.
Quando a arquitectura
se assume em ruptura, deveria valer, por si só, como obra de arte de referência
no mundo da arquitectura, ousada e original, capaz de criar o desejo de ser
vista e revisitada.
Neste caso,
infelizmente, nunca ninguém virá a Vila Real de propósito para ver o edifício
de estacionamento, porque não se distinguem elementos capazes e mobilizadores.
Nem a ideia dos alçados, que referi, criarem transparências, é inovadora (existe
em várias cidades). Num primeiro olhar, esta intervenção nem é excelente, nem é
fraquinha – talvez possua encantos escondidos. Não me indigna, nem me encanta,
eu teria sido mais ousada e irreverente, para provocar “o ver de novo”, o amor
ou o ódio, e nunca a indiferença, e certamente aproveitaria a cobertura,
abrindo-a aos utentes.
A História da
Arquitectura é este o caminho que nos indica. Vejam as grandes catedrais que
unem vários estilos no mesmo edifício. Queriam o quê? Um parque de
estacionamento com “cara” de Seminário, ou com um “lifting” que o aproximasse
do modesto Hotel Miraneve?
Publicado em NVR 17|12|2025

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